EUA: Oriente Médio abre debate de candidatos a vice, mas tem pouco espaço
O primeiro e único debate entre os candidatos a vice-presidente dos Estados Unidos, o democrata e governador Tim Walz e o republicano e senador J.D. Vance, foi realizado em Nova York pela CBS, nesta terça-feira (1º), às 22h (horário de Brasília).
Oriente Médio foi o primeiro tema do debate
Primeiro tema do debate foi a tensão no Oriente Médio, mas discussão durou apenas alguns minutos. O assunto foi pouco explorado por candidatos e âncoras. Os candidatos foram questionados sobre como os Estados Unidos devem se posicionar frente ao conflito envolvendo os países da região, principalmente após o ataque do Irã contra Israel nesta terça-feira (1º).
A primeira pergunta foi se Walz apoiaria um ataque preventivo de Israel contra o Irã. O democrata destacou o seu apoio a Israel, afirmando que a capacidade defensiva deles é "extremamente fundamental" após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Apesar disso, ele reiterou o discurso de Kamala Harris e apontou ser importante recuperar os reféns e acabar com a crise humanitária na Faixa de Gaza.
Vocês viram a experiência hoje onde, junto com nossos parceiros israelenses e a coalizão, nós conseguimos impedir o avanço do ataque [do Irã]. É claro que uma liderança forte vai ser importante.
Tim Walz, democrata
Na sequência, o candidato passou a criticar Donald Trump e sua política externa. "Quando nossos aliados virem Trump se voltar para Vladimir Putin, se voltar para a Coreia do Norte, quando começarmos a ver esse tipo de inconstância em manter as coalizões unidas... [Nós] permaneceremos comprometidos", acrescentou.
Questionado pelas âncoras sobre o tema, Vance usou o tempo para se apresentar aos espectadores. Ele falou sobre sua formação e currículo, aproveitando para elogiar Trump por "proporcionar estabilidade" ao mundo com uma política de dissuasão. Por fim, ele respondeu que cabe a Israel decidir o que fazer no conflito, ainda dizendo que o ex-presidente "consistentemente tornou o mundo mais seguro".
Âncora interrompida por republicano ao rebater fala sobre imigração
Apresentadora rebateu afirmação de republicano sobre imigração. A âncora disse que há muitos imigrantes haitianos legais na cidade de Springfield, em Ohio, ao contrário do que foi dito pelo candidato. Walz foi o primeiro a mencionar Springfield, em referência às alegações falsas de Trump e Vance de que os imigrantes locais estariam comendo animais de estimação das pessoas.
Mesmo sem tempo disponível, Vance cortou a fala da jornalista e apontou que entre as regras do debate haveria uma verificação de fatos.
Ele continuou: "Já que vocês estão fazendo isso comigo é importante falar o que está acontecendo, não é verdade?". O político acrescentou que há um aplicativo, administrado pelo governo, onde os imigrantes podem aplicar para ter o status legal no país e voltou a criticar a imigração ilegal no território norte-americano.
Depois da fala, e após conversas paralelas de ambos sobre imigração, os microfones dos candidatos foram silenciados. Em meio a isso, as âncoras anunciaram o próximo tema do debate.
Aborto
Walz declarou que o aborto é um "direito humano básico" e é um cuidado de saúde. Ele explicou que, como governador de Minnesota, possibilitou medidas que fornecessem o procedimento às mulheres que vivem no estado, pois "acreditamos nas mulheres e nos médicos".
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Quero receberO político chegou a citar casos de mulheres. Entre as ocorrências estavam mulheres que sofreram danos na saúde ou que morreram após não conseguir ter acesso ao procedimento nos estados onde viviam nos Estados Unidos. Ele ainda disse não ser "pró-aborto", mas, sim, "pró-mulher" e a favor da liberdade das mulheres fazerem suas próprias escolhas.
Democrata rebateu alegação de Trump e negou que ele e Kamala apoiariam o aborto no nono mês de gestação. O governador ainda disse acreditar que, se Trump vencer as eleições, deverá criar um sistema para monitoramento de gestações. "Vai ficar mais difícil, se não impossível, obter contraceptivos e limitar o acesso, se não eliminar o acesso, a tratamentos de infertilidade."
