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Caos no Reino Unido: entenda a queda de primeira-ministra Liz Truss

Liz Truss, primeira-ministra do Reino Unido - Alastair Grant via REUTERS
Liz Truss, primeira-ministra do Reino Unido Imagem: Alastair Grant via REUTERS

Do UOL*, em São Paulo

20/10/2022 09h29Atualizada em 20/10/2022 10h00

Liz Truss, a primeira-ministra do Reino Unido, renunciou hoje ao cargo de premiê, sendo a líder com passagem mais rápida por Downing Street, sede do governo. Ela pediu a renúncia após um período de 45 dias na função de premiê, mas fica no cargo até que seu substituto assuma.

Ontem, a ministra do Interior do Reino Unido, Suella Braverman, apresentou sua renúncia e criticou a forma como o governo tem sido conduzido. Foi a segunda troca de ministros no breve governo de Truss. O primeiro foi o das Finanças, Kwasi Kwarteng, demitido na semana passada após capitanear um plano econômico polêmico.

Entenda a crise que levou à queda de Truss:

Plano falhou e pressionou premiê. Truss venceu a disputa para substituir Boris Johnson com uma plataforma de grandes cortes de impostos para estimular o crescimento. Ela prometeu também gastos bilionários com subsídios às contas de energia, que subiram mais de 300% nos últimos dois anos. O país, como outros, enfrenta as consequências da guerra na Ucrânia e os efeitos da pandemia.

Mas a ausência de quaisquer detalhes de como os cortes seriam financiados levou os mercados ao colapso.

A libra também caiu e o custo da dívida pública disparou, encarecendo os juros de empréstimos a famílias e empresas. O Banco da Inglaterra precisou intervir para evitar que a situação se transformasse em uma crise financeira, com um programa maciço de compra de dívida de longo prazo.

Na semana passada, o novo ministro das Finanças, Jeremy Hunt, reverteu todas as mudanças anunciadas pela primeira-ministra, aprofundando a crise no governo, mas sinalizando "paz" ao mercado financeiro.

Entre as principais decisões, está que a ajuda às famílias para pagar as contas de energia será limitada a seis meses, em vez dos dois anos prometidos por Truss e o ministro antigo.

Hunt detalharia, em 31 de outubro, como o Executivo pretendia reduzir o endividamento a médio prazo, outra oportunidade para acalmar os mercados e tentar recuperar o rumo econômico.

Aliados reivindicaram renúncia de Liz Truss. Membros do Partido Conservador críticos a Truss pediam que a primeira-ministra deixasse o cargo. Agora, com a renúncia, ela permanecerá no posto até a eleição de um sucessor. Para isso, será preciso organizar um novo processo interno do Partido Conservador, menos de dois meses após concluído o anterior.

O partido pode evitar novas e longas batalhas fratricidas, porém, caso se una em torno de um sucessor eleito por consenso. Theresa May, por exemplo, sucedeu a David Cameron em 2016 — após o referendo do Brexit — depois que todos os seus adversários se retiraram.

Antes do anúncio da renúncia de hoje, porém, Truss não dava sinais de que iria deixar o cargo.

"Estou aqui porque fui eleita para trabalhar por este país", disse ela. "E é isso que estou determinada a fazer", declarou em uma sessão legislativa.

Um novo voto de desconfiança? As normas atuais do Partido Conservador britânico protegem qualquer novo líder de um voto de desconfiança interno nos primeiros 12 meses de seu mandato.

Esse processo é o mesmo pelo qual Boris Johnson passou após os escândalos por sua participação em festas durante o lockdown. Boris se salvou, mas a exposição do processo colaborou na deterioração de sua imagem perante os britânicos.

Após os 12 meses, 15% dos 357 deputados conservadores — ou seja, 54 — devem enviar uma carta para desencadear esta votação.

No entanto, o poderoso Comitê 1922, responsável pela organização interna da bancada parlamentar conservadora, tem a capacidade de mudar as regras. Resta ver qual seria o limite para desencadear uma moção de censura.

Em caso de derrota, Truss — se ela permanecesse do cargo — perderia imediatamente a liderança do partido, mas continuaria como primeira-ministra até a eleição de um sucessor.

Trabalhistas ganham espaço, e dissolução do Parlamento pode afetar Conservadores. No sistema parlamentarista britânico, os deputados também podem votar contra o orçamento previsto pela primeira-ministra.

Neste caso, é previsto que o chefe de governo renuncie, ou peça ao monarca, o Rei Charles 3º, que dissolva o Parlamento, um sinônimo de eleições legislativas.

Nas pesquisas, a oposição trabalhista está em seu melhor momento há décadas. Algumas sondagens preveem que os conservadores perderiam centenas de assentos.

Assim, parece pouco provável que um número suficiente de deputados conservadores se una à oposição para realizar eleições que provavelmente serão desastrosas para a legenda, que está no poder há 12 anos.

Piada na internet. Os prognósticos não eram bons e Truss tentava se equilibrar como podia. Sua permanência virou tema de memes e piadas na internet.

Um tabloide já comparava o seu prazo de validade no poder com o de um pé de alface comprado no supermercado da esquina. Em uma transmissão ao vivo, eles questionam: quem irá sobreviver por 10 dias? O pé de alface ou Liz Truss? A live deveria ser encerrada no domingo. A primeira-ministra caiu antes.

Tabloide Daily Star faz "competição" de sobrevivência: Liz Truss conseguirá se manter no posto de primeira-ministra por mais tempo que um alface exposto por 10 dias? - Reprodução - Reprodução
Tabloide Daily Star faz "competição" de sobrevivência: Liz Truss conseguirá se manter no posto de primeira-ministra por mais tempo que um alface exposto por 10 dias?
Imagem: Reprodução

*Com informações da Reuters, AFP e RFI