Não vou ficar calma até os brasileiros saírem de Gaza, diz jovem resgatada
A jovem brasileira Shahed Al-Banna, 18, que chegou ao Brasil com um grupo de 32 resgatados na Faixa de Gaza, disse ao UOL que quer ajudar os brasileiros que ainda estão na região do conflito e que não vai "ficar calma até eles saírem de lá".
O que eu tô mais pensando agora, o que eu tô mais querendo, é tentar ajudar o resto do brasileiros que estão na Faixa de Gaza ainda e o resto da minha família, presos ainda, porque a situação ainda está muito difícil, então não vou ficar calma até eles saírem de lá.
Shahed Al-Banna, brasileira resgatada
O que aconteceu
Hospedada no hotel da FAB (Força Aérea Brasileira) desde que desembarcou ontem em Brasília, Shahed viaja nesta quarta com outras 25 pessoas para São Paulo — o seu destino final.
A jovem morou na capital paulista, mas se mudou para Gaza há um ano e meio para acompanhar a mãe que teve câncer e foi se despedir dos parentes no país de origem. A mãe de Shahed morreu quando elas chegaram à região palestina.
Uma das lembranças que ela carrega da mãe e do seu estado é um colar com o mapa e a bandeira da Palestina. "Muito importante porque comprei com minha mãe", disse.
De volta ao Brasil, Shahed também sonha em começar a faculdade que foi interrompida com o início da guerra entre Israel e Hamas. "Eu estava começando a fazer faculdade lá, mas começou a guerra, então não consegui começar direitinho", declarou.
Ela conta que viu várias opções de cursos no Brasil e ainda não conseguiu decidir. "Eu sempre pensei em ser piloto de avião", disse a jovem.
'Uma honra conseguir estar aqui'
Outro brasileiro que vai recomeçar a vida no Brasil, é Hasan Rabee, 30, que nasceu em Gaza e tem cidadania brasileira. Ele também chega a São Paulo nesta quarta para encontrar o restante da sua família e retomar seu trabalho de comerciante. "Vamos voltar a trabalhar e ao mesmo tempo, sábado e domingo, passear".
Hasan saiu de São Paulo para visitar a mãe no final de setembro e não conseguiu retornar ao Brasil com o início da guerra. Nas primeiras semanas da guerra, disse para suas filhas que as bombas eram comemoração de festas de aniversário — sem ter como manter essa versão, conta que o clima era de muito de medo quando aviões israelenses se aproximavam.
Em solo brasileiro, Hasan afirma que as crianças estão felizes com a nova rotina. "As crianças de ontem para hoje estão brincando, porque elas ficaram 37 dias presas, não podiam sair de casa. Elas estão muito felizes", diz.
A mãe e a irmã dele ficaram em Gaza e aguardam a autorização de Israel para que elas consigam sair da região. Nesta terça, Hasan ainda não tinha conseguido falar com elas.
Sentimos muita alegria de conseguir chegar aqui com saúde, com vida, uma honra conseguir estar aqui.
Hasan Rabee, comerciante
Brasileiros resgatados de Gaza
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Quero receberApós semanas de intensa negociação do Itamaraty, a saída dos brasileiros da Faixa de Gaza começou na manhã do domingo (12) quando o grupo de 32 pessoas foi para o controle migratório palestino da região e, depois, seguiram para o Egito.
No país, foram recepcionados pela embaixada do Brasil no Cairo e passaram pelos trâmites migratórios para entrada no Egito. Na sequência, seguiram para o Cairo em veículos contratados pela embaixada do Brasil no Egito e na segunda (13) embarcaram no avião da FAB (Força Aérea Brasileira), cedida pela Presidência da República.
A aeronave transportou 22 brasileiros e 10 palestinos —parentes dos brasileiros trazidos no voo. Os passageiros são 17 crianças, nove mulheres e seis homens. Todos foram recebidos no Brasil pelo presidente Lula, primeira-dama Janja e ministros do governo.
Em Brasília, 28 resgatados ficaram hospedados por dois dias no hotel da FAB, com alimentação, cuidados médicos e psicológicos e acesso a serviços de regularização da documentação. Os outros 4 foram para sua residência na capital federal.
Nesta quarta, o avião da FAB vai transportar 26 pessoas até Guarulhos, em São Paulo. Outras duas vão para Florianópolis, em Santa Catarina. Parte das pessoas que vão desembarcar no estado paulista será encaminhadas para um abrigo no interior de São Paulo.
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