'Caiu da janela': já são 8 os magnatas russos mortos de forma suspeita
O presidente do Conselho de Administração da petrolífera russa Ravil Maganov, 67, morreu nesta quinta-feira (1º) na Clínica Central Hospitalar de Moscou. Em nota oficial, a LukOil informou que o executivo morreu "após lutar contra uma grave doença", sem dar detalhes mais precisos sobre o falecimento.
"Maganov caiu da janela de seu quarto do hospital nesta manhã. Ele morreu por conta dos ferimentos", informou uma fonte à agência de notícias estatal Interfax, ressaltando que policiais já estavam trabalhando no incidente na área externa da estrutura.
O russo trabalhava na empresa, a segunda maior petrolífera russa, desde 1993, tendo passado por diversos setores —refinaria, produção e exploração do combustível fóssil. Tornou-se presidente do Conselho em 2020.
Recentemente, o oligarca havia lamentado publicamente os "trágicos acontecimentos na Ucrânia", país que foi invadido por ordem de Vladimir Putin em 24 de fevereiro.
Desde o início da invasão da Rússia à Ucrânia, oito oligarcas russos próximos a Putin morreram em circunstâncias suspeitas ou misteriosas: as mortes são atribuídas a suicídios ou acidentes, mas também podem ser assassinatos disfarçados, segundo observadores habituados aos métodos de vingança conhecidos do líder russo.
Todos eram executivos de empresas gigantes ligadas ao governo russo, como a estatal de energia Gazprom e a LukOil.
Os dados sobre as mortes dos oligarcas têm sido compilados pela imprensa internacional, que vê semelhanças muito grandes para não levantarem suspeitas.
O fato de essas mortes terem ocorrido no contexto do conflito russo-ucraniano, que levou à multiplicação das sanções econômicas da União Europeia e dos Estados Unidos contra os oligarcas russos, em particular o congelamento de seus bens, contribui para as suspeitas.
A hipótese de suicídio pode ter relação com o medo da falência, por causa das sanções ocidentais. Mas eventuais assassinatos, motivados por traição ao presidente Putin, não podem ser descartados, de acordo com analistas.
Os bilionários russos são obrigados a reafirmarem ou não a sua lealdade ao governante neste momento.
Apesar de uma eliminação feita pelos serviços de inteligência russos ser mencionada pelos parentes desses oligarcas, existe um medo claro de falar sobre esse assunto. Ninguém quer ser a próxima vítima, caso seja verdade.
O jornal Le Figaro destacou que as investigações policiais não conseguiram estabelecer claramente as circunstâncias das mortes, mas, em todos os casos, há um modus operandi.
Quem são eles?
Alexander Subbotin
Tinha 43 anos e foi diretor da LukOil, companhia petrolífera russa, membro do conselho de administração da Lukoil Trading House LLC e se tornou proprietário de uma companhia de transporte marítimo nas margens do golfo da Finlândia. Ele é irmão de Valery Subbotin, ex-vice-presidente da LukOil. De acordo com o canal de comunicação Mash, o corpo dele foi encontrado por dois xamãs na casa deles, na cidade russa de Mytishchi, após um ritual de cura que teria utilizado veneno de sapo para curar uma ressaca.
Sergey Protosenya
Ex-diretor executivo da Novatek, a segunda maior empresa de gás da Rússia, foi encontrado morto em 20 de abril, aos 55 anos, enforcado no jardim de uma mansão em Lloret del Mar, na Espanha, ao lado dos cadáveres esfaqueados de sua esposa Natalya, 53, e da filha Maria, 16 anos. A polícia espanhola investiga a hipótese de um duplo homicídio perpetrado pelo oligarca, seguido de suicídio. Protosenya tinha uma fortuna avaliada em mais de US$ 400 milhões.
Vladislav Avaev
No dia anterior, em 19 de abril, o corpo de Avaev, 51, ex-vice-presidente do banco russo Gazprom e ex-oficial do Kremlin, e os de sua esposa grávida e sua filha de 13 anos foram descobertos em um apartamento em Moscou com marcas de balas. Como uma arma foi encontrada ao lado do corpo de Vladislav e o apartamento estava trancado por dentro, a polícia prioriza a hipótese de suicídio.
