Uruguai vai às urnas escolher próximo presidente; pupilo de Mujica lidera
Mais de dois milhões de uruguaios vão às urnas neste domingo (27) para escolher o novo presidente do país. O vizinho brasileiro, com 3,4 milhões de habitantes, tem um candidato de esquerda liderando as pesquisas.
O que aconteceu
Esta é a segunda vez em que eleitores vão às urnas no país neste ano. A primeira delas, em junho, foi para escolher os candidatos que estariam nas cédulas para a presidência. "No Uruguai, todos os partidos fazem uma eleição interna, em que os eleitores escolhem os candidatos para [disputar a vaga para] a presidência. É muito parecido ao modelo dos Estados Unidos", explica Roberto Uebel, professor de Relações Internacionais da ESPM.
Assim como no Brasil, se o candidato mais votado não tiver mais de 50% dos votos, haverá segundo turno. As últimas pesquisas eleitorais projetam que o candidato que lidera a corrida tem cerca de 45% das intenções de voto, o que deve fazer com que os eleitores voltem às urnas em 24 de novembro para um "confronto final" entre os primeiros colocados.
Pleito também vai renovar cargos de senadores e de deputados. Além de presidente e vice, os eleitores escolherão 30 membros da Câmara de Senadores e outros 99 da Câmara de Representantes. Os mandatos para os dois cargos legislativos também tem prazo de cinco anos.
Votação no país é obrigatória. Segundo a Constituição, a reeleição de um presidente não é permitida no Uruguai. Com isso, Lacalle Pou, líder de direita que governa o país desde 2020, não pode seguir no cargo.
Cada partido apresenta seus programas amplamente. E nas eleições internas, que acontecem simultaneamente em todos os partidos, se elegem os integrantes do Órgão Deliberativo Nacional e do Órgão Deliberativo Departamental dos partidos políticos, que são responsáveis por definir os candidatos a deputados, senadores e outros cargos departamentais. Além disso, também se definem os candidatos únicos à presidência de cada partido.
Janina Onuki, coordenadora do Observatório Eleitoral das Américas da USP
Todos os candidatos eleitos nas eleições internas para aparecer nas urnas em 2024 são homens. Segundo a professora da USP, o sistema eleitoral do Uruguai é fortemente marcado por sua "disciplina partidária e estabilidade ideológica". Isso faz com que os partidos com mais visibilidade nas eleições costumem a "se repetir", mesmo que não sejam obrigatoriamente fixos.
Quem são os candidatos
Yamandú Orsi. Principal nome da esquerda, Orsi é prefeito de Canelones, no sul do país. Ele tem um nome influente dentro do partido Frente Ampla, que governou o Uruguai por 15 anos consecutivos. Aos 57 anos, o candidato é considerado herdeiro político do ex-presidente Pepe Mujica, um apoio que tem ajudado a empurrá-lo para a liderança nas pesquisas eleitorais.
Orsi é ex-professor de história. Durante seus discursos e entrevistas, ele pontuou a necessidade de trabalhar "dentro dos limites do Mercosul". Ao longo da campanha, ele também afirmou que quer lutar contra a pobreza infantil e promover políticas de auxílio à saúde mental dos uruguaios.
Alvaro Delgado. Nome eleito pelo Partido Nacional, Delgado é pupilo do atual presidente, Lacalle Pou. Ele é secretário da presidência no governo e também tem um nome de expressão dentro do partido, com histórico no senado uruguaio. Nas últimas pesquisas antes do pleito, ele apareceu em segundo lugar.
Veterinário de formação, Delgado prega a continuidade do trabalho feito pelo atual governo do país. Entre as propostas da campanha dele estão o fornecimento de refeições escolares em todos os dias do ano e fornecimento de cinco dias anuais de licença trabalhista para pais de crianças com menos de 3 anos.
Andrés Ojeda. Nome do Partido Colorado, Ojeda tem forte expressão nas redes sociais e é considerado um nome "fresco" na política uruguaia. Aos 40 anos, ele é advogado criminalista, e está na terceira colocação nas pesquisas.
Uma das propostas de governo dele é "promover a convivência pacífica e integrativa com os imigrantes" no país. Em entrevista à agência de notícias AFP, Ojeda se comparou a Javier Milei e a outros líderes "jovens" da América Latina, mas ressaltou que o papel do Estado é importante, "sobretudo em relação aos que têm menos".
Outros três partidos receberam votos suficientes para ter candidatos nas cédulas. Eles têm, porém, menos intenções de voto se comparados aos líderes das pesquisas. Guido Manini Ríos concorre pelo partido Cabildo Abierto; César Vaga pela sigla Ecologista Radical Intransigente e Pablo Mieres pelo Partido Independente.
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Quero receberPesquisas apontam vantagem de Orsi
Candidato de Mujica tem mais de 40% das intenções de voto. Nas últimas quatro pesquisas divulgadas no país, é possível ver Orsi oscilando entre 42% e 44%.
Com saúde debilitada e tratando um câncer, o ex-presidente de 89 anos apareceu em um evento de campanha de Orsi. Em discurso, Mujica afirmou que está perto de morrer e falou a eleitores em tom de despedida. "Quando meus braços acabarem, haverá milhares de braços substituindo na luta". disse.
Atrás de Orsi, o candidato da situação, Alvaro Delgado, tem oscilado entre 21% e 24% das intenções. Constitucionalmente, o atual presidente é proibido de fazer campanha eleitoral. Em 21 de outubro, porém, Delgado e Lacalle foram vistos almoçando juntos em um bar de Montevidéu. O presidente não deu declarações ao deixar o local, mas Delgado afirmou que aquele era uma tradição dos dois.
O que isso significa para o Brasil
As relações do Uruguai com o Brasil, principalmente por meio do Mercosul, podem ter rumos diferentes a depender do novo presidente escolhido. Apesar disso, em nenhum dos cenários projetados os especialistas veem uma situação danosa à relação dos vizinhos.
Existe uma maior afinidade do governo Lula com o candidato da Frente Ampla, dado o histórico de relações com a esquerda, com Mujica, e o alinhamento ideológico contribui para a aproximação.
Janina Onuki, coordenadora do Observatório Eleitoral das Américas da USP
Álvaro Delgado, sendo do mesmo partido de Lacalle Pou, manteria uma linha de continuidade nas relações com o Brasil, com uma abordagem pragmática e foco em comércio. Yamandú Orsi, da Frente Ampla, poderia adotar uma postura mais próxima de governos de esquerda da América Latina, o que poderia levar a ajustes nas prioridades das relações com o Brasil. Andrés Ojeda, do centro, provavelmente seguiria uma linha moderada e focada em questões econômicas. Um cenário favorável ao Brasil envolveria manter boas relações comerciais e estabilidade diplomática, o que poderia ser assegurado pelos três candidatos.
Roberto Uebel, professor de Relações Internacionais da ESPM
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