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'Larguei cargo na CNN em Los Angeles para ajudar na Cruz Vermelha'

Fernanda Baumhardt atua em situações de crise humanitária e já esteve em mais de 25 países - Arquivo pessoal
Fernanda Baumhardt atua em situações de crise humanitária e já esteve em mais de 25 países Imagem: Arquivo pessoal

Da RFI

11/02/2023 04h00

Com câmeras e microfones na bagagem, Fernanda Baumhardt entra em lugares de onde a maioria quer sair. Comunicadora gaúcha, ela pediu demissão de seu posto mais alto, na CNN em Los Angeles, em 2007, para ajudar em situações de crise humanitária.

"Eu fui mais uma dessas pessoas que fazem as suas reflexões: a gente está mudando o mundo, a gente está influenciando um mundo melhor?", disse, em entrevista à RFI.

"Entrei nesse questionamento e resolvi sair de uma grande organização de mídia para ir a campo. Foi quando fui para Malauí, com a Cruz Vermelha, pela primeira vez."

Fernanda atuou em campo ou dando apoio em pelo menos 12 situações críticas. No currículo, acumula passagens por 25 países e quase 40 missões para organizações como a ONU, a Cruz Vermelha e o Conselho Norueguês para Refugiados.

Ela iniciou sua carreira profissional na área de publicidade, em cargos executivos nos canais Bloomberg e CNN. O trabalho humanitário começou há 15 anos — Fernanda foi a comunidades devastadas por desastres ambientais e campos de refugiados em países como Sudão do Sul, Uganda e Haiti.

Demissão - RFI - RFI
Ela se questionou se estava mudando o mundo e resolveu pedir demissão
Imagem: RFI

Todos me marcaram profundamente e me transformaram, como o campo de refugiados sírios, na Jordânia, próximo à fronteira da Síria, que me impressionou bastante por ser um lugar que não tem verde

"Além de todas as circunstâncias difíceis, de terem de se deslocar de maneira forçada, essas 30 mil pessoas têm de começar uma vida em um lugar extremamente duro, no sentido mais amplo da palavra", completa.

Vídeo participativo

Fernanda é uma referência internacional na temática de participação comunitária em respostas humanitárias. Ela dá aulas e treinamentos no mundo inteiro, sendo considerada uma das 25 maiores especialistas em vídeo participativo.

Entre suas ações, está a de abrir espaço para as vozes das comunidades, para que sejam ouvidas e recebam as respostas adequadas.

Nos últimos quatro anos, acompanhou de perto a crise dos migrantes e refugiados da Venezuela, nas fronteiras do país com o Brasil e a Colômbia. "O que eu mais vi foi a fome", destaca.

Fernanda - Amanda Nero/IOM 2018 - Amanda Nero/IOM 2018
Fernanda trabalha para dar voz a comunidades atingidas por tragédias
Imagem: Amanda Nero/IOM 2018

E se interessa, especialmente, pela situação das mulheres no mundo. Ela esteve no Afeganistão pré-Talibã e comenta a realidade que encontrou.

Há normas tribais que não enxergam uma sociedade igualitária. E nós mulheres, nesse caso, estamos sendo prejudicadas

O livro

Agora, Fernanda resolveu contar essa experiência em um livro com o título "Vozes à Flor da Pele", ainda sem data de lançamento. Na obra, ela relata os bastidores do mundo humanitário, um setor, em geral, distante e romantizado no imaginário das pessoas.

A ideia de lançar um livro nasceu, segundo ela, de uma necessidade de dividir um pouco a inspiração que recebeu em lugares como Afeganistão, Sudão do Sul, Madagascar, "encontrando com mulheres que foram vítimas de tráfico humano, entre outras tantas situações", explica.

Não dava para ficar tudo aqui dentro. Não só as vozes das pessoas em necessidade nessas crises humanitárias, mas, também, as minhas vozes, que mudam a partir desses encontros

"Então, é um livro que fala dos meus desafios, das minhas dificuldades em equilibrar casamento — no meu caso, eu já estou no segundo, pois o primeiro terminou por causa do meu trabalho humanitário", conta.

Ela - Fernanda Baumhardt - Fernanda Baumhardt
Fernanda é referência em vídeos participativos; ela vai contar experiência em livro
Imagem: Fernanda Baumhardt

"E eu acho que isso tudo pode inspirar mulheres que têm a comunicação na veia e precisam equilibrar tantos papéis."

Crises humanitárias e os novos problemas

Atualmente, existem 44 crises humanitárias de alta severidade ou graves acontecendo no mundo, de acordo com a Acaps, entidade de análise independente sobre o assunto.

"Crises humanitárias de uma proporção severa ou altamente severa acontecem quando a crise, conflito ou desastre natural — como terremoto, inundação ou furacão — causam impactos que ultrapassam a capacidade do país de responder. Então, o país pode enviar um comunicado, um pedido às Nações Unidas, para irmos ajudá-los", explica Fernanda.

Ela também alerta para um novo problema crescente: o dos refugiados climáticos.

As mudanças climáticas estão gerando um novo tipo de deslocamento forçado e já há um nome técnico para isso: refugiados climáticos. Porque quando há seca, por exemplo, os povos migram atrás de água e isso gera, potencialmente, conflitos. Então, realmente nós vamos ter muito trabalho