Conteúdo publicado há 1 mês

Repatriados do Líbano pedem cessar-fogo e acusam Israel de terrorismo

A investida terrestre do exército israelense contra líderes do Hezbollah fez com que cerca de 3.000 brasileiros solicitassem ajuda do governo brasileiro para retornar ao país. O primeiro voo de repatriação, da chamada "Operação Raízes do Cedro", realizada pelo governo federal em parceria com a Força Aérea Brasileira (FAB), chegou a Guarulhos (SP) na manhã deste domingo (6), com 229 brasileiros, sendo 10 crianças, além de três animais de estimação.

O empresário Rami Rkein, brasileiro naturalizado, protagonizou um dos momentos mais emocionantes na chegada ao país. Assim que desembarcou no avião da FAB, Rkein chorou ao abraçar o Lula. Na sequência, agachou-se e acenou aos céus. O empresário viajou do Recife para resgatar os pais no Líbano com o aumento das tensões. Ele relata ter perdido familiares no conflito e chamou o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de terrorista e genocida.

Segundo ele, o governo israelense é "covarde", pois avisa sobre os ataques aos vilarejos do Líbano pela madrugada e dá pouco tempo para dispersão nas zonas de conflito. "O povo está dormindo à noite, pela madrugada, e de repente vem o covarde do porta-voz de Israel, mostra um mapa com alvos em vermelho e dá 15 minutos para o povo sair. Depois, bombardeiam tudo e o povo precisa sair de casa com a roupa do corpo", afirma.

Ele complementa chamando Netanyahu de "terrorista". "Para que todo mundo saiba: Netanyahu é terrorista, genocida e covarde", bradou. "Eles são covardes e terroristas. É uma covardia dizer que tem bombas e armamentos embaixo de escolas e hospitais. Se ele acha que nesses lugares têm bombas, salve as crianças, as pessoas com deficiência, os idosos e as mulheres desses lugares antes de bombardear, mas não fazem isso... O mundo inteiro está vendo o que está acontecendo."

Cerca de 3.000 brasileiros manifestaram o desejo de retornar ao país em meio à invasão terrestre do exército israelense no Líbano. A tendência é que o Brasil reintegre cerca de 500 pessoas por semana.

O estudante Karim Halawi, de 21 anos, disse estava passando férias com o avô no sul do Líbano, lugar mais castigado pela ofensiva israelense, quando se deparou com ruídos de bombas e destroços. Partiu então para Beirute, capital do Líbano, em busca de segurança. "Assim que cheguei a Beirute, a guerra chegou na capital. Eu não imaginava que isso iria acontecer. Achei que a ofensiva seria só no sul mesmo", disse. "Quando eu descobri que conseguiria voltar para o Brasil, comecei a pular de felicidade em casa. Agora, eu estou abraçando a minha irmã, que estava no Brasil, a cada segundo."

Salim Kazem Kalaoun abraça Lula após chegar ao Brasil em voo de repatriados do Líbano
Salim Kazem Kalaoun abraça Lula após chegar ao Brasil em voo de repatriados do Líbano Imagem: Ricardo Stuckert/Presidência

O empresário Salim Kazem Kalaoun, de 76 anos, nasceu no Líbano, mas chegou no Brasil aos três anos - segundo ele, contrabandeado. Ele pediu a paz entre os povos da região e acusou Israel de acirrar os ânimos contra os árabes. "Se todos os envolvidos não se sentarem e negociarem um cessar-fogo permanente, e não um temporário, uma guerra de grandes proporções poderá acontecer", afirmou. Ele também foi ao Líbano se encontrar com familiares em meio à escalada das tensões na região.

O avião KC-30 da Aeronáutica já retornou à Lisboa, capital de Portugal, e deve seguir rumo ao Líbano na próxima terça-feira para um segundo resgate de brasileiros.

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Lula: 'Israel mata inocentes, mulheres e crianças'

Ao receber os primeiros brasileiros repatriados do Líbano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não poupou críticas à Netanyahu.

Em um discurso breve, mas inflado e com gritos de apoio dos repatriados, Lula afirmou que o governo de Netanyahu mata "inocentes, mulheres e crianças" e que não tem "nenhum respeito pela vida humana".

"O Brasil não deseja a guerra. A guerra só destrói. O que constrói é a paz", disse Lula. "Nós temos uma posição muito dura contra o governo de Israel matando inocentes, mulheres e crianças sem nenhum respeito pela vida humana. É a forma que Netanyahu encontrou para ficar no poder. É se vingar dos palestinos", complementou.

O presidente da República também disse que a guerra faz com que os países percam vidas, escolas e hospitais. "Eu já fui ao Líbano e a Beirute. É uma cidade maravilhosa, com um povo extraordinário", disse. "A vítima não é quem faz a guerra, é o povo inocente que não quer guerra. São as mulheres e nossas crianças."

"Enquanto tiver um companheiro seja brasileiro ou parente de brasileiros no Líbano que quiser vir para o Brasil, a gente vai buscar ele porque nós não deixamos ninguém para trás. Nós vamos tentar trazer todos aqueles que quiserem vir", afirmou Lula.

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A primeira-dama Janja Silva também aproveitou a oportunidade para discursar. Ela direcionou sua fala "aos homens do mundo" e pediu que "parem de matar nossas mulheres e crianças". "O mundo precisa de paz. Nós não precisamos de bombas e mais mortes", concluiu.

Vocês sabem que nós temos uma posição muito dura contra o ato do Hamas em Tel Aviv, mas nós temos uma posição muito dura contra o comportamento do governo de Israel matando inocentes, matando mulheres, matando crianças sem nenhum respeito pela vida humana.
Presidente Lula, ao receber repatriados


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