Jamil: Trump repete discurso golpista de 2020, mas muda um grande detalhe
O republicano Donald Trump, candidato à Presidência dos Estados Unidos, repete o discurso golpista de 2020, mas com a diferença no tempo de mobilização de sua base eleitoral, analisou o colunista Jamil Chade durante participação no UOL News Especial desta terça-feira (5).
Sem apresentar provas, Trump falou mais cedo em "trapaça" na votação da Filadélfia, maior cidade do estado-pêndulo da Pensilvânia. Ele fez uma publicação na Truth Social — plataforma lançada por ele após ser banido do Facebook e do antigo Twitter — e escreveu a seguinte frase. "Muita conversa sobre trapaça em massa na Filadélfia. A polícia está chegando!!!".
O republicano já fez movimento parecido nas eleições de 2016 e 2020, quando espalhou teorias conspiratórias e acusando, sem provas, democratas de tentarem corromper a eleição. No último processo eleitoral, por exemplo, o magnata chegou a declarar a vitória antes da hora. Acabou perdendo para o atual presidente Joe Biden.
Ele alegar que a eleição foi fraudulenta, que a sua eventual derrota não aconteceu. Bom, alguns pontos aqui... e eu acho fundamental a gente colocar isso numa perspectiva. Todo o debate em relação à sua reação de 2020, principalmente entre os especialistas e os estrategistas do Partido Republicano, era o seguinte: olha, aquela declaração de Trump, aquela tentativa de dizer que era fraudulenta, aconteceu tarde demais. Tudo aquilo tinha que ter acontecido antes, justamente para mobilizar.
Mobilizar o seu eleitorado, a sua base, para, de alguma forma, questionar de uma forma mais enfática a vitória de Joe Biden. Então, quatro anos depois, não apenas com esse discurso sendo construído, mas de uma forma antecipada. Então, nós não estamos esperando aqui a madrugada, nada disso. Já começa com esse discurso. Essa é só, eu diria, a ponta de um iceberg. Por que uma ponta de um iceberg? Porque, de fato, mais de 100 processos já foram iniciados na Justiça dos vários estados.
Jamil Chade durante o UOL News Especial
O colunista Leonardo Sakamoto disse que a construção de uma narrativa, semelhante ao que aconteceu quatro anos atrás, ocorre antes do anúncio de boca-de-urna.
Agora, ele já derrama, ele já estava fazendo isso nos últimos dias, derramando, colocando aqui e ali dúvidas sobre o processo eleitoral. Faz parte isso da cartilha autoritária, que é questionar o quê? Questionar o processo eleitoral. A gente já viu isso acontecer, inclusive, no Brasil, questionando candidatos que questionaram o Tribunal Superior Eleitoral, a Justiça Eleitoral. Então você questiona o processo eleitoral, questiona a lisura.
Bom, a construção de uma narrativa antes mesmo de qualquer tipo de anúncio de boca de urna, de qualquer tipo de contagem... com seus aliados, já passando notícias, suposta notícia, de maldades, que fracos problemas estariam acontecendo na eleição, para eventualmente construir justamente uma narrativa que justifique.
Leonardo Sakamoto ao UOL News Especial
Eleições disputadas nos EUA
Após meses de campanha intensa, com troca de farpas e acusações, a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump chegam no dia da votação para as eleições presidenciais americanas sem favoritismo. Os dois aparecem em várias pesquisas tecnicamente empatados.
A vice-presidente entrou na corrida eleitoral apenas em agosto, quando o partido decidiu substituir o atual presidente, Joe Biden, que tentava a reeleição à Casa Branca, em decorrência do desempenho ruim no primeiro debate. Ela aceitou o desafio e, desde então, passou a ser titular da chapa democrata.
Já a campanha do ex-presidente foi marcada por um atentado a tiro em julho. Trump foi atingido de raspão enquanto discursava no comício da Pensilvânia. O atirador, identificado como Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, foi morto pelo Serviço Secreto. Uma pessoa que estava no local morreu ao ser atingida por um dos tiros.
Além da eleição presidencial, os Estados Unidos também decidem, nesta terça, eleições para governador em 11 estados, além de 33 cadeiras no Senado e todas as vagas na Câmara.
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Nos Estados Unidos, o presidente não é eleito diretamente: os eleitores escolhem os representantes do colégio eleitoral (delegados) de seus respectivos estados. Na prática, o partido que vence em cada estado ganha um determinado número de "pontos", representados pelos delegados.
O candidato recebe todos os votos do estado, independentemente das porcentagens. Ou seja, se a votação ficar 51% a 49% em um estado com dez delegados, o candidato que teve mais votos levará os dez representantes.
É possível que um candidato receba a maioria dos votos populares, mas perca a eleição. Em 2016, por exemplo, Donald Trump teve quase três milhões de votos a menos do que Hillary Clinton, mas foi eleito porque somou 306 delegados. A mesma situação aconteceu nas eleições presidenciais de 1824, 1876, 1888 e 2000.
A Califórnia, Texas e Flórida são os que valem mais: são 54, 40 e 30 delegados respectivamente. Seis estados (Alasca, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Delaware, Vermont e Wyoming) e a capital Washington são os que têm menos delegados, com três cada um.
Os estados de Maine e Nebraska são os únicos que fogem à regra, usando o método do distrito congressional. Neste caso, os estados indicam dois votos de delegados para o vencedor no estado todo e mais um delegado para o vencedor em cada distrito.
Candidatos disputam os chamados estados roxos ou estados—pêndulo, que oscilam entre democratas e republicanos, os maiores partidos. É onde não há uma preferência definida entre os partidos.
- Michigan
- Nevada
- Pensilvânia
- Wisconsin
- Arizona
- Geórgia
- Carolina do Norte.
A Flórida já foi um estado roxo, mas, na última eleição, passou a ser considerado com uma tendência republicana.
O voto não é obrigatório, diferentemente do Brasil. os norte-americanos podem se abster de votar, e pessoas a partir dos 18 anos estão aptas a participar.
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