Quem é o presidenciável russo que provoca Putin e o chama de 'muito gentil'

Igor Girkin, ultranacionalista e ex-oficial da inteligência russa que está preso, anunciou recentemente sua candidatura à presidência da Rússia em 2024 para tentar substituir Vladimir Putin.

Em uma declaração em seu canal no Telegram, onde acumula mais de 700 mil inscritos, ele elogiou com ironia o atual mandatário russo, dizendo que o considera "muito gentil" para ser alguém que diz não se deixar "levar pelo nariz" dos ocidentais.

Ele também listou vários pontos que mostrariam sua capacidade de liderar o maior país em extensão territorial do mundo.

Quem é Igor Girkin?

Igor Girkin, conhecido também como Igor Strelkov, nome de guerra que significa atirador, tem 52 anos e é um blogueiro militar e ex-comandante militar da autoproclamada RPD (República Popular de Donetsk), após ter sido coronel do FSB (Serviço Federal de Segurança) da Rússia.

Formado em história e de viés monarquista, Girkin era obcecado por história militar. Um colega seu de faculdade, Instituto Estatal de História e Arquivos de Moscou, contou ao New York Times que ele parecia uma pessoa "que vive no começo do século 20".

No início da década de 1990, ele se juntou a separatistas na ex-Moldávia soviética (região da Transnístria) e na Bósnia, e lutou contra separatistas na Chechênia após se alistar ao exército russo.

Ele foi um dos protagonistas na insurgência pró-Rússia em 2014, quando começou o conflito entre Kiev e os separatistas do leste da Ucrânia, sendo responsável por liderar uma milícia que tomou a cidade ucraniana de Sloviansk. No mesmo ano ele renunciou ao posto de Ministro da Defesa da república autoproclamada.

"Eu puxei o gatilho da guerra", falou Girkin ao jornal nacionalista Zavtra, quando descreveu como liderou quatro dúzias de "voluntários" armados que cruzaram a fronteira da região de Donetsk. Ele se vangloriou de ter ordenado a tortura e execução de funcionários pró-ucranianos, tendo realizado ao menos um deles, conforme a rede Al Jazeera.

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Envolvido no caso do voo MH17

Enquanto estava no posto de ministro, ele teria contribuído para o abate do voo do MH17 da Malaysia Airlines, que fazia a rota Amsterdã-Kuala Lumpur.

O avião foi atingido no ar em 17 de julho de 2014, quando voava território ucraniano controlado pelos separatistas. Todas as 298 pessoas a bordo morreram.

Uma investigação conjunta entre representantes da Austrália, Bélgica, Malásia e Holanda concluiu que o avião foi abatido com um míssil de origem russa.

O caso foi levado ao tribunal holandês. Em 2019, além de Igor Girkin, procuradores acusaram outros dois russos — Sergey Dubinsky e Oleg Pulatov —, e um ucraniano chamado Leonid Kharchenko. Girkin negou as acusações.

Contudo, em 2022 o tribunal considerou Girkin culpado de assassinato em massa por seu papel na tragédia e ele foi condenado a prisão perpétua na Holanda. Residente da Rússia, sua condenação na Holanda não surtiu efeitos.

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Em seu país natal, ele é ainda cofundador do grupo político ultranacionalista chamado Angry Patriots Club (algo como Clube dos Patriotas Irritados, em tradução livre).

Prisão

Girkin tem se posicionado pró-guerra contra a Ucrânia, país que, segundo a agência Reuters, ele não considera soberano e diz que grande parte de seu território é pertencente à Rússia, apesar de realizar fortes críticas contra a postura militar do Kremlin.

Procurado na Ucrânia por crimes de guerra e condenado à prisão perpétua na Holanda, Girkin acabou sendo preso em julho na Rússia acusado de incitamento ao extremismo.

Coincidentemente, sua detenção ocorreu após duras críticas a Putin, chamando-o de "canalha" e "vagabundo covarde", semanas após rebelião do grupo paramilitar Wagner.

"Por 23 anos o país foi liderado por um canalha que conseguiu 'soprar poeira nos olhos' de uma parte significativa da população. Agora ele é a última ilha de legitimidade e estabilidade do Estado. Mas o país não será capaz de suportar mais seis anos deste vagabundo covarde no poder", teria escrito ele no Telegram, segundo a CNN.

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No momento, ele segue sob custódia e aguarda julgamento da acusação de "chamadas públicas para realizar atividades extremistas" e pode ser condenado a cinco anos de prisão, informou a agência AFP.

Sua prisão é vista como uma tentativa de aumentar o controle do Kremlin sob os fomentadores da guerra.

Por décadas Putin tolerou apoiadores cuja declarações extremistas fazem ele próprio ter um perfil moderado e calmo. Alguns deles chegaram a propor uma guerra contra os EUA e outros elogiaram campos de concentração russos para LGBT+.

Segundo disse à Al Jazeera o analista baseado em Kiev, Aleksey Kushch, Igor Girkin era parte de uma "oposição radical oculta que é controlada por autoridades e apresenta roteiros ainda mais monstruosos para a guerra".

Desafio da candidatura

O anúncio da sua possível candidatura foi feito em seu canal do Telegram e já possui mais de 850 mil visualizações.

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Entretanto, se condenado suas ambições vão por água abaixo, já que as eleições estão previstas para março de 2024.

Seu desafio é enorme: caso queira realmente ser candidato, ele precisa colher 500 assinaturas de eleitores russos para aprovação de registro da autonomeação. Se aprovado, ele passa a ser obrigado a coletar pelo menos outras 300 mil assinaturas de eleitores.

*Com informações da AFP, Reuters, CNN e Al Jazeera

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