Vance negou que pretenda criar um sistema de monitoramento de gravidez. O republicano disse desejar "proteger as vidas inocentes do país e os vulneráveis" e citou querer que o partido dele seja "pró-família". Entre as propostas de governo estão facilitar o tratamento de fertilidade e que famílias jovens consigam comprar uma casa para poder viver. Ele voltou a defender que cada um dos estados criem suas leis sobre a política de aborto, decidindo se o acesso ao procedimento será liberado.
Momento de tensão ocorreu quando Vence acusou o governador de ter assinado um estatuto. No suposto documento, os médicos seriam obrigados a não prestar assistência a um bebê que teria resistido a um procedimento de aborto. "Não é verdade, não é verdade. Não é isso que está lá", afirmou o democrata, de modo incisivo.
Armas de fogo e tiroteios em massa
No debate, Vance falou em "epidemia de violência por armas". O senador apontou que ele e Walz concordam que os EUA precisam ser melhores neste sentido — o democrata balançou a cabeça positivamente durante a afirmação do rival. Ele sugeriu que a segurança nas escolas precisa melhorar, com reforços das portas e janelas, e policiamento.
Já Walz disse que o filho dele, de 17 anos, presenciou um tiroteio em massa — e Vance lamentou o caso. O candidato acrescentou que ele e Kamala têm armas, assim como outras pessoas do país, e que eles não desejam "demonizar" os armamentos.
Todavia, o governador de Minnesota questionou: "Você quer que as escolas se pareçam como um forte? É isso que nós temos que fazer quando nós sabemos que há países no mundo todo que crianças não estão tendo que se preparar para esse tipo de ocasião [de tiroteios em massa]?".
O candidato a vice de Kamala acrescentou: "Essas são coisas que não deveriam ser tão difíceis. Vocês ainda podem ficar com suas armas de fogo e nós podemos fazer a diferença. Temos que fazer isso."
Mais temas e considerações finais
O debate também abordou diversos temas específicos e de interesse da população norte-americana. Foram eles: furacão Helene e as mudanças climáticas, economia, habitação, saúde, licença parental e democracia.
Nas considerações finais, Walz disse estar supreso com coalizão construída por Kamala. Ele citou os nomes de Bernie Sanders, Dick Cheney e mesmo da cantora Taylor Swift. O candidato a vice ressaltou que os membros da coalizão são otimistas e acreditam em um "futuro positivo para esse país, onde a política pode ser melhor do que é hoje". "Não a liberdade do governo de estar no seu quarto ou sala de exames, mas a liberdade de você fazer escolhas sobre si mesmo", destacou.
Já Vence agradeceu a Walz e os espectadores pelo debate, e criticou Kamala. O senador apontou que conseguir suprir as necessidades básicas — como aquecimento, moradia e comida — "ficou mais difícil por causa das políticas da democrata". Ele destacou que a candidata disse que vai resolver diversos problemas quando for presidente, porém, "ela é vice-presidente há três anos e meio". "O primeiro dia foi há 1.400 dias", afirmou. "Nós precisamos de mudança, uma nova direção, um presidente que já tenha feito isso antes e bem. Vote em Donald Trump", concluiu.
Regras do debate
Debate foi realizado em Nova York, em estúdio da CBS. Diferentemente do último confronto direto entre Donald Trump e Kamala Harris, que ocorreu no "estado roxo" da Pensilvânia, o debate entre Walz e Vance será realizado em um estado tradicionalmente democrata, onde Biden venceu por mais de 20 pontos percentuais na última eleição. Nenhum tópico de debate ou questionamento foi compartilhado com qualquer equipe, segundo a CBS.
Confronto teve microfones abertos e estúdio vazio. As equipes dos dois candidatos concordaram em um debate de 90 minutos com dois intervalos de quatro minutos, e que nenhum deles realizará discursos de abertura. Ao contrário do debate presidencial, os microfones ficaram abertos durante todo o confronto, mas os moderadores poderiam desligá-los.
Candidatos realizaram perguntas entre si. Walz e Vance não puderam levar anotações ou objetos, mas tiveram dois minutos para realizar perguntas e dois minutos para respondê-las, além de um minuto extra para uma réplica. Caso os moderadores julgassem que a discussão merecia uma continuação, poderiam também ceder um minuto adicional.
