Conteúdo publicado há 3 meses

Casos de botulismo são investigados após pacientes comerem pesto na França

Cinco casos de botulismo estão sendo investigados na França após pacientes comerem molho pesto supostamente contaminado, comprado em uma feira regional.

O que aconteceu

Cinco pessoas tiveram de ser hospitalizadas após consumo de molho pesto. Segundo o site Sky News, o Ministério da Agricultura da França afirmou que os pacientes ingeriram o molho em uma festa de aniversário antes de passarem mal. Quatro pessoas foram ao hospital no último sábado (7), e a quinta foi internada no domingo (8).

Governo pediu para população se desfazer de potes de molho adquiridos na feira. Patrice Latron, porta-voz do governo de Indre-et-Loire, onde ocorreram os casos, afirmou que as autoridades locais estão tentando encontrar os 600 potes de pesto que foram distribuídos pela região antes que sejam consumidos. "Pessoas que compraram o mesmo molho devem jogá-lo fora", disse.

Amostras foram enviadas ao Instituto Pasteur. Além disso, foi emitido um recall de todos os potes de molho, que teria sido fabricado por um pequeno produtor local.

Ministério da Agricultura francês pediu que quem comeu o pesto fique "vigilante". "Considerando o tempo de incubação (de algumas horas a alguns dias) e a gravidade da doença, as pessoas que consumiram estes produtos são chamadas a estar muito vigilantes e a consultar um médico em caso de sintomas", diz a pasta.

O que é o botulismo?

Causado por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum, o botulismo é uma doença grave que causa paralisia dos músculos, tem evolução rápida e pode levar à morte. Na realidade, não é a bactéria em si que causa a doença, mas, sim, uma toxina produzida por esse micro-organismo. "É essa toxina que gera todas as manifestações clínicas do botulismo", explica Julio Henrique Onita, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.

Até o momento, há quatro tipos identificados da doença:

  • Botulismo infantil: essa forma de botulismo é mais comum em crianças com idade entre 3 e 26 semanas e pode ser desencadeada pelo consumo de mel de abelha nas primeiras semanas de vida, conforme apontado pelo Ministério da Saúde.
  • Botulismo alimentar: é a forma mais comum, surgindo pela ingestão direta da toxina presente em alimentos contaminados, que podem ter sido produzidos ou conservados de maneira inadequada, como conservas vegetais, salsicha, presunto, carne ou outros itens enlatados, fermentados e queijos.
  • Botulismo por ferimento: considerada uma das formas mais raras de infecção, esse tipo de botulismo é causado pela contaminação de ferimentos pelas toxinas produzidas pela C. botulinum.
  • Botulismo iatrogênico: tão raro quanto o botulismo por ferimento, esse tipo da doença ocorre quando uma quantidade excessiva de toxina botulínica é injetada por motivos médicos ou estéticos, como na remoção de rugas, por exemplo.
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A bactéria pode ser encontrada no solo, em alimentos e em fezes de animais sob a forma de esporos. Esses esporos, que são unidades de reprodução, são estruturas resistentes que se formam em condições desfavoráveis. Em lugares com falta de oxigênio, como é o caso de conservas de alimentos, os esporos da bactéria começam a liberar a toxina.

No botulismo alimentar, a contaminação acontece por ingestão de toxinas em alimentos contaminados e que foram produzidos ou conservados de forma inadequada. O contato com a bactéria pode acontecer por meio de alimentos em conservas e embutidos de vegetais e frutas (principalmente as artesanais, como por exemplo palmito, picles); carnes e derivados cozidos, curados ou defumados de maneira artesanal; pescado defumados, salgados e fermentados; frutos do mar; leite; e derivados. Raramente a transmissão acontece com alimentos enlatados industrializados.

A prevenção está nos cuidados com alimentos. É importante atenção na hora de higienizar os produtos e as mãos, e a recomendação é evitar ingerir alimentos em latas estufadas, vidros embaçados, embalagens danificadas ou com alterações no cheiro e aspecto. Antes do consumo, o ideal é ferver ou cozinhar por 15 minutos produtos industrializados e conservas caseiras.

