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Quem é Liz Truss, primeira-ministra britânica que renunciou ao cargo

Liz Truss, primeira-ministra do Reino Unido, renunciou 45 dias após assumir o cargo; seu pacote econômico aprofundou a crise - Alastair Grant via REUTERS
Liz Truss, primeira-ministra do Reino Unido, renunciou 45 dias após assumir o cargo; seu pacote econômico aprofundou a crise Imagem: Alastair Grant via REUTERS

Do UOL, em São Paulo*

20/10/2022 10h26Atualizada em 20/10/2022 16h14

A primeira-ministra do Reino Unido, Liz Truss, renunciou na manhã de hoje após os efeitos desastrosos de sua política econômica. A conservadora sofria pressão interna para deixar o cargo.

Truss foi a terceira mulher a ocupar o cargo. Antes dela, passaram pelo posto Theresa May (2016-2019) e Margaret Thatcher (1979-1990). Ela assumiu o cargo há apenas 45 dias e se tornou a premiê com a passagem mais rápida por Downing Street.

A líder do Partido Conservador permanece no cargo até que um novo primeiro-ministro seja nomeado. Em setembro, Truss disputou e venceu o ex-ministro das Finanças Rishi Sunak pela vaga de premiê após a saída de Boris Johnson.

Linha dura. Sem meias-palavras e muito crítica aos movimentos de protestos sobre questões identitárias, a então ministra das Relações Exteriores, de 47 anos, tornou-se muito popular nas bases do Partido Conservador.

Foi nomeada chefe da diplomacia como recompensa por seu trabalho como ministra do Comércio Internacional durante o Brexit, que resultou na saída do Reino Unido da União Europeia. Ela foi a segunda mulher a ocupar a secretaria de Relações Exteriores no Reino Unido.

No cargo, conseguiu fechar uma série de importantes acordos comerciais pós-Brexit. Sua linha dura sobre a invasão da Ucrânia ou suas ameaças de romper o acordo da UE sobre a Irlanda do Norte atraíram alguns conservadores.

Subida rápida na carreira política. Liz Truss provou ser uma sobrevivente nos governos conservadores dos últimos 12 anos e trilhou um rápido crescimento em sua carreira política, ocupando os cargos de ministra da Justiça, Finanças, Comércio Internacional e, mais recentemente, do Exterior.

Enquanto dezenas de seus colegas foram vítimas de brigas e intrigas dentro do partido, ela sobreviveu até mesmo à onda de demissões após a queda de Theresa May e mais uma vez saiu vitoriosa na última grande reforma ministerial de Boris Johnson. Truss sempre foi considerada leal e trabalhadora, sem que seus sucessos tivessem sido avaliados com maior precisão.

Por outro lado, seu colega de partido Rory Stewart —em um relato em seu blog político sobre o tempo em que os dois trabalharam juntos no Ministério da Agricultura —afirma que a gestão de Truss estava presa no estilo "IBM dos anos 1980" e que ela gostava de irritar seus colegas com problemas matemáticos aleatórios, porque "o pai dela devia fazer isso sempre na mesa do café da manhã".

Stewart descreve a experiência com Truss como "traumatizante".

Família mais à esquerda. Liz Truss não cresceu voltada a trilhar uma carreira no Partido Conservador. Seu pai era professor de matemática, e sua mãe, enfermeira. A pequena Liz foi levada a protestos antinucleares, mas há muito tempo pôs fim a esse passado. Isso também se aplica ao seus primórdios na política, no Partido Liberal, quando era ainda estudante.

Truss age com igual casualidade em relação à sua transição de uma postura pró-União Europeia antes do referendo sobre o Brexit, em 2016, para a mais fervorosa defensora da saída do Reino Unido do bloco europeu.

Nos últimos anos, Truss se moveu consistentemente mais e mais para a direita e, agora, se apresenta como uma das mais firmes defensoras da doutrina conservadora pura.

O que motivou a crise? Truss venceu a disputa para substituir Boris Johnson com uma plataforma de grandes cortes de impostos para estimular o crescimento.

Ela prometeu também gastos bilionários com subsídios às contas de energia, que subiram mais de 300% nos últimos dois anos. O país, como outros, enfrenta as consequências da guerra na Ucrânia e os efeitos da pandemia.

Mas a ausência de quaisquer detalhes de como os cortes seriam financiados levou os mercados ao colapso.

Na semana passada, o novo ministro das Finanças, Jeremy Hunt, reverteu todas as mudanças anunciadas pela primeira-ministra, aprofundando a crise no governo, mas sinalizando "paz" ao mercado financeiro.

Entre as principais decisões, está que a ajuda às famílias para pagar as contas de energia será limitada a seis meses, em vez dos dois anos prometidos por Truss e o ministro antigo. Hunt detalhará, em 31 de outubro, como o Executivo pretende reduzir o endividamento a médio prazo, outra oportunidade para acalmar os mercados e tentar recuperar o rumo econômico.

*Com DW