Leonid Schulman
Diretor da Gazprom, de 60 anos, foi encontrado morto no banheiro de sua residência, em São Petersburgo, no final de janeiro. No local, foi encontrada uma carta falando sobre suicídio.
Alexander Tyulyakov
Vice-diretor da Gazprom, de 61 anos, foi encontrado enforcado em um chalé, na região de São Petersburgo. Uma carta de despedida foi encontrada.
Mikhail Watford
Um magnata do petróleo, de 66 anos, foi encontrado enforcado na garagem de sua mansão, no subúrbio de Londres.
Vasily Melnikov
Ex-funcionário da empresa de equipamentos médicos MedStom, ele foi encontrado morto em seu apartamento na cidade de Nizhny Novgorod, ao lado da esposa e dois filhos de 4 e 10 anos. Nenhum vestígio de luta ou de invasão de domicílio foi registrado.
Recentemente, o oligarca e presidente do time de futebol Chelsea, Roman Abramovich, afirmou ter sido envenenado, após apresentar sintomas depois de uma reunião na Ucrânia.
Histórico de envenenamento
Desde os anos 2000, quando ele assumiu a Presidência da Rússia, Putin é acusado de mandar envenenar opositores, uma prática quer teria sido herdada dos tempos da extinta URSS (União Soviética).
Vale lembrar que ele foi um oficial do serviço secreto soviético da KGB.
Um dos primeiros casos de envenenamento ocorrido sob seu governo ocorreu em setembro de 2004, quando o candidato da oposição à eleição presidencial ucraniana, Viktor Yushchenko, ficou gravemente doente e teve seu rosto desfigurado, mas sobreviveu.
A doença havia sido provocada por dioxina que ele teria ingerido durante uma refeição.
Relembre abaixo outros casos:
Alexei Navalny
O principal líder da oposição russa em 2020 foi envenenado e passou por uma longa recuperação. No começo de 2021, depois de meses fora da Rússia, ele voltou para o país pela primeira vez desde seu envenenamento e foi preso. Agora, uma onda de protestos pede sua libertação.
O governo alemão disse que Navalny foi envenenado por uma sofisticada substância conhecida como Novichok, o que deu ainda mais atenção ao caso, ao reforçar suspeitas de que o Estado russo estivesse por trás do envenenamento. A maior parte do agente químico teria sido plantada na cueca dele. O Kremlin negou as acusações de envolvimento.
Alekdandr Litvinenko
Espião russo de 1988 a 1998, Litvinenko foi expulso do país ao dar uma entrevista dizendo que teria recebido a ordem de matar um ex-espião acusado de revelar segredos de Estado e sequestrar um empresário. Asilado no Reino Unido desde 2001, tornou-se crítico de Putin e jornalista.
Foi internado com uma doença repentina em 1º de novembro e morreu vítima de um ataque cardíaco 22 dias depois. Segundo a investigação britânica, foi contaminado por polônio-210 que estava no chá que tomou em um encontro com agentes russos. Moscou nega.
Alexander Perepilichny
O empresário deixou Moscou em 2009 para morar na Inglaterra. No ano seguinte, entregou a promotores suíços documentos que incriminavam altas autoridades russas em uma fraude de US$ 220 milhões ao Tesouro por meio de um fundo de investimento. Foi encontrado morto em um parque de Londres, em 2012. No ano passado, foram revelados documentos dos EUA que acusavam a Rússia de tê-lo assassinado.
Sergei e Yulia Skripal
Serguei foi agente de inteligência russo até 1999 e, após serviu ao serviço secreto britânico nos últimos quatro anos, foi descoberto e condenado a 13 anos de prisão por alta traição. Em 2010, numa troca de espiões com os EUA, passou a morar no Reino Unido. Até que um dia foi encontrado inconsciente ao lado da filha num banco de um centro comercial da cidade inglesa de Salisbury. Eles sobreviveram. O governo britânico disse que eles foram envenenados com o agente químico Novitchok.
Pyotr Verzilov
Ativista do grupo Pussy Riot, Verzilov invadiu o campo do Estádio Olímpico Lujniki, em Moscou, na final da Copa do Mundo da Rússia, em 2018. Após uma audiência judicial, subitamente perdeu a fala, a visão e a capacidade de andar. Foi internado em Moscou e, cinco dias depois, transferido para Berlim, onde um médico disse que teria sido envenenado por um agente desconhecido. (Com agências internacionais)
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