'Salvou a minha vida': quem é a última mulher a viver com pulmão de ferro

Após a morte de Paul Alexander, norte-americano que sobrevivia com a ajuda de um pulmão de ferro há mais de 70 anos, Martha Lillard, de Oklahoma, é a última pessoa a ainda usar o método.

Conheça Martha Lillard

Martha Ann Lillard, natural da cidade de Shawnee, em Oklahoma (EUA), começou a usar o pulmão de ferro ainda criança. Ela ficou paralisada pela poliomielite em 1953, aos cinco anos de idade. Agora, tem 75.

Pouco mais de uma semana depois de comemorar seu aniversário, ela acordou com dores na garganta e no pescoço. Sua família a levou ao hospital, onde ela foi diagnosticada com a doença.

Lillard ficou seis meses internada. No hospital, ela foi colocada no pulmão de ferro, que é uma câmara hermética de metal de cerca de dois metros de comprimento que funciona como uma espécie de ventilador gigante, auxiliando na respiração de pacientes como ela.

Os pacientes ficam deitados dentro de equipamento, apenas com a cabeça apoiada do lado de fora. Uma vedação ao redor do pescoço do paciente cria um vácuo enquanto o dispositivo faz o trabalho de um diafragma humano —criando pressão para que os pulmões da pessoa se encham de ar e depois esvaziem.

Em entrevista à NBC News em 2013, ela relembrou o exato momento em que foi colocada no aparelho. "Quando fui colocada nisso pela primeira vez, foi um grande alívio", disse.

Desde então, Lillard usa o dispositivo. Embora a maioria dos pacientes só tenha usado o pulmão de ferro durante algumas semanas ou meses, sempre dependendo da gravidade da paralisia, ela segue com o mesmo método até hoje. Por isso, não pôde ter as mesmas vivências que outras crianças, como, por exemplo, frequentar a escola.

Em entrevista à Rádio Diaries, ela contou que tentou outras formas de ventilação, mas não se adaptou. "Eu tentei todas as formas de ventilação. O pulmão de ferro é a mais eficiente, melhor e mais confortável", considerou.

Eu só queria que as pessoas entendessem que não é que eu quero estar no pulmão de ferro. Isso não é verdade. Eu preferiria não precisar disso. Mas às vezes, quando chego lá, digo 'obrigado!'. É maravilhoso entrar nisso. Foi o que esteve lá e que salvou minha vida. E eu sei que é a única coisa que me manteve aqui.
Martha Lillard à Rádio Diaries

Continua após a publicidade

Também à NBC News, ela reforçou não ter se adaptado a outros métodos. "Algumas pessoas disseram que prefiro morrer a deixar meu pulmão de ferro, e isso faz parecer que não estou tentando ser moderna, e não é nada disso", contou.

Problemas com manutenção

O pulmão de ferro foi inventado em 1928 por Philip Drinker e Louis Shaw, ambos pesquisadores da Universidade de Harvard, nos EUA. A vacina para a poliomielite só foi aprovada e administrada a crianças no país em 1955. Segundo o The Guardian, os últimos pulmões de ferro foram fabricados no final dos anos 1960.

Após anos de uso, na década de 1990, Lillard teve problemas com a manutenção de seu aparelho. De acordo com o site NPR, ela buscou hospitais e museus que poderiam ter alguns dispositivos antigos, mas ou eles os jogaram fora, ou não quiseram se desfazer da coleção. Então, ela acabou comprando um de um homem em Utah —e essa é a máquina que ela usa até hoje.

Porém, o desgaste das peças segue sendo seu principal problema. A vedação ao redor do pescoço que cria o vácuo para o funcionamento do dispositivo, por exemplo, não é mais produzida.

Deixe seu comentário

Só para assinantes