Rússia manteve 6 mil crianças em campos de reeducação, diz estudo de Yale
Crianças de 4 meses a 17 anos foram levadas para instalações na Rússia e na Crimeia para serem "reeducadas". A ideia do governo russo seria dar novas instruções sobre cultura nacional, história e sociedade à nova geração. Além disso, alguns campos tinham treinamento com arma de fogo, mas não há evidências de crianças enviadas para combate.
Os alunos tiveram o currículo escolar revisado e participavam de viagens de campo a locais patrióticos e palestras de veteranos. O relatório foi divulgado ontem pela Universidade de Yale com apoio do Departamento de Estado dos Estados Unidos.
Evidências crescentes expõem os objetivos do Kremlin de negar e suprimir a identidade, história e cultura da Ucrânia. Os impactos devastadores da guerra de Putin sobre as crianças da Ucrânia serão sentidos por gerações.
Nathaniel Raymond, pesquisador
O estudo identificou 43 campos e outras instalações que faziam parte de uma "rede sistemática em larga escala" coordenado nos níveis mais altos do governo da Rússia, inclusive pelo presidente Vladimir Putin. Os campos de reeducação começaram a ser operados após a invasão russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022. O relatório indica que ao menos 6 mil crianças e adolescentes participaram do programa, mas acredita-se que o número "provavelmente é significativamente maior".
O levantamento também indica que a Rússia dificulta a volta das crianças para suas casas. Um funcionário do campo de Medvezhonok disse a um menino que seu retorno era condicional: as crianças seriam devolvidas apenas se a Rússia recapturasse a cidade de Izium. Outra criança ouviu que não voltaria para casa porque tem "opiniões pró-ucranianas".
Pais também recebem informações controversas, apontaram pesquisadores. Autoridades diziam que as crianças só seriam liberadas se os responsáveis fossem buscá-los pessoalmente, mas parentes e pessoas com procuração não foram autorizadas. Além da dificuldade de viajar para a Rússia, homens entre 18 e 60 anos são proibidos de deixar a Ucrânia, o que significa que apenas as mães das crianças podem recuperá-los.
Uma parcela significativa dessas famílias é de baixa renda e não tem condições financeiras para fazer a viagem. Algumas famílias foram forçadas a vender pertences e viajar por quatro países para se reencontrar com seus filhos.
Trecho do relatório
Em alguns casos, os pais foram pressionados a dar consentimento para mandar seus filhos a "acampamentos", na esperança de que eles voltassem. Em duas instalações, a data de retorno das crianças foi adiada em semanas. Em outros dois locais, a data foi adiada indefinidamente. Um dos campos está localizado no oblast de Magadan, a cerca de 6.230 km da Ucrânia. Isso o coloca "cerca de três vezes mais perto dos Estados Unidos do que da fronteira com a Ucrânia". Também há casos de pais que negaram a participação dos filhos, mas não tiveram a vontade.
Algumas crianças foram transferidas pelo sistema e adotadas por famílias russas ou enviadas a um orfanato na Rússia. Em coletiva de imprensa, o pesquisador de Yale, Nathaniel Raymond, afirmou que o relatório poderia ser uma evidência de que a Rússia cometeu genocídio durante a guerra na Ucrânia já que a transferência de crianças "para fins de mudança, alteração ou eliminação da identidade nacional pode constituir um ato componente do crime de genocídio".
Em muitos casos, a Rússia pretendia evacuar temporariamente as crianças da Ucrânia sob o disfarce de um acampamento de verão gratuito, apenas para depois se recusar a devolver as crianças e cortar todo contato com suas famílias.
Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA
Promotores ucranianos estão examinando as alegações de deportação forçada de crianças para construir uma acusação de genocídio contra a Rússia.
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