Trump tira do ar rádio que era alvo dos irmãos Castro em Cuba há 40 anos

O presidente dos EUA, Donald Trump, desmantelou uma rádio financiada pelo governo que enviava notícias para Cuba e que esteve na mira dos irmãos Castro há 40 anos.

O que aconteceu

Rádio Martí foi projetada para enviar notícias em espanhol e sem censura para Cuba. Ela atraía fúria do regime comunista por levar "discursos unilaterais de direita contra o governo cubano", segundo críticos ouvidos pelo New York Times.

Rádio foi desmantelada em meio a cortes do governo Trump. Ela está entre as dezenas de programas e agências que integram um pacote de cortes liderado também pelo conselheiro do presidente, Elon Musk. A ordem da vez foi a redução da USAGM (Agência dos EUA para a Mídia Global, em tradução livre), uma operação de quase US$ 1 bilhão que supervisiona as transmissões de notícias em 50 idiomas.

Com sede em Miami, a Rádio Martí foi fundada na década de 1980 por Ronald Reagan. A construção da emissora foi um pedido do então líder cubano-americano exilado Jorge Mas Canosa. O projeto tinha como objetivo adentrar na ilha que era rigidamente controlada pelo governo. Atualmente, a emissora funcionava transmitindo notícias sobre Cuba trazendo contrapontos em relação aos provedores estatais.

Emissora sofria críticas por ser "relíquia ultrapassada da Guerra Fria", segundo o New York Times. "Um desperdício inchado onde pessoas politicamente influentes encontravam empregos para seus parentes", acrescentou o jornal. A rádio também sofreu com escândalos jornalísticos e de corrupção que eram alvo de relatórios do Congresso, conforme a reportagem.

Rádio Martí
Rádio Martí Imagem: Wikipedia

No entanto, a rádio ganhou oito prêmios Emmy. "Cuba está passando por sua pior crise e, no meio dessa crise, esse fiasco de apagão de informações só beneficia o regime", disse Mario J. Pentón, jornalista cubano que trabalhou na rádio.

Equipe soube do encerramento das atividades por email. Segundo o New York Times, os jornalistas estavam em meio a uma entrevista quando a notícia chegou. Ramón Saúl Sánchez, ativista conhecido por liderar protestos para Cuba, teve o perfil cancelado. "Eles ficaram muito confusos. Disseram: 'Achamos que fomos demitidos. Precisamos ir embora'", disse ele sobre a situação.

Rádio era bloqueada em Cuba. A estação de TV até ganhou o apelido de "No See TV" (Não vejo TV, em tradução livre) devido ao bloqueio na ilha. Abel Fernández, diretor de mídia digital e social do canal, perdeu o emprego na última semana e disse que todos os conteúdos da emissora estavam bloqueados. "Mas as pessoas estão alcançando o conteúdo nas mídias sociais [que ainda estão ativas]. O que estamos fazendo é importante e importa para as pessoas", disse ele ao New York Times. Antes do fechamento, os índices de audiência só aumentavam.

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Emissora foi chamada de "podridão" por agente da USAGM. Kari Lake, nomeada por Trump para dirigir a emissora Voice of America da USAGM, descreveu a agência como uma "podridão gigantesca e um fardo para o contribuinte americano" e que "não pode ser salva".

Secretário de Estado, Marco Rubio, que é cubano-americano, chamou situação de "complexa". Ele disse que o presidente "foi eleito para tomar decisões difíceis" e que "a situação continua complexa". Os principais editores da rádio disseram que não estavam autorizados a falar sobre os cortes.

Os irmãos Fidel e Raúl Castro queriam a Rádio Martí fora do ar há 40 anos. Raúl fez uma exigência pública em 2015 para o fim da emissora. Na época, o então presidente Barack Obama, havia restabelecido as relações diplomáticas com a ilha. "Os Estados Unidos mantêm programas prejudiciais à soberania cubana, como projetos para promover mudanças em nossa ordem política, econômica e social", disse Raúl à época.

Medida de Trump foi celebrada pelo governo cubano. A agência de notícias estatal cubana Cubadebate comemorou a decisão de Trump, classificando os programas como "projeto de comunicação mais caro, fracassado e corrupto da história dos Estados Unidos". Randy Alonso, editor-chefe do Cubadebate, chamou a USAGM, que até então era responsável pela Rádio Martí, de "lodo digital". "O mais podre desses programas são aqueles direcionados a Cuba, uma nação contra a qual bilhões de dólares foram gastos sem que se conseguisse derrubar a Revolução (Cubana)", escreveu.

*Com informações da Reuters

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