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Qual o poder do míssil hipersônico da Rússia, capaz de cruzar continentes?

Do UOL, em São Paulo

20/04/2022 15h56

O Exército russo anunciou nesta quarta-feira (20) que realizou com sucesso o primeiro teste do míssil balístico intercontinental Sarmat. Trata-se de uma arma de quinta geração com muito alcance, capaz de atravessar continentes inteiros e atingir um alvo em quase qualquer lugar do mundo, sem que possa ser detida por qualquer escudo antimíssil existentes.

Também conhecido como Satan 2, ele faz parte de um trio de outros mísseis hipersônicos apresentados como "invencíveis" por Putin em 2018. Além dele, a Rússia possui o Avangard e o Kinjal —que, segundo Moscou, foi usado em março pela primeira vez para destruir um depósito de armas subterrâneo na Ucrânia.

Esse tipo de dispositivo ar-terra supera a velocidade do som, enquanto faz manobras verticais e horizontais.

Avangard - Getty Images - Getty Images
Vídeo do Ministério da Defesa russo mostra o Avangard em uma simulação de computador
Imagem: Getty Images

O Avangard, por exemplo, foi equipado com uma ogiva planadora capaz de furar o escudo antimísseis dos Estados Unidos. Ele é capaz de aguentar temperaturas de até 2.000ºC e seu poder nuclear é de até 2 megatons — a bomba de Hiroshima era mais de 100 vezes mais fraca, tendo cerca de 15 kilotons.

Num teste, a arma alcançou uma velocidade de 32.202 km/h —26 vezes a velocidade do som.

Já o novo míssil, que chega para substituir o Satan 1, dos anos 1970, pesa mais de 200 toneladas e pode levar de 10 a 15 ogivas nucleares.

É superpoderoso também por ter um sistema autônomo de navegação, que permite um voo de 18 mil quilômetros. Seu antecessor Voevoda tinha de 11.000 km de alcance.

Segundo Putin, o Sarmat foi feito apenas com componentes de produção russa e não tem "praticamente nenhum limite de alcance", sendo capaz de "chegar a seus alvos através dos polos norte e sul".

Para se ter uma ideia, a distância do polo Norte para o polo Sul é de cerca de 20 mil quilômetros.

kinzha - AFP - AFP
Caça russo MiG-31, com o míssil hipersônico Kinzha
Imagem: AFP

Alerta para o mundo

Segundo Putin, a nova arma serve de alerta aos inimigos do país por ser capaz de "derrotar todos os sistemas antiaéreos modernos".

"Trata-se de uma arma única, que reforçará o potencial militar das nossas Forças Armadas, vai garantir a segurança da Rússia contra as ameaças externas e vai fazer aqueles que ameaçam nosso país com uma retórica desenfreada e agressiva pensarem duas vezes", falou.

No teste, o míssil foi lançado do centro de Plesetsk, na região de Arcangel (noroeste russo), e atingiu o polígono de Kura, na península russa de Kamchatka, no extremo leste, a mais de 5.000 quilômetros de distância.

O governo dos Estados Unidos declarou que o teste não foi considerado uma ameaça, porque Moscou "notificou devidamente" a Washington sobre o lançamento em virtude das obrigações impostas pelo tratado nuclear. "Não foi uma surpresa", disse o porta-voz norte-americano John Kirby.

O Sarmat está em desenvolvimento há anos com conhecimento de outros países, mas o lançamento ocorre em um momento de extrema tensão geopolítica devido à guerra da Rússia na Ucrânia.

Putin apresentou esta arma em março de 2018, durante um discurso sobre o Estado da Nação, o que muitos analistas políticos interpretaram como o início de uma nova corrida armamentista.

Na ocasião, ele comparou os novos mísseis ao lançamento do satélite Sputinik em 1957, que permitiu que os soviéticos dessem um passo à frente dos americanos na corrida espacial.

"Insisto, nenhum país no mundo tem, hoje, as armas que nós temos. Fim da entrevista", disse Putin. "O sistema antimísseis americano será inútil e não terá nenhum sentido."

E reforçou: "Antes que tivéssemos os novos sistemas de armamento, ninguém nos escutava. Escutai-nos agora!"

Putin também revelou que o Exército russo já dispõe desde o passado ano de "complexas com armas laser" e "armas hipersônicas", e citou os novos mísseis de cruzeiro que tem um alcance ilimitado.

"Não mostrei todas as armas que temos. Por hoje, é suficiente. Acredito que tudo o que foi dito na minha mensagem sirva para acalmar qualquer agressor potencial", comentou no evento de apresentação.

Outros sistemas em desenvolvimento incluem um drone submarino movido a energia nuclear, mísseis hipersônicos para caças russos e um misterioso "laser de combate".

Além dos russos, chineses trabalham com armas hipersônicas, ainda que não tão rápidas. Os Estados Unidos, por sua vez, também desenvolvem armas do tipo, mas estão mais atrasados. (Com agências internacionais)