Quais os principais sintomas da doença?

Os primeiros sinais mais evidentes do botulismo incluem fraqueza muscular, pálpebras caídas, voz fraca, vertigem, secura na boca e visão turva. As informações são da Mayo Clinic, centro de referência dos EUA,

Contudo, a principal manifestação clínica do botulismo é uma neuropatia aguda flácida, que se caracteriza por uma paralisia súbita. Segundo Onita, isso acontece devido ao bloqueio de certos nervos na placa neuromuscular, responsável pelo controle dos músculos, o que resulta na perda de movimentos. "Também é conhecida como 'flácida' devido à falta de rigidez muscular. Os músculos ficam moles e fracos", explica o médico.

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Em geral, nos casos de contaminação alimentar, essa paralisia é simétrica, afetando ambos os lados do corpo, como ambos os braços e as pernas, enquanto o estado de consciência da pessoa permanece intacto. "É importante observar que, embora possa haver diminuição dos batimentos cardíacos, a pressão arterial tende a permanecer normal. Outro aspecto interessante é a ausência de febre.

Como é feito o diagnóstico?

A suspeita geralmente acontece com base na apresentação clínica, que inclui as paralisias características. Se a pessoa apresenta essas paralisias juntamente com fatores de risco ambientais, como consumo de alimentos específicos ou exposição a feridas contaminadas, a suspeita é reforçada.

Também existem testes disponíveis para confirmar o diagnóstico, que detectam a presença da toxina produzida pela bactéria. Nesse caso, os testes são feitos por meio de amostras clínicas (sangue, fezes ou lavagem gástrica) e por análise das sobras dos alimentos e das feridas, em caso de suspeita de botulismo alimentar ou por ferimento.

Apesar de ser possível contar com essas formas de diagnóstico, o fato de ser uma doença rara acaba dificultando o processo de detecção por parte dos médicos. Geralmente, muitos outros exames são realizados antes de o botulismo ser considerado, justamente por não ser tão comum. "Além da paralisia, a doença pode evoluir para uma eventual parada respiratória. Tudo isso colabora para que seja caracterizada como uma doença grave", ressalta Onita.

Existe tratamento?

Segundo Onita, as opções de tratamento incluem medicações específicas, porém pouco utilizadas devido à baixa incidência da doença. Esses medicamentos incluem a antitoxina e a imunoglobulina, que consistem em uma grande quantidade de anticorpos específicos direcionados contra a toxina produzida pela bactéria C. botulinum. É importante ressaltar que esses remédios são administrados apenas quando há suspeita da doença, visando reduzir as complicações, embora não possam reverter os danos já causados.

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Nos casos mais graves, o tratamento do botulismo é principalmente de suporte. Devido à paralisia muscular, há o risco de comprometimento da musculatura respiratória, levando à asfixia ou insuficiência respiratória. Portanto, uma assistência médica de qualidade é muito importante.

Quanto à reversão da doença, Onita explica que isso depende do grau de gravidade. Nos casos mais leves, há maior potencial, enquanto nos casos mais graves, a assistência inicial é crucial. "Embora a mortalidade seja superior nos casos graves, uma assistência adequada pode colaborar, sim, com a reversão da paralisia, embora isso dependa de reabilitação e leve um tempo significativo", destaca o médico.

Como prevenir?

De acordo com o Ministério da Saúde, as melhores formas de prevenir o botulismo são:

  • Não consumir alimentos em conserva que estiverem em latas estufadas, vidros embaçados, embalagens danificadas, vencidas ou com alterações no cheiro e no aspecto;
  • Produtos industrializados e conservas caseiras devem ser fervidos ou cozidos por pelo menos 15 minutos antes de serem consumidos. O aquecimento dos alimentos pode eliminar as toxinas do botulismo;
  • Lavar sempre as mãos;
  • Não manter ou conservar alimentos a uma temperatura acima de 15ºC;
  • Evitar o consumo de mel por crianças com menos de 2 anos (nessa fase, elas ainda estão adaptando sua flora intestinal aos novos alimentos, podendo assim, desenvolver quadros graves da doença).

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