Menina de 7 anos é peça-chave no mistério de família assassinada nos Alpes

Miguel Mora

  • Laurent Cipriani/AP

    Cena do crime onde 4 pessoas da mesma família foram mortas, nos alpes franceses

    Cena do crime onde 4 pessoas da mesma família foram mortas, nos alpes franceses

Quase duas semanas depois do quádruplo assassinato em Chevaline, junto do lago alpino de Annecy, onde em 5 de setembro foram abatidos a tiros três membros da família britânica de origem iraquiana Al Hilli e um ciclista francês que passava pelo lugar, a investigação continua estagnada, o promotor do lugar afirma que "não há suspeitos" e as notícias confirmadas pelos investigadores britânicos e franceses não permitem construir um relato que ajude a entender o mistério.

A única boa notícia é que a testemunha ocular da chacina, a filha mais velha dos Al Hilli, Zainab, de 7 anos, despertou do coma farmacológico induzido pelos médicos depois de receber um tiro no ombro e sofrer vários traumatismos cranianos. Na última sexta-feira (14) a menina foi transferida do hospital de Grenoble, onde estava internada, para um lugar secreto no Reino Unido e, segundo a mídia francesa, antes de partir contou aos policiais que só viu "um homem mau".

O promotor de Annecy, Eric Maillaud, um homem de poucas palavras, decidiu atuar com cautela tão extrema que o faz parecer muitas vezes o menos informado do caso. Os que o conhecem bem dizem que é uma estratégia de despiste, mas o caso é que Maillaud sempre dá bolas fora.

Sobre Zainab, limitou-se a dizer que "seu testemunho pode ser chave, embora o que uma menina de 7 anos diga nem sempre seja determinante, inclusive se for a única que viu algo".

Fontes oficiais só confirmaram que, quando despertou, Zainab perguntou por sua irmã menor, Zeena, de 4 anos, que saiu ilesa depois de se esconder durante oito horas sob a saia de sua mãe. Na cena do crime foram encontradas 25 cápsulas de balas, o que alimentou a teoria de que houvesse mais de um assassino. Se foi só um homem, disseram fontes francesas, ou o criminoso tinha duas pistolas ou teve muito sangue frio para recarregar a arma e continuar disparando. Os três mortos dentro do BMW da família eram o pai, Saad al Hilli, 50; a mãe, Iqbal, 47, e a avó materna, Suhaila al Allaf, de nacionalidade sueca, origem iraquiana e 74 anos de idade.

Família é morta e criança sobrevive nos Alpes Franceses

Os detetives ainda parecem atravessar a longa fase inicial de eliminar hipóteses. A pista do conflito econômico entre o falecido Saad e seu irmão Zaid por causa de bens herdados na Espanha ou no Iraque parecia perder peso, enquanto ganhavam peso outras duas hipóteses não muito melhor explicadas por Maillaud: a origem iraquiana de Saad e sua profissão. Ele era engenheiro e trabalhava em uma empresa aeronáutica especializada em microssatélites.

As autoridades francesas enfrentam claras dificuldades para lidar com o passado de Al Hilli, segundo o promotor: "Não sabemos como trabalhar com o Iraque de maneira confiável". O elemento científico também disparou a imaginação dos jornalistas, que não demoraram a sugerir que Al Hilli era um espião. "Chega de fantasias", pediu, esta semana, um tenente da polícia.

O que parece certo é que, a não ser que o promotor esteja mentindo, a investigação não avança. Na última quinta-feira (13) Maillaud viajou a Londres e passou oito horas fechado com seus pares britânicos e outros agentes de Surrey. Estava acompanhado de Michel Mollin, um dos dois juízes de instrução do caso, e ao chegar declarou: "Estamos perfeitamente conscientes de que Annecy só é o lugar fortuito desse drama e que provavelmente a origem, as causas e a explicação se encontram no Reino Unido".

A viagem serviu para superar algumas dificuldades criadas pelas diferenças entre os sistemas jurídicos dos dois países. O promotor não passou pela casa dos Al Hilli em Claygate, que, segundo se soube do outro lado do canal, foi revistada "de forma muito meticulosa".

A linguagem típica dos tabloides coincide com as primeiras declarações televisivas do homem que descobriu o crime enquanto passeava de bicicleta. William Brett Martin, um ex-piloto da força aérea britânica, dono de uma segunda residência na região, descreveu a cena para a BBC como "um filme de Hollywood".

Contou que havia muito sangue, que o carro estava ligado e as rodas giravam, que o ciclista estava caído diante do carro sem a bicicleta, e depois encontrou a menina de 7 anos "titubeante, saindo do bosque, seriamente ferida". Martin concluiu: "Pensei que alguém fosse dizer 'Corta', mas lamentavelmente era a vida real".

Relembre: Avalanche deixa mortos e feridos nos Alpes
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Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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