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Fuga e ameaça: por que crianças estavam no avião que caiu na Amazônia

Crianças foram levadas de helicóptero para município da região antes de serem levadas de avião para Bogotá - Iván Velásquez Gómez/Twitter
Crianças foram levadas de helicóptero para município da região antes de serem levadas de avião para Bogotá Imagem: Iván Velásquez Gómez/Twitter

Colaboração para o UOL, em São Paulo

13/06/2023 04h00

As quatro crianças que passaram 40 dias perdidas na Amazônia colombiana após a queda de um avião estavam indo ao encontro do pai, Manuel Miller Ranoque, que, desde abril, foge por ser ameaçado por um dos grupos dissidentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

O que aconteceu:

Manuel disse que é ameaçado de morte pela Frente Carolina Ramírez, um grupo dissidente das Farc. Desde 1º de abril, ele foge do grupo guerrilheiro, quando deixou a cidade onde morava, em Caquetá, sem avisar a família.

No mês seguinte, em maio, sua esposa, Magdalena Mucuty, e os quatro filhos Lesly Mucutuy, 13, Soleiny Mucutuy, 9, Tien Mucutuy, 4, e Cristin Mucutuy, 1, embarcaram em um avião monomotor para encontrá-lo, mas a aeronave caiu na selva amazônica. Magdalena, o piloto e uma liderança indígena morreram no acidente. As crianças conseguiram sobreviver graças aos conhecimentos que possuem da natureza.

Ranoque afirma ser alvo da Frente Carolina Ramírez dado ao seu conhecimento da área em que morava. Ele diz temer que os criminosos usem seus filhos para pressioná-lo a ajudá-los.

Após o acidente, ele pretende morar em Bogotá, capital da Colômbia, ao lado dos filhos. "Acho que vou morar em Bogotá porque tenho problemas com a Frente Carolina Ramírez, que está querendo me matar. Eu sou alvo porque conheço toda aquela área", declarou à imprensa local.

O grupo dissidente das Farc foi detectado pelas autoridades colombianas em 2018. A Frente Carolina Ramírez opera com tráfico de drogas, é fortemente armado e força indígenas a trabalharem em prol de seus interesses.

A Frente Carolina Ramírez é considerada herdeira da antiga frente 48 das Farc. O grupo não aderiu ao acordo de paz firmado entre as Forças Revolucionárias da Colômbia e o Estado colombiano em 2016. O pacto firmado naquela ocasião pôs fim a 56 anos de conflito armado, quando cerca de 13 mil guerrilheiros entregaram 8.994 armas à ONU (Organização das Nações Unidas).

O atual presidente da Colômbia, Gustavo Petro, buscou acordos de cessar-fogo com os grupos dissidentes das Farc para obter a paz no país. Entretanto, no mês passado, Petro suspendeu unilateralmente o pacto com os dissidentes após esses criminosos matarem quatro menores de idade da etnia indígena Murui na Amazônia colombiana.

Crianças foram encontradas 40 dias após acidente

Elas se perderam depois que o avião em que viajavam com a mãe caiu na Amazônia.

A operação de busca e resgate envolveu mais de 100 militares. Durante a operação, um abrigo feito com galhos na selva foi encontrado pelos agentes.

O Exército informou que as crianças se alimentaram das frutas silvestres da mata e de kits de sobrevivência espalhados estrategicamente pelo Exército. Na sexta-feira (9), elas receberam atendimento médico e uma primeira avaliação apontou desidratação e algumas picadas de mosquitos.

As crianças foram levadas para Bogotá e em seguida encaminhadas para um hospital. Os quatro passam bem e estão fora de perigo, conforme relatório médico divulgado à imprensa.