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'Pouca consideração pela vida': quem é o 'general do Armagedon' na Ucrânia?

Sergei Surovikin é o novo comandante do exército russo  - Reprodução/@UNIANO no Youtube
Sergei Surovikin é o novo comandante do exército russo Imagem: Reprodução/@UNIANO no Youtube

Do UOL, em São Paulo

11/10/2022 15h15

Sergei Surovikin, apelidado de "general Armagedon", foi nomeado pelo presidente russo, Vladimir Putin, para comandar os novos ataques à Ucrânia, agora centrados na infraestrutura civil do país. Nascido na cidade de Novosibirsk, na Sibéria, ele tem 55 anos e é conhecido por ser brutal e linha-dura.

O novo líder militar chega em um momento desfavorável à Rússia, em meio a sinais de crescente descontentamento entre as elites do país sobre a condução do conflito.

A mudança de estratégia aconteceu já no sábado, após a explosão da ponte da Crimeia e depois de Kiev reconquistar territórios perdidos para a Rússia no nordeste e sul do país. Naquele dia, Putin demitiu dois altos comandantes militares e convocou o temido Surovikin.

Comandante veterano, ele se especializou em infantaria e comandou a força aérea russa. É reconhecido justamente por não poupar infraestrutura civil em ataques, segundo um relatório de 2020 da ONG Human Rights Watch sobre o papel de Surovikin na Guerra Síria (2015 - presente).

Diz o texto que "em defesa dos interesses de Moscou", ele comandou ataques aéreos que atingiram "casas, escolas, instalações de saúde e mercados sírios —onde as pessoas vivem, trabalham e estudam".

Ele mal chegou ao novo posto e já ordenou o ataque a alvos civis em toda a Ucrânia, incluindo um entroncamento rodoviário próximo a uma universidade e a um parque infantil.

Surovikin comandou as forças russas na Síria em 2017, em apoio a Bashar Assad, e foi acusado de usar táticas "controversas", incluindo a supervisão de bombardeios indiscriminados contra combatentes contrários ao governo sírio.

Uma dessas ofensivas brutais destruiu grande parte da cidade de Aleppo.

Em 2020, a ONG Human Rights Watch o citou entre os líderes militares que poderiam ter "responsabilidade de comando" por violações de direitos humanos na Síria.

"Surovikin é absolutamente implacável, com pouca consideração pela vida humana. Temo que suas mãos fiquem completamente cobertas de sangue ucraniano", afirmou um ex-funcionário do Ministério da Defesa ao jornal britânico The Guardian.

"Por mais de 30 anos, a carreira de Surovikin foi marcada por alegações de corrupção e brutalidade", afirmaram autoridades de inteligência britânicas num relatório recente.

A fama do general vem de antes

Em 1991, Surovikin ficou nacionalmente conhecido por liderar uma divisão de fuzileiros que avançou contra manifestantes pró-democracia, deixando três mortos. Passou pelo menos seis meses na prisão pelo incidente, mas acabou sendo libertado sem julgamento, de acordo com um estudo do think tank conservador Jamestown Foundation, de Washington.

Em 1995, recebeu uma pena suspensa por comércio ilegal de armas, mas a condenação foi posteriormente anulada, afirma a fundação. "No Exército, Surovikin tem uma reputação de total crueldade", diz o estudo.

Em 2004, veio o apelido de "general Armagedon", dado pela mídia russa depois que um coronel sob seu comando cometeu suicídio após uma reprimenda de Surovikin.

Na Ucrânia, ele vinha atuando como chefe do agrupamento militar no sul do país, tendo substituído o general Alexander Dvornikov, que durou apenas alguns meses no cargo.

Segundo a imprensa europeia, o general teria melhorado a eficácia das tropas russas no leste ucraniano, que sofrem com a falta de comunicação e cooperação.

"Surovikin sabe lutar com bombardeios e mísseis —é o que ele faz", afirmava em junho o general Kyrylo O. Budanov, chefe do serviço de inteligência militar da Ucrânia.

Gleb Irisov, um ex-tenente da Força Aérea russa que trabalhou com Surovikin até 2020, disse ao jornal que o novo general é um dos poucos militares que "sabe como supervisionar e otimizar diferentes ramos do Exército". "Mas ele não será capaz de resolver todos os problemas. A Rússia está com falta de armas e mão de obra."

Segundo analistas, a medida pode indicar que Moscou agora entende que suas forças estão em perigo de colapso no país vizinho e a nomeação também pode ser uma tentativa de combater as críticas de que o Exército russo está conduzindo mal a guerra.

"É altamente simbólico que Sergei Surovikin, o único oficial que ordenou atirar em revolucionários em agosto de 1991 e de fato matou três, esteja agora encarregado deste último esforço para restaurar a União Soviética. Essa gente sabia o que estava fazendo, e sabe agora", escreveu no Twitter o cientista político e sociólogo russo Grigory Yudin, em reação à nomeação do general para comandar na Ucrânia.

Antes de ocupar o novo cargo, o general já era considerado um possível próximo líder do Estado-Maior, o chefe de todas as forças armadas do país.

*Com CNN, BBC, The Guardian e agências