Atentado contra Cristina Kirchner na Argentina: veja detalhes e repercussão
A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi vítima de um atentado na noite de ontem em Buenos Aires. O autor do ataque é Fernando Sabag Montiel, um brasileiro de 35 anos que mora no país desde criança. Ele foi preso pela polícia logo após o ocorrido e deve prestar depoimento ainda nesta sexta-feira.
O ataque mobilizou a sociedade argentina, incluindo membros da oposição, que repudiaram o ato. Militantes peronistas e apoiadores de Cristina convocaram manifestações ao seu favor na tarde de hoje, e o presidente Alberto Fernández decretou um dia de feriado nacional pela "defesa da democracia".
O episódio ocorre em meio a uma disputa judicial de Kirchner, acusada pelo Ministério Público de integrar um esquema de corrupção durante seus anos como presidente da República, bem como no mandato de seu falecido marido, Néstor Kirchner. Cristina nega quaisquer irregularidades e acusa a promotoria de perseguição política.
Cristina cumprimentava apoiadores quando foi surpreendida com arma. A ação ocorreu por volta das 21h (horário local) de ontem quando Kirchner chegava à sua casa, no bairro de Recoleta, em Buenos Aires, após presidir uma sessão do Senado.
Centenas de manifestantes se reuniram no local nos últimos dias para apoiar a ex-presidente, e foi em uma das interações de Cristina com os apoiadores que o agressor aproximou-se com a arma e puxou o gatilho, que não disparou o tiro. Nas imagens (veja abaixo), a vice-presidente se assusta e coloca a mão no rosto, e o autor do ataque não é mais visto.
Ele tentou fugir, mas foi impedido por um grupo de pessoas e, depois, preso pela polícia. A arma foi recuperada caída no chão, e, segundo comunicado nacional feito na noite de ontem pelo presidente da Argentina, Alberto Fernández, continha cinco balas.
Quem é o autor do ataque? O brasileiro Fernando Sabag Montiel nasceu em 13 de janeiro de 1987 e trabalha em Buenos Aires como motorista de aplicativo. Ele mora no país desde a década de 90.
Segundo o jornal La Nación, o homem se apresentava nas redes sociais como "Fernando Salim Montiel" — as contas foram apagadas na madrugada logo após o atentado. Entre seus interesses e as páginas que ele seguia nas redes, havia muitas ligadas a grupos radicalizados ou de ódio, conforme a publicação.
Havia curtidas em páginas como "Comunismo Satânico" e "Coach antipsicopata" e outras que fazem alusão à Wicca, religião pagã que se dedica ao conhecimento da espiritualidade a partir da natureza e da psique humana e a qual é atribuída ligações com a feitiçaria e outras religiões antigas, segundo o La Nación.
Montiel tem antecedentes por porte de arma ilegal não-convencional, registro feito pela polícia argentina em 17 de março de 2021. A polícia desconfiou do carro que Fernando dirigia devido à ausência da placa traseira, que Fernando atribuiu a uma colisão. Quando o suspeito abriu a porta para mostrar o documento do carro, a faca caiu. Ele alegou que a arma era para "segurança pessoal".
Munição foi encontrada na casa de autor de atentado. Após buscas realizadas nesta sexta-feira na residência de Fernando Montiel, a polícia encontrou duas caixas de munições com 50 balas cada uma.
A munição irá passar por perícia, bem como um computador encontrado na casa do agressor e o seu celular, apreendido quando ele foi preso.
Cristina está assustada, mas bem, diz senador argentino. O senador Oscar Parrilli, da base aliada de Fernández e Kirchner no Congresso argentino, afirmou em uma entrevista a uma rádio local que a vice-presidente está "impactada e abalada", mas que estava bem, no geral.
O senador afirmou, no entanto, que o episódio suscitou questões sobre como Cristina Kirchner irá se relacionar com o público daqui em diante.
