Topo

Esse conteúdo é antigo

Truss cita 'guerra ilegal de Putin' e crise econômica; veja o discurso

Do UOL, em São Paulo

20/10/2022 10h20Atualizada em 20/10/2022 11h00

A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, renunciou hoje ao cargo em pronunciamento feito por ela em frente à Downing Street, em Londres, e disse que "dada a situação", ela não poderia "cumprir o mandato para o qual foi eleita". Truss assumiu o cargo de premiê no início de setembro e fez o anúncio de sua saída após 45 dias de mandato.

Apesar do anúncio, ela segue como primeira-ministra até que seu substituto assuma o lugar dela e, em sua fala, Truss informou uma nova eleição já está marcada e será concluída na próxima semana.

Durante o discurso, ela elencou razões para ter tomado a decisão, citando a "guerra ilegal de [Vladimir] Putin na Ucrânia" e a crise econômica que o país enfrenta.

"A guerra ilegal de Putin na Ucrânia ameaçou a segurança de todo o nosso continente e nosso país foi retido por muito tempo pelo baixo crescimento econômico. [...] Fui eleita pelo Partido Conservador com mandato para mudar isso", afirmou a premiê.

"Reconheço, porém, que, dada a situação, não posso cumprir o mandato para o qual fui eleita pelo Partido Conservador", acrescentou.

A líder do Partido Conservador disse ainda que sua decisão foi comunicada tanto ao Rei Charles 3º, bem como a Graham Brady, líder do comitê que irá escolher o seu sucessor.

Leia a íntegra do discurso de renúncia de Liz Truss:

"Assumi o cargo em um momento de grande instabilidade econômica e internacional. Famílias e empresas estavam preocupadas sobre como pagar suas contas. A guerra ilegal de Putin na Ucrânia ameaçou a segurança de todo o nosso continente e nosso país foi retido por muito tempo pelo baixo crescimento econômico. Fui eleita pelo Partido Conservador com mandato para mudar isso. Nós entregamos nas contas de energia, no seguro nacional ininterrupto. E estabelecemos uma visão para uma economia de alto crescimento com impostos baixos que tiraria vantagem da liberdade do Brexit. Reconheço, porém, que, dada a situação, não posso cumprir o mandato para o qual fui eleita pelo Partido Conservador. Eu, portanto, falei com Sua Majestade, o Rei, para notificá-lo de que estou renunciando ao cargo de líder do Partido Conservador. Esta manhã encontrei o presidente do comitê de 1922, Sir Graham Brady. Concordamos que haverá uma eleição de liderança a ser concluída na próxima semana. Isso garantirá que continuemos no caminho certo para cumprir nossos planos fiscais e manter a estabilidade econômica e a segurança nacional de nosso país. Permanecerei como primeira-ministra até que um sucessor seja escolhido."

Entenda a crise que levou à queda

Plano falhou e pressionou premiê. Truss venceu a disputa para substituir Boris Johnson com uma plataforma de grandes cortes de impostos para estimular o crescimento. Ela prometeu também gastos bilionários com subsídios às contas de energia, que subiram mais de 300% nos últimos dois anos. O país, como outros, enfrenta as consequências da guerra na Ucrânia e os efeitos da pandemia.

Mas a ausência de quaisquer detalhes de como os cortes seriam financiados levou os mercados ao colapso.

A libra também caiu e o custo da dívida pública disparou, encarecendo os juros de empréstimos a famílias e empresas. O Banco da Inglaterra precisou intervir para evitar que a situação se transformasse em uma crise financeira, com um programa maciço de compra de dívida de longo prazo.

Na semana passada, o novo ministro das Finanças, Jeremy Hunt, reverteu todas as mudanças anunciadas pela primeira-ministra, aprofundando a crise no governo, mas sinalizando "paz" ao mercado financeiro.

Entre as principais decisões, está que a ajuda às famílias para pagar as contas de energia será limitada a seis meses, em vez dos dois anos prometidos por Truss e o ministro antigo.

Hunt detalharia, em 31 de outubro, como o Executivo pretendia reduzir o endividamento a médio prazo, outra oportunidade para acalmar os mercados e tentar recuperar o rumo econômico.

Aliados reivindicaram renúncia de Liz Truss. Membros do Partido Conservador críticos a Truss pediam que a primeira-ministra deixasse o cargo. Agora, com a renúncia, ela permanecerá no posto até a eleição de um sucessor. Para isso, será preciso organizar um novo processo interno do Partido Conservador, menos de dois meses após concluído o anterior.

O partido pode evitar novas e longas batalhas fratricidas, porém, caso se una em torno de um sucessor eleito por consenso. Theresa May, por exemplo, sucedeu a David Cameron em 2016 — após o referendo do Brexit — depois que todos os seus adversários se retiraram.

Antes do anúncio da renúncia de hoje, porém, Truss não dava sinais de que iria deixar o cargo.

"Estou aqui porque fui eleita para trabalhar por este país", disse ela. "E é isso que estou determinada a fazer", declarou em uma sessão legislativa.