Começa o conclave da renovação: Scola e Scherer partem como favoritos
Pablo Ordaz
Em Roma (Itália)
No último conclave, mesmo estando muito claro, foram necessárias quatro votações e dois dias para eleger o cardeal Joseph Ratzinger. Agora, a situação da Igreja Católica, e sobretudo do Vaticano, parece muito mais confusa que oito anos atrás.
Os especialistas apresentam dois nomes como principais favoritos, o italiano Angelo Scola e o brasileiro Odilo Scherer, mas também reconhecem que, se eles não forem eleitos no prazo de dois dias, o conclave surgido da renúncia de Bento 16 poderá projetar uma grande surpresa.
Durante dez longas reuniões, 161 cardeais pediram a palavra para falar da situação da igreja. Muitos deles, sobretudo os mais desafetos à cúria, questionaram a gestão do cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, sobretudo nos dois escândalos que mais atormentaram a igreja nos últimos meses: o caso Vatileaks --o vazamento da correspondência privada de Joseph Ratzinger-- e a gestão do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o Banco do Vaticano.
Os dois assuntos deixaram claro mais uma vez que o governo da igreja precisa de uma reforma urgente e que a opacidade do IOR diz muito pouco em favor da instituição que representa.
Não deixa de chamar a atenção que uma das últimas decisões de Bento 16 à frente do pontificado tenha sido a nomeação de um novo presidente do IOR --o anterior, Ettore Gotti Tedeschi, havia sido demitido pelo cardeal Bertone--, e que a última das dez congregações gerais realizadas pelos cardeais para preparar o conclave, na segunda-feira (11), também fosse dedicada ao estudo da situação do banco.
O secretário de Estado, em sua qualidade de presidente da comissão cardinalícia encarregada da vigilância do IOR, informou aos cardeais sobre a integração da entidade ao sistema bancário internacional. Não se deve esquecer que, depois de numerosas suspeitas, Bento 16 teve de aprovar, em dezembro de 2010, uma lei para lutar contra a lavagem de dinheiro nas instituições financeiras do Vaticano. Uma questão feia, ainda não resolvida.
Apesar de o padre Federico Lombardi ter falado pouco sobre o conteúdo das congregações gerais, é tido como certo que os 115 cardeais eleitores que se fecharam na terça-feira na Capela Sistina já têm um retrato-robô do novo papa. Fala-se sobretudo no cardeal Angelo Scola, que é um italiano não muito ligado à cúria, e no cardeal Odilo Scherer, que sim, o é, embora --por se tratar de um brasileiro com sobrenome alemão-- possa parecer alguém alheio à burocracia vaticana.
A questão é que nem um nem outro parecem corresponder ao perfil de um papa capaz de animar a igreja, de superar os escândalos tão recentes --"as águas baixavam agitadas e Deus parecia adormecido", disse Bento 16 em sua última audiência pública-- e enviar uma mensagem de esperança aos católicos em um momento de crise mundial. Há alguém com esse perfil entre os 115 cardeais que se encerraram na Capela Sistina? Se houver, passou despercebido ao radar dos especialistas.
O momento desse candidato diferente dos favoritos Scola ou Scherer chegará, segundo os especialistas, caso o conclave se prolongue por mais de dois dias. Nesse momento, os cardeais poderiam buscar alternativas diferentes daquelas de antes de entrar no conclave, nos dias anteriores em Roma, de congregação geral em congregação geral e de restaurante em restaurante.
Conclave para escolha do novo papa
A ninguém escapa que em muitas ocasiões os jogos de poder tiveram um papel fundamental na eleição dos papas, mas também que, em uma situação tão estranha quanto a atual --com um papa emérito, a sombra tão recente dos escândalos, a força dos cardeais americanos--, a incerteza é maior que nunca e pode acabar em surpresa.
Na segunda-feira, o padre Lombardi disse que a primeira fumaça seria "provavelmente preta". Disse-o com um sorriso, como que querendo avisar que nem uma, nem duas, nem três fumaças pretas representam um fracasso.
Se, por outro lado, se chegar ao fim de semana sem um novo papa, se desatarão o nervosismo e as especulações. E embora os 90 ajudantes do conclave --de sacerdotes a motoristas-- tenham jurado guardar segredo, não seria de estranhar que comecem a vazar rumores sobre disputas e desacordos.
Alguns dos cardeais eleitos começaram na segunda-feira à noite a se despedir de seus fiéis através de suas contas no Twitter. Não diziam grande coisa, os habituais chamados à oração e ao Espírito Santo para que ilumine a eleição.
O mais curioso foi o do cardeal italiano Gianfranco Ravasi. Tuiteiro empedernido, deixou temporariamente o vício com uma mensagem curta que parecia uma advertência para alguns de seus colegas: "O que se enaltece será humilhado e o que se humilha será enaltecido" (Mateus 23,12).
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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