Sequestro de policiais, invasão de TV: o que se sabe sobre a Los Choneros

A onda de violência que deixou ao menos 13 mortos no Equador está relacionada à fuga de um dos líderes da facção Los Choneros, que comandam parte do tráfico de drogas no país desde os anos 1990.

Los Choneros surgiram na província de Manabí, no litoral equatoriano. Seu fundador, Jorge Busmarck Véliz España, já tinha uma atuação pequena no tráfico de drogas e pretendia controlar o porto da região.

O grupo conseguiu sucesso no início dos anos 2000 e virou braço armado de um cartel colombiano com ligações no México e nos Estados Unidos. Foi nessa época que eles começaram a ter conflitos com rivais pelo controle das rotas de drogas. O Equador é um dos principais corredores de cocaí na com destino aos Estados Unidos e à Europa.

Hoje, estima-se que a facção tem ao menos 12 mil membros, com forte presença principalmente na costa do Equador, segundo o pesquisador Guillaume Long, ouvido pela Deutsche Welle.

Violência é problema antigo em penitenciárias do Equador

Ao longo da última década, governos equatorianos transferiram vários membros influentes da facção para outros presídios, na tentativa de desarticular suas lideranças, que continuaram comandando o crime de dentro do cárcere.

Mas a medida não foi eficiente, já que as facções criaram subgrupos dentro das cadeias. Los Choneros é um dos grupos mais violentos dentro do sistema penitenciário do Equador.

O país é um dos três mais violentos da América Latina, com mais de 7 mil homicídios em 2023, segundo o Observatório Equatoriano de Crime Organizado (OECO) — ficando atrás apenas de Venezuela e Honduras.

Fuga de líder de facção deu início ao caos no país

José Adolfo Macías, o Fito, fugiu da prisão no domingo (8). Ele é um dos líderes dos Choneros e ganhou mais poder recentemente, depois do assassinato de parceiros.

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Chefe da facção estava preso há 13 anos. Ele estava na cadeia de Guayaquil, mas não foi encontrado pelas forças militares que entraram na prisão no domingo, quando ele deveria ser transferido para uma outra unidade de segurança máxima.

José Adolfo Macías Villamar, mais conhecido como Fito
José Adolfo Macías Villamar, mais conhecido como Fito Imagem: Reprodução/X/@lupaycedazo

Ele cumpria uma pena de 34 anos de prisão por narcotráfico, homicídio e crime organizado.

Candidato à presidência assassinado em 2023 afirmou que sofria ameaças de morte do traficante. O nome de Filo foi mencionado por Fernando Villavicencio, morto a tiros em setembro do ano passado, quando chegava a um evento de campanha.

Após confirmação da fuga do traficante, rebeliões começaram em vários presídios do país, com um número não divulgado de guardas reféns. Horas depois, já na segunda (9), o presidente Daniel Noboa declarou estado de exceção no Equador, permitindo a intervenção das Forças Armadas no sistema penitenciário.

Criminosos sequestraram policiais, colocaram fogo em carros e invadiram até TV. Oito pessoas foram mortas em ataques no porto de Guayaquil e dois policiais foram "cruelmente assassinados por criminosos armados" na cidade vizinha de Nobol. De noite, a polícia encontrou um carro incinerado com mais três corpos, totalizando 13 pessoas.

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O presidente Daniel Noboa assinou um decreto executivo declarando "Conflito Armado Interno" em meio ao estado de emergência, que deve durar 60 dias.

Mais de 3 mil militares procuram Fito. Ainda não há confirmação de como e quando o criminoso fugiu, mas a polícia já descartou que tenha sido por um túnel, considerando a hipótese de que ele tenha conseguido fugir pela porta da frente da cadeia, segundo o jornal local Primicias.

A fortuna do criminoso é de cerca de US$ 17 milhões (cerca de R$ 83 milhões), o que permitiu que ele "comprasse funcionários e tivesse muitos benefícios e privilégios nas cadeias", segundo análise da DW.

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