Itamaraty confirma morte de combatente brasileiro em guerra da Ucrânia
O Itamaraty confirmou hoje de manhã a morte do combatente brasileiro André Hack Bahi, 43, que atuava entre os aliados das tropas ucranianas na guerra contra a Rússia. André foi baleado em confronto no último domingo em Sieverodonetsk, principal campo de batalha no leste do país.
Letícia Hack Bahi, irmã de André, encaminhou ao UOL um áudio, enviado hoje de manhã, atribuído ao comandante da unidade do brasileiro. Segundo ele, André morreu ao ser atingido por tiros dados pelas tropas russas. Foi a primeira morte de um brasileiro na guerra da Ucrânia.
Após morrer ao ser atingido por disparos, o corpo de André foi arrastado por um colega para que fosse retirado da zona de conflito e está em um necrotério na região, segundo a mensagem atribuída ao comandante da unidade.
"A notícia que eu tenho é oficial. Nós todos estamos bem sentidos. Já nos reunimos, já choramos, já nos abraçamos. Eu falei com gente que estava diretamente com ele no momento que aconteceu. Não foi só ele, teve outros alvejados", disse no áudio o homem que se identificou como comandante da unidade de André.
"[Eu falei com o] rapaz que puxou ele para um ponto de evacuação, já falecido. A notícia que a gente tem é que o corpo está no necrotério pela região. Todas as minhas condolências para a família. Nós estamos abalados, porque a situação foi muito trágica", completou.
Outros quatro integrantes do mesmo batalhão confirmaram a morte e se despediram de André em seus perfis nas redes sociais.
Em nota, o Itamaraty confirmou a morte. "O Ministério das Relações Exteriores recebeu, por meio da Embaixada do Brasil em Kiev, confirmação do falecimento de nacional brasileiro em território ucraniano em decorrência do conflito naquele país e mantém contato com familiares para prestar-lhes toda a assistência cabível, em conformidade com os tratados internacionais vigentes e com a legislação local", informou a pasta.
O meu irmão dizia que, se morresse salvando vidas, era para a gente se conformar. Ele foi para a Ucrânia ajudar as pessoas"
Letícia Hack, irmã de André
A família mora em Porto Alegre, mas disse que os restos mortais devem ser levados para o Ceará, onde mora a companheira de André, mãe da filha caçula dele de 3 anos. "Alguém vai ter que ir lá [na Ucrânia] reconhecer o corpo do meu irmão. Nós vamos deixar as cinzas dele no Ceará", disse Letícia.
André se formou em Enfermagem em uma universidade do Ceará. Com passagens pelo Exército brasileiro e pela legião estrangeira francesa, deixou o Ceará para morar temporariamente em Portugal antes de se alistar junto às tropas ucranianas. Segundo a família, André tem cinco filhos.
Família buscava informações fazia 4 dias
Após receber informações de que André teria morrido em um confronto no domingo, a família passou a buscar informações junto à Embaixada do Brasil na Ucrânia.
A informação foi repassada à família pelo brasileiro André Kirvaitis, que também combate na guerra. Segundo ele, um colega da mesma unidade foi hospitalizado após se ferir no confronto e disse ter visto André morrer. "Um amigo que estava com ele no combate viu ele sendo morto no tiroteio", relatou ao UOL.
Nas redes sociais, Kirvaitis se despediu do amigo. "Obrigado por tudo, irmão", escreveu, em seu perfil no Instagram.
"Éramos mais do que irmãos. Estávamos juntos desde o começo, fizemos missões juntos. Era para eu estar com ele nessa última missão", relatou Kirvaitis, que foi impedido de acompanhar a unidade em decorrência de problemas de saúde.
'Perdi amigos lá', disse André após ataque russo
Há mais de três meses na zona de confronto, André fazia parte do primeiro grupo de voluntários brasileiros que se alistou junto às tropas do país invadido. "A gente veio pra ajudar", disseram os integrantes do grupo.
Em entrevista ao UOL à época, André relatou ter deixado a área militar atacada pelos russos na região de Lviv horas antes de um bombardeio que deixou ao menos 35 mortos na madrugada de 13 de março, segundo o governo ucraniano. "Perdi amigos lá", disse.
Brasileiro na guerra
Os brasileiros ganharam notoriedade por compartilhar a rotina deles no campo de batalha, com registro até de um vídeo de confronto próximo à capital Kiev.
Em uma série de vídeos, é possível ouvir o som de tiros, bombas e rajadas, enquanto as imagens mostram o grupo se posicionando atrás de árvores e na grama.
Em um dos registros, que foi deletado, um deles diz: "se juntem a nós, seus covardes", em resposta a críticas de internautas por compartilharem imagens da guerra nas redes sociais.
Os brasileiros também registraram o momento em que chegaram à capital Kiev, em meados de março. Em vídeo postado nos stories André registrou o próprio fuzil dentro de um veículo com a localização em Kiev. Em seguida, captou imagens suas em uma área residencial da cidade.
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