Tensão no Oriente Médio: o que pode acontecer após o ataque do Irã a Israel

Após ataque realizado pelo Irã contra Israel na terça-feira (1º), o novo episódio da guerra desencadeou reações geopolíticas imediatas entre nações e levantou a preocupação sobre uma provável escalada da guerra no Oriente Médio.

O que aconteceu

Israel promete retaliar o Irã após os ataques de mísseis de terça-feira (1º). Contudo, de acordo com especialistas ouvidos pelo UOL, a dimensão e o momento dessa reação ainda são incertos.

Especialistas acreditam que a resposta de Israel pode provocar uma escalada da guerra. Agentes importantes no cenário mundial, incluindo os Estados Unidos e Rússia, podem dar um novo desenho ao conflito.

O ataque do Irã provocou reação de Benjamin Netanyahu. Horas após os mísseis iranianos serem lançados, o líder israelense apontou para uma retaliação e disse que o Irã "pagará o preço", após dizer que o ataque foi um "erro grave".

Essa foi a maior demonstração de força do Irã. Mesmo sem vítimas relatadas por Israel, o ataque provocou um alerta sobre o atual momento da tensão no Oriente Médio. Na noite de terça (1º), Patrick S. Ryder, porta-voz do Pentágono, disse que o ataque recente foi duas vezes maior do que a incursão aérea de abril.

Em abril, forças iranianas já haviam dado uma "resposta" a Israel lançando mísseis contra o país. À época, o Irã informou que a ação foi em legítima defesa, após um consulado do país em Damasco, Síria, ter sido destruído por Israel, provocando a morte de sete militares.

Agentes externos podem atuar em defesas de Israel e Irã, mas é pouco provável que se envolvam militarmente. Os Estados Unidos já se manifestaram publicamente dizendo que manterão o apoio a Israel. No ataque de terça, Joe Biden reforçou a defesa do país aliado - inclusive abatendo mísseis do Irã.

Os EUA provavelmente continuarão a fornecer inteligência e apoio logístico a Israel para qualquer retaliação, como fizeram em ataques anteriores, dizem especialistas. O trunfo estadunidense é a tecnologia massiva, principalmente com a atuação de satélites.

É menos provável, contudo, que americanos atuem em ataques diretos a estruturas estratégicas iranianas. Caso estruturas como usinas e refinarias sejam destruídas, haveria o desencadeamento de problema global envolvendo o fornecimento de petróleo — afetando diretamente os EUA.

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O futuro do conflito é imprevisível. A gente pode esperar uma retaliação israelense com um novo ataque. Isso, dependendo da escala que for feito, pode gerar um envolvimento de russos e americanos ainda maior no conflito. Rússia protege Irã, e EUA protegem Israel. A gente está vendo uma possibilidade de envolvimento maior. Mas eu não vejo os atores externos se envolvendo tanto militarmente. Mas acho que continua mais restrito aos grupos paramilitares, ou o Eixo da Resistência.
Bruno Huberman, professor de Relações Internacionais da PUC-SP

Interferência externas

O Eixo da Resistência é composto por Irã, Síria, o Hezbollah (do Líbano), os houthis (do Iêmen), e grupos paramilitares xiitas no Iraque. Os ataques iranianos foram justificados pelo país como resposta às mortes de líderes do Hamas, Ismail Haniyeh, e do Hezbollah, Hassan Nasrallah.

Desta vez, o ataque iraniano aconteceu após uma série de incursões aéreas israelenses em territórios com presença do grupo paramilitar Hezbollah, que tem apoio do Irã. Recentemente, também, o Exército de Israel iniciou uma ofensiva terrestre sobre território do Líbano.

Já foi defendido por membros da política israelense de que se deveria atacar as localidades do programa nuclear iraniano e refinarias. Isso causaria um declínio econômico forte e possivelmente uma derrubada do regime iraniano, que já foi defendido por Israel. Acho que não deve chegar a tento, já que isso afetaria a economia global, inclusive os Estados Unidos e outra potência interessada, a China. Eu tenho certeza de que a pressão americana é para que uma resposta seja limitada a alvos militares. Ainda assim, é muito difícil saber o que Netanyahu vai fazer.
Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM e especialista em estratégias de guerra

A presença norte-americana é um ato contínuo. É um apoio que não vai ser reduzido, independentemente dos excessos de Israel e independentemente da vitória de Trump ou Kamala nas eleições. Se houver maior presença dos Estados Unidos nessa reação, se desenhará um cenário bem diferente. Netanyahu mantém na guerra a qualquer custo, não sei se de forma calculada ou não. A opinião pública local está apoiando Netanyahu.
Natalia Calfat, doutora em ciência política e especialista em Oriente Médio

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O Irã, por sua vez, tem como forte aliada a Rússia. Mesmo que indiretamente, a Rússia atuaria em favor do Irã. Contudo, não há confirmação ou comunicado oficial do presidente Vladimir Putin neste movimento de defesa.

Para Nathalia Calfat, doutora em ciência política especialista em Oriente Médio, é menos provável que a Rússia se envolva diretamente numa possível escalada do conflito na região. Isto pelo fato da Rússia enfrentar um drama particular, o conflito ainda incerto contra a Ucrânia.

Rússia observa conflito no Oriente Médio com preocupação. Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da ESPM e especialista em estratégias de guerra, concorda que a nação liderada por Putin vai evitar ao máximo uma escalada militar.

Guerra no Oriente Médio pode interferir no conflito russo contra Ucrânia. Rudzit afirma que fornecedores bélicos importantes da Rússia se encontram no Irã, incluindo fábricas de drones utilizados no conflito europeu.

Putin não quer guerra porque, provavelmente, ficaria sem fornecedor em caso de ataque estratégico de Israel. Com ataques estratégico, fábricas de fornecedores, como de drones, por exemplo, poderiam ser destruídos, e eles teriam problemas na guerra com a Ucrânia. Putin está pressionando para não haver escalada.
Gunther Rudzit, professor de relações internacionais e especialista em estratégias de guerra

Em meio à possível intensificação e da participação de outros agentes no conflito que afeta o Oriente Médio, há a esperança de uma resolução pacífica. Os especialistas entendem que a escalada pode trazer consequências ainda mais sangrentas para as nações que compõem o conflito. Para eles, o ideal seria um consenso por cessar-fogo, mediado por outras nações e pela ONU (Organização das Nações Unidas). Contudo, apesar do apelo mundial, ao menos cinco acordos de cessar-fogo foram ignorados desde a expansão da guerra.

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Após o último ataque, o secretário-geral da ONU, António Guterres condenou a ampliação do conflito. "Isso precisa acabar. Precisamos absolutamente de um cessar-fogo", declarou. Uma reunião de emergência do Conselho de Segurança do Órgão foi marcada para discutir o conflito.

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