Isso é um fato de enorme gravidade. Um homem apontou uma arma de fogo por sua cabeça. Cristina permanece com vida. A arma que contava com cinco balas não disparou. Este atentado merece o repúdio da sociedade argentina. Estes fatos afetam a nossa democracia. Discursos que promovem o ódio não podem ter lugar. Se atentou contra a nossa vice-presidente e a nossa paz social se vê alterada Alberto Fernández, presidente da Argentina
O que acontece agora? O caso foi designado para a Polícia Federal, e é acompanhado pela juíza María Eugenia Capuchetti, que esteve presente na casa de Kirchner na manhã desta sexta para colher seu depoimento. A juíza também esteve na rua, no local do ocorrido.
O caso é investigado inicialmente como tentativa de homicídio qualificado. O depoimento de Fernando Sabag Montiel também deve ser recolhido hoje.
Manifestações foram convocadas. Tanto movimentos sociais de apoio à Kirchner quanto o próprio gabinete presidencial de Alberto Fernández convocaram manifestações em apoio à vice-presidente nesta sexta. Os atos devem se concentrar na história Praça de Maio, local que reúne atos políticos em Buenos Aires.
A Câmara dos Deputados da Argentina irá realizar amanhã uma sessão especial para discutir o ataque.
Repercussão internacional e de presidenciáveis no Brasil. Do Brasil, candidatos à Presidência da República comentaram sobre o ataque.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) se manifestaram nas redes, enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse "lamentar" e ter enviado "uma notinha" sobre o assunto, mas fez um contraponto com o atentado sofrido por ele em 2018.
"Mandei uma notinha, eu lamento. Agora, quando eu levei a facada teve gente que vibrou por aí. Lamento, já tem gente querendo botar na minha conta, já esse problema. E o agressor ali, ainda bem que não sabia mexer com arma. Se soubesse, teria sucesso", disse.
Outros líderes latino-americanos também se pronunciaram sobre o atentado, incluindo Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Luis Lacalle Pou (Uruguai), Nicolás Maduro (Venezuela) e o ex-presidente boliviano Evo Morales. O Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, também manifestou repúdio em nome do país.
ONU pede investigações, e Papa Francisco se solidariza. O Alto Comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) para Direitos Humanos quer que o incidente que envolveu a vice-presidente da Argentina seja alvo de uma investigação e alertou para os riscos de violência política na região.
O papa Francisco enviou uma mensagem de solidariedade à vice-presidente da Argentina, país onde o pontífice nasceu.
"Tendo recebido a preocupante notícia do atentado que vossa excelência sofreu na tarde de ontem, desejo expressar minha solidariedade e proximidade neste delicado momento. Rezo para que sempre prevaleçam na querida Argentina a harmonia social e o respeito aos valores democráticos, contra todo tipo de violência e agressão", diz um telegrama assinado pelo papa.
Qual é o legado do kirchnerismo na Argentina? Aos 69 anos, vice-presidente desde 2019 e duas vezes presidente entre 2007 e 2015, Kirchner é uma das mais importantes figuras políticas do país.
Cristina casou-se com Néstor Kirchner quando ambos ainda eram estudantes de direito na Universidade de La Plata (60 km de Buenos Aires). Militantes do peronismo desde os tempos de universidade, Néstor e Cristina Kirchner foram detidos por 17 dias em janeiro de 1976, pouco antes do golpe que instituiu a última ditadura militar (1976-83).
A partir desse episódio, eles se concentraram no escritório de advocacia que montaram na cidade de Río Gallegos (sul), que, segundo relato da ex-presidente, fez muito sucesso e lhes deu a base de sua fortuna com a compra de mais de 20 imóveis na Patagônia.
Após a ditadura, iniciaram a carreira política. Nestor foi prefeito de Río Gallegos e depois governador de Santa Cruz. Cristina foi deputada e também senadora pela mesma província.
Seu governo caracterizou-se por políticas protecionistas e programas de assistência social, com múltiplos subsídios que aumentaram os gastos públicos.
*Com informações da AFP e BBC News Brasil
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