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Mãe de brasileira presa na Tailândia morre e advogada não consegue avisá-la

Mary Hellen (esq) nutria o sonho de custear o tratamento da mãe (dir), Thelma, segundo familiares - Reprodução
Mary Hellen (esq) nutria o sonho de custear o tratamento da mãe (dir), Thelma, segundo familiares Imagem: Reprodução

Henrique Sales Barros

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/04/2022 15h11

Thelma Coelho, mãe de Mary Hellen Coelho Silva, 22, brasileira presa na Tailândia desde 14 de fevereiro, morreu na manhã de ontem em decorrência de um câncer no útero. A filha, porém, ainda não tomou conhecimento sobre o ocorrido, segundo a defesa da jovem, por dificuldades em fazer contato com a cliente no país asiático.

"A pedido da família, queríamos que a irmã (Mariana Coelho, de 27) fizesse o contato e contasse para ela sobre a mãe, para já poder consolar e tranquilizar a Mary Kelly", disse Kaelly Cavoli Moreira, advogada criminalista que integra a defesa da jovem no Brasil, ao UOL.

Mary Hellen e outros dois homens — também brasileiros — foram flagrados no aeroporto de Bangkok, capital da Tailândia, transportando 15,5 kg de cocaína em três malas, uma carga avaliada em cerca de R$ 7 milhões pelas autoridades.

A defesa da jovem está buscando contatar o Itamaraty e a Embaixada em Bangkok, para que eles ajudem a família a falar com Mary Hellen e a comunicá-la sobre a morte da mãe. Porém, segundo Cavoli, o Ministério das Relações Exteriores ainda não deu respostas aos pedidos.

Sem retorno do Itamaraty e da representação brasileira, a defesa também tem buscado contatar o presídio de Samut Prakan, ao sul de Bangkok, onde Mary Hellen está, também sem sucesso.

"Acredito que, até em razão do fuso horário, é difícil encontrarmos horários (para nos comunicarmos)", afirmou a advogada, dizendo já ter tentado diversas vezes ligar de madrugada (no horário de Brasília).

Thelma Coelho foi velada e enterrada ontem pela tarde, em um cemitério no município de Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais, onde ela, Mary Hellen e Mariana viviam.

Mary Hellen é quem cuidava da mãe

Segundo Kaelly Cavoliri, era Mary Hellen quem vinha acompanhando de perto o estado de saúde de Thelma Coelho, que lidava contra o câncer no útero havia três anos.

O sonho de Mary Hellen, segundo os familiares da jovem, era abrir uma loja de doces e bolos em Pouso Alegre como forma de ganhar dinheiro para custear o tratamento contra a câncer que a mãe enfrentava, que já tinha evoluído para a fase terminal quando ela foi presa na Tailândia.

"Desde o diagnóstico de câncer da mãe, ela vinha sofrendo bastante", disse Mariana, uma semana após a prisão da irmã, ao UOL. Segundo ela, a mãe foi internada após saber sobre a prisão da filha.

As duas irmãs moravam juntas em Pouso Alegre. Mary Hellen trabalhava numa churrascaria local, mas pediu demissão dias antes de embarcar para Bangkok, partindo de Curitiba. Ela também tinha voltado a estudar, estando cursando o primeiro ano do ensino médio.

"Ela tinha parado de estudar para trabalhar e conquistar as coisinhas dela. Agora, tinha retornado. Ela não é nenhuma criminosa", afirmou Mariana, destacando que a irmã não teve passagens pela polícia antes do episódio em solo tailandês.

Na semana passada, Mary Hellen conseguiu enviar, em inglês, uma carta para a família. Na mensagem, revelada pela revista Veja, ela dizia estar com dificuldades para dormir, agradeceu o apoio que vinha recebendo e falou que estava com saudades da comida brasileira.

Pleito é para que Mary Hellen volte

No momento, a defesa da brasileira está aguardando a Justiça tailandesa agendar uma audiência com a jovem. "As partes não foram ouvidas ainda: nem Mary Hellen, nem os demais", afirmou a advogada.

Segundo ela, o trabalho que está sendo feito é para que, caso ocorra uma condenação, a jovem possa cumprir a prisão no Brasil. "Precisarmos de uma situação de perdão real e de deportação", disse ela.

"O devido processo legal ocorre diferente na Tailândia [em relação ao Brasil], mas ele ocorre", acrescentou a defesa, que se diz comprometida a respeitar as leis do país asiático.

A família de Mary Hellen tem confiado que a brasileira não vai ser condenada à pena de morte, punição esta que pode ser aplicada para casos envolvendo tráfico de drogas na Tailândia.

"Na Tailândia, não se aplica esse tipo de punição no tipo de droga que ela estava levando, que possivelmente era cocaína", disse em fevereiro ao UOL o advogado Telêmaco Marrace, outro criminalista contratado para defender a jovem.

"A última legislação do país diz claramente que apenas o tráfico de heroína gera essa condenação" afirmou na época, acreditando que a jovem foi usada como "mula" e não tinha conhecimento do que carregava na bagagem.

"É muito comum emissores de traficantes atuarem em baladas e redes sociais aliciando mulheres em situação de vulnerabilidade financeira ou emocional", disse.

O UOL entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores e com a Embaixada do Brasil em Bangkok para saber como andam as comunicações com a família e a defesa da jovem brasileira presa no exterior. Até o momento, não houve retorno de nenhuma das partes.