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'Ouvem barulhos, mas é difícil chegar ajuda': ela busca amigos na Turquia

Lygia acompanha noticiários turcos em busca de informações sobre situação do país - Arquivo Pessoal
Lygia acompanha noticiários turcos em busca de informações sobre situação do país Imagem: Arquivo Pessoal

Simone Machado

Colaboração para o UOL, em São José do Rio Preto (SP)

09/02/2023 12h16Atualizada em 10/02/2023 12h54

A psicopedagoga e professora de língua turca Lygia Kyak, de 37 anos, de São Paulo, busca notícias de um casal de amigos e a filha deles, de 3 anos.

A família turca está entre as centenas de desaparecidos depois do terremoto de 7.8 de magnitude que atingiu a Turquia e a Síria, na noite de domingo (5). Mais de 17 mil pessoas morreram.

Casada com um turco, Lygia morou na Turquia por quase dez anos, onde fez muitos amigos, entre eles Turan Kalayc, de 32 anos, que está entre os desaparecidos. Ele e a família moram em Kahramanmaras, epicentro do terremoto.

No primeiro dia chegamos a ligar mais de 100 vezes, o telefone ainda tocava, mas ninguém atendia. Depois conseguimos falar com uma família vizinha a esses amigos e confirmamos que o prédio deles havia desabado
Lygia Kyak

No país, é comum que as famílias morem em pequenos prédios familiares, de até seis andares. Os pais residem na casa principal, no térreo, e os filhos, ao se casarem, passam a morar nos andares superiores com as esposas e os filhos.

No prédio da família de Turan, além dele, a esposa e a filha, moram os seus pais e dois irmãos com as esposas e filhos. Até o momento, Lygia só teve notícias da mãe dele.

"Hoje [quarta] conseguimos contato com a mãe dele que foi socorrida e levada para um hospital. Ela está muito abalada, mal consegue falar e sequer conseguiu nos passar a localização dela para que tentássemos enviar ajuda", detalha Lygia.

A psicopedagoga conta que diversos prédios desabaram e a cidade está devastada, cenário que dificulta a chegada de ajuda. No caso de seu amigo, as buscas no local ainda não começaram a ser feitas.

Até quarta os vizinhos relataram que era possível ouvir barulhos sob os escombros. Mas a cidade está devastada, é difícil chegar ajuda. Não há profissionais suficientes, os civis estão ajudando, mas mesmo assim é muito complicado

Lygia tem assistido a noticiários turcos na tentativa de ter mais informações sobre a situação do país, além de manter contato diário com amigos que estão em outras áreas da Turquia.

Desabamento - Adem Altan/AFP - Adem Altan/AFP
Desabamento em Kahramanmaras, epicentro do terremoto
Imagem: Adem Altan/AFP

"É uma aflição muito grande. A gente se sente impotente, é horrível não conseguir ajudar nossos amigos", acrescenta.

A família do marido de Lygia mora em Kocaeli, cidade a 100 km de Istambul e distante do epicentro do terremoto. Na cidade não houve tremores.

No dia em que tudo aconteceu não tínhamos notícias da nossa família, não conseguíamos contato porque o sinal de internet foi afetado e os telefones ficaram fora de área, foram momentos terríveis. Mas todos estão bem

Ainda segundo a psicopedagoga, em 1999, quando um terremoto atingiu a Turquia e deixou 17 mil mortos, seu marido morava no país.

"Ele está muito abalado com tudo o que a Turquia está passando. Além de termos amigos que estão sofrendo lá, a falta de informação nos deixa muito aflitos. O povo turco é muito nacionalista e muito unido. O que dói em um, dói em todos."