Pesquisa aponta que amigos do Facebook incentivam voto de usuários da rede social
Javier Sampedro
Em Madri
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Chris Jackson/Getty Images
Em apenas algumas horas do dia 2 de novembro de 2010, dia de votação das últimas eleições para o Congresso dos Estados Unidos, uma simples mensagem no Facebook levou às urnas 340 mil pessoas que de outra forma teriam se abstido.
A maior experiência social da história – que teve como amostragem os 61 milhões de norte-americanos em idade de votar que entraram no Facebook naquele dia – revela que as redes sociais são um modo eficaz de promover comportamentos no mundo real. E a mensagem é o menos importante; o principal é saber o que sua lista de amigos fez com ela.
A pesquisa é obra de James Fowler e seus colegas dos departamentos de Ciências Políticas, Psicologia e Genética Médica da Universidade da Califórnia em San Diego. Eles contaram com a colaboração de Adam Kramer e Cameron Marlow, dois pesquisadores do Facebook em Menlo Park, Califórnia, e apresentam seus resultados na revista Nature.
"A participação eleitoral é extremamente importante para o processo democrático", diz Fowler para justificar a experiência. "Nosso estudo indica que a influência social é a melhor forma de estimular a participação; e, de forma importante, mostramos que o que acontece online importa muito para o mundo real."
No dia das eleições de 2 de novembro de 2010, 61 milhões de norte-americanos em idade de votar entraram no Facebook. Os pesquisadores mostraram a 600 mil deles, selecionados ao acaso, uma mensagem que estimulava a votar, sem viés partidário. A mensagem tinha o título "Hoje é dia de eleições", um link para os colégios eleitorais da zona, um botão clicável de "já votei" e um contador com os usuários do Facebook que haviam clicado no botão até aquele momento. Este foi um dos grupos de controle.
A imensa maioria dos usuários – 60 milhões, arredondando um pouco – recebeu a mesma mensagem, mas com um acréscimo essencial: as fotos de seis amigos que diziam "eu já votei" (ou seja, aqueles que haviam clicado no botão). E, como segundo grupo de controle, outros 600 mil usuários, também escolhidos ao acaso, não receberam nenhuma mensagem.
Com essa imensa base de dados, Fowler e seus colegas puderam calcular que a mera mensagem informativa – o controle sem amigos – incrementou a participação em 60 mil eleitores. E que a mensagem social (a versão com amigos) aumentou em outros 280 mil participantes. No total 340 mil pessoas votaram graças à mensagem recebida.
Naturalmente, uma coisa é clicar no botão de "já votei" e outra coisa é ter votado. De fato, estudos anteriores indicam que muita gente mente dizendo que já votou para ser bem visto por quem pergunta. Os pesquisadores estavam plenamente conscientes disso, mas puderam medir com precisão a defasagem entre o virtual e o real, ou entre o que as pessoas dizem e o que fazem, porque em alguns Estados norte-americanos os registros de eleitores são púbicos, com nomes e sobrenomes.
Isso permitiu que a equipe de San Diego calculasse que 4% dos que apertaram o botão não foram votar na realidade. Essa porcentagem de eleitores da boca para fora, ou do botão fácil, já foi descontada dos resultados apresentados acima. O aumento de participação de 340 mil pessoas são votos reais, não cliques do botão.
Por outro lado, é notável que 96% das pessoas que disseram ter votado de fato o tenham feito. Quanto aos 4% restantes, Fowler ressalta que esta parte da pesquisa foi preparada de forma que o Facebook não pudesse ver os dados do registro real de eleitores. Ninguém foi delatado na rede social por ter apertado o botão sem ter votado. Outra questão é quanto essa confidencialidade pode durar. E outra é se as centenas de pesquisas similares a serem realizadas no futuro a preservarão.
A principal lição do levantamento não é que as redes sociais servem para propagar um comportamento no mundo real, mas sim a forma precisa como o fazem. "A influência dos amigos é o que desempenha um papel essencial na mobilização política", disse Fowler. "Não é o botão de 'já votei', nem o título 'hoje é dia de eleições' que todos viram que fazem as pessoas saírem para votar; é a pessoa vinculada a isso."
Por exemplo, os amigos dos usuários que receberam a mensagem saíram para votar muito mais do que os amigos do grupo de controle, aqueles 600 mil que não receberam nenhuma mensagem. O efeito se estende ao segundo grau de separação, ou seja, aos amigos dos amigos que receberam a mensagem. E, talvez esperadamente, a influência mais poderosa é exercida pelos amigos mais próximos, que costumam ser aqueles com os quais as pessoas se encontram não só pela rede social, mas também na rua.
Talvez o mundo não tenha mudado tanto, depois de tudo.
Eleições 2012 nos EUA
Tradutor: Eloise De Vylder