Quem é Tim Walz, candidato a vice de Kamala Harris
Tim Walz é professor aposentado e ex-oficial não comissionado do Exército. Timothy James Walz nasceu em West Point, Nebraska, onde se formou em ciências sociais pela Chadron State College e conheceu a esposa Gwen Whipple. Após mudarem para o Minnesota, em 1996, Walz trabalhou como professor de geografia em Mankato. Ele também serviu à Guarda Nacional por 24 anos, de 1981 a 2005.
Foi membro do Congresso por um distrito com tendência republicana. Ele se candidatou pela primeira vez em 2006, quando derrotou o republicano Gil Gutknecht nas eleições gerais. Walz foi reeleito em 2008 com 62% dos votos, tornando-se o segundo congressista não republicano a conquistar um segundo mandato por Minnesota. Também venceu em 2010, 2012, 2014 e 2016.
Como governador, defendeu e promoveu políticas progressistas. Eleito em 2018 e empossado em 2019, Walz logo foi forçado a conciliar duas grandes crises: a pandemia de covid-19 e o caso George Floyd, um homem negro foi morto por um policial branco após ter o pescoço pressionado pelo joelho do agente durante uma abordagem. Minneapolis, a maior cidade do Minnesota, acabou tomada por protestos pela morte de Floyd, o que desencadeou manifestações antirracistas nos EUA durante muitos meses.
Republicanos o acusam de ser muito 'frouxo' no combate ao crime. Os democratas, em contrapartida, elogiam seu histórico na defesa dos direitos civis, com uma agenda que inclui refeições gratuitas nas escolas, metas para combater as mudanças climáticas, cortes de impostos para a classe média e a proteção do direito ao aborto — questão transcendente nas discussões da campanha eleitoral.
Tem apelo comprovado entre eleitores brancos e rurais. Embora defenda pautas como os direitos reprodutivos das mulheres, por exemplo, Walz também demonstrou uma tendência conservadora ao representar um distrito rural no Congresso, apoiando interesses agrícolas e as armas.
Quem é J.D. Vance, candidato a vice de Donald Trump
Vance tem 40 anos e nasceu em Middletown, Ohio. Ele é senador pelo estado onde nasceu desde 2023. Em seu site, J.D. se apresenta como "conservador outsider, fuzileiro, empresário e autor".
J.D. tem três filhos e é formado em direito. Ele e a esposa, Usha Chilukuri Vance, são pais do Ewan, de 7 anos, Vivek, 4, e Mirabel, 2. Vance é formado pela Universidade Estadual de Ohio e pela Faculdade de Direito de Yale.
Sua juventude conturbada foi descrita no livro autobiográfico Hillbilly Elegy, que foi transformado em filme pela Netflix. O filme "Era uma vez um sonho", em português, retrata a história da Família Vance. J.D. e a irmã mais velha foram criados pela mãe, que sofria com o vício em drogas, e pelos avós maternos. Em sua biografia, ele apresenta a avó, apelidada de Mamaw, como sua grande salvadora, pois "seu amor e disciplina o mantiveram no caminho certo".
J.D. mudou de nome após abandono paterno. O candidato a vice foi registrado como "James Donald Bowman", mas decidiu colocar o sobrenome materno após ser abandonado pelo pai biológico.
Vance serviu aos Estados Unidos na Guerra do Iraque. Ele se alistou no Corpo de Fuzileiros Navais após se formar no ensino médio.
Candidato a vice já teria comparado Trump a Adolf Hitler. J.D. chamou o ex-presidente de "idiota", "nocivo" e "repreensível" em um post publicado no Twitter e no Facebook, em 2016, e desenterrado por usuários algum tempo depois. O deputado estadual democrata Josh McLaurin, antigo colega de quarto de Vance, também divulgou o print de uma suposta mensagem recebida do republicano. "Eu oscilo entre pensar que Trump pode ser um babaca cínico como Nixon, que não seria tão ruim (e pode até ser útil) ou que ele pode ser o Hitler da América".
*Com informações da CBS News e CNN Internacional
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