Brasileiro na Palestina: Israel minou acordo de paz, não deixou muita opção
O brasileiro e morador da Cisjordânia Akram Affaneh relatou no UOL News da tarde desta segunda-feira (9) que o conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas gera uma "situação de muito medo".
Israel reuniu mais de 100 mil soldados de reserva perto da Faixa de Gaza, território palestino de onde partiu o ataque de sábado (7), e determinou um "cerco completo" no local, com corte da eletricidade, de combustíveis e alimentos.
Até o momento, o ataque do Hamas e a reação israelense deixaram mais de 1.300 mortos, segundo autoridades.
Uma coisa muito importante que a gente tem que entender é que nos últimos 30 anos houve uma tentativa de negociação e a chegada a um acordo de paz com Israel, construindo um estado palestino para os palestinos e Israel tendo um estado para eles.
Nesse processo de paz, quando os governos de extrema direita de Israel chegaram ao poder, eles praticamente anularam qualquer processo de paz com o lado palestino. Nesses últimos 30 anos, quando Israel não aceitou e não abriu portas para mais negociações para que fosse criado o estado palestino, criou-se uma frustração muito grande entre os palestinos.
Infelizmente, nos últimos 30 anos, Israel não deixou muita opção para os palestinos.
Ele também diz que espera que o conflito piore ainda mais nos próximos dias.
A situação é muito crítica e o sentimento que a gente tem aqui é que vai ter uma escalada muito grande nos próximos dias. Israel chamou seus reservistas hoje e, quando eles fazem isso, parece que são para as guerras que duram mais. A gente estima que isso vai durar semanas.
Durante essa semana, especialmente no sábado, a gente viu filas em postos de gasolina, aglomerações em supermercados e pessoas tentando comprar mantimentos em mercados. É uma situação de muito medo.
Professora: Israel corta recursos de Gaza há anos; cerco é crime de guerra
O corte de recursos promovido por Israel contra a Faixa de Gaza acontece há anos e não só agora com o agravamento do confronto, contou durante o UOL News da tarde desta segunda-feira (9) a doutoranda em Relações Internacionais e pesquisadora do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais da PUC-SP Isabela Agostinelli.
Esses cortes ocorrem há muito tempo. A diferença é que, agora, esse corte é total. Cotidianamente, [ocorre] desde 2005, quando Israel retirou seus assentamentos de Gaza, ou seja, quando israelenses deixaram de viver em Gaza, que foi selada, literalmente. Gaza é considerada a maior prisão a céu aberto do mundo, justamente porque o controle fronteiriço de Israel não deixa quase ninguém entrar e sair. São poucos palestinos que conseguem sair para trabalhar em Israel ou Cisjordânia.
Isabela Agostinelli
A questão do controle da infraestrutura também ocorre cotidianamente. O controle da eletricidade e da água são comprados pelos palestinos via empresas israelenses. Essa é uma violação do direito humanitário e também do direito da ocupação, que tem suas próprias regras e são constantemente violadas pelo estado israelense, mas que, infelizmente, a comunidade internacional não fala nada.
Essa declaração do ministro da Defesa de Israel de que eles estão em estado de guerra e que, portanto, vão bloquear todas as fronteiras de Gaza e a entrada de alimentos, água e eletricidade, é mais um crime de guerra de Israel que se soma a diversos outros crimes.
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Quero receberIsabela explica que essas medidas podem levar ao "colapso" da Palestina.
O que a gente pode esperar e que já está acontecendo, é o colapso da sociedade palestina em Gaza. Muitas pessoas já morreram e estão sofrendo, não conseguindo sair de lá mesmo que o estado israelense faça alertas informando que as pessoas devem sair de lá. Vão sair para onde?
Israel x Hamas: Situação parece insolúvel; aliados de Israel como EUA insuflam conflito, diz Tales
O colunista do UOL Tales Faria também comentou o conflito e diz que "está todo mundo errado".
É uma situação que me parece um tanto insolúvel e insuflada pelos Estados Unidos e por alguns aliados de Israel.
É o tipo de situação que acho que está todo mundo errado.
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