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Quem é o líder checheno que exibiu bandeira de brasileiro morto na Ucrânia

Vídeo atribuído a um combatente checheno, aliado da Rússia, exibe bandeira que pertencia a André Hack, primeiro brasileiro morto aliado das tropas ucranianas na guerra - Reprodução da internet
Vídeo atribuído a um combatente checheno, aliado da Rússia, exibe bandeira que pertencia a André Hack, primeiro brasileiro morto aliado das tropas ucranianas na guerra Imagem: Reprodução da internet

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

05/07/2022 16h24

O combatente aliado das tropas russas em um vídeo exibindo a bandeira do Brasil que pertencia ao combatente André Hack Bahi, o primeiro brasileiro aliado dos ucranianos morto na guerra, foi identificado como Apti Alaudinov. apontado como o comandante de uma tropa chechena com até 20 mil combatentes, apontam especialistas ouvidos pelo UOL.

Ele foi indicado pelo próprio Razman Kadyrov, ex-líder separatista que se aliou aos russos e virou presidente da República Autônoma da Chechênia. Kadyrov, inclusive, não repassa as informações sobre as tropas à guarda nacional russa, já que mantém contato direto com o presidente russo Vladimir Putin.

A bandeira é a mesma exibida por André com outros combatentes brasileiros em foto que viralizou há quatro meses, quando surgiram as imagens dos primeiros combatentes brasileiros no campo de batalha.

O geógrafo e cientista político Tito Barcellos, que participa de grupos de estudos sobre a atuação das forças armadas no mundo, cita a autonomia das tropas chechenas na guerra da Ucrânia. "O Kadyrov está à frente de todo o aparato de segurança checheno no conflito. E esse aparato é comandado por Apti Alaudinov [o comandante que aparece no vídeo]".

O líder checheno é filho do ex-separatista Akhmat Kadyrov, que se aliou aos russos no início da Segunda Guerra na Chechênia, em 1999. Com o assassinato de Akhmat em maio de 2004, o seu filho assumiu o poder. "Com a morte dele, o filho herda toda a estrutura de poder checheno", observa o cientista político.

Letícia Oliveira, pesquisadora e jornalista que investiga grupos armados na região do Donbass desde 2014, diz que as tropas chechenas são identificadas no campo de batalha pela violência extrema nas suas ações.

"As tropas chechenas são muito temidas. E conhecidas na própria Rússia pela crueldade para executar os soldados inimigos. Desde o começo da guerra na Ucrânia, os chechenos foram mobilizados para participar dos conflitos. Essas tropas fazem parte da guarda nacional russa, mas respondem diretamente ao Putin", explica.

Em um vídeo do comandante das tropas chechenas publicado no Twitter, é possível ver a assinatura de André Hack e de outros voluntários do seu pelotão. Após falar sobre a realidade da guerra, o líder checheno mostra a bandeira.

"Pegamos de uma legião estrangeira que destruímos. Todos os participantes dessa legião assinaram o nome na bandeira. Alguns foram eliminados. Outros fugiram. Ainda sobraram alguns, mas eles não estão inspirados em continuar lutando", disse, em tradução legendada para o português no próprio vídeo.

'Desrespeito', diz pai de combatente morto

Letícia Oliveira confirmou a veracidade da tradução. "O vídeo é real mesmo. Foi gravado pelo comandante das forças especiais chechenas. É propaganda. Estão fazendo isso para dizer que o moral das tropas ucranianas está baixa", afirmou.

O tenente Sandro Carvalho da Silva, brasileiro que comanda o pelotão onde estava André, confirmou que a bandeira era mesmo do combatente morto. "Quando foi alvejado, ele deixou cair a mochila dele [onde estava a bandeira]. O pessoal inclusive tinha assinado. Eu reconheço aquela bandeira", disse à reportagem.

A imagem revoltou a família de André. "Isso é um desrespeito. O André morreu e deu a vida pelos colegas dele. Foi um herói de guerra", disse Mozart Pinto Bahi, 78, pai do primeiro brasileiro morto na guerra da Ucrânia.

Morto em 5 de junho, o corpo de André Hack foi cremado no último sábado (2) na Ucrânia. As cinzas serão levadas para o Ceará, onde ele morava com a esposa e a filha de apenas 2 anos.

Aliados das tropas ucranianas na guerra contra a Rússia, os combatentes brasileiros Thalita e Douglas Búrigo morreram ao serem atingidos por mísseis no conflito - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Aliados das tropas ucranianas na guerra contra a Rússia, os combatentes brasileiros Thalita e Douglas Búrigo morreram ao serem atingidos por mísseis no conflito
Imagem: Arquivo pessoal

Brasileiros do mesmo pelotão de André morreram em bombardeio

Com as mortes de Douglas Búrigo e Thalita do Valle, aliados das tropas ucranianas mortos em combate na tarde da última quinta-feira (30) na cidade de Kharkiv, já são três brasileiros mortos na guerra da Ucrânia.

A combatente brasileira Thalita do Valle, que se alistou junto às tropas ucranianas, morreu na guerra contra a Rússia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
A combatente brasileira Thalita do Valle, que se alistou junto às tropas ucranianas, morreu na guerra contra a Rússia
Imagem: Arquivo pessoal

Mísseis russos atingiram o alojamento onde Douglas e Thalita estavam, segundo relato dado pelo comando do pelotão às famílias deles horas após a batalha.

Procurado pelo UOL, o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) não se manifestou sobre o relato das mortes de Douglas e Thalita. O órgão levou quatro dias para confirmar a morte de André.

As famílias de Douglas e Thalita informaram à reportagem que já foram procuradas pelo órgão. Douglas e Thalita integravam o mesmo pelotão de André Hack.

Thalita do Valle, 39, era atriz, modelo e atiradora de elite. Ela já tinha experiência em conflitos anteriores. Socorrista e com cursos de tiro no Brasil, participou de uma missão contra o Estado Islâmico no Iraque, Curdistão iraquiano e Curdistão Sírio há três anos, conforme registros em seu canal no YouTube.

Aliado das tropas ucranianas, o brasileiro Douglas Búrigo, 40, morreu ao ser atingido por mísseis russos durante a guerra da Ucrânia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Aliado das tropas ucranianas, o brasileiro Douglas Búrigo, 40, morreu ao ser atingido por mísseis russos durante a guerra da Ucrânia
Imagem: Arquivo pessoal

Ex-militar do Exército brasileiro, Búrigo estava em território ucraniano há apenas um mês. Ele deixou o Brasil ao embarcar em um voo no aeroporto internacional de Guarulhos (SP) na madrugada de 24 de maio. No dia seguinte, pisou pela primeira vez no país invadido.

Depois de permanecer um período em treinamento, Búrigo foi para o "front" de batalha. Pai de uma jovem de 15 anos, Búrigo era dono de uma borracharia e morava na casa dos pais em São José dos Ausentes, interior do Rio Grande do Sul.