Processo contra informante do Wikileaks é um aviso para Snowden e Assange
Walter Oppenheimer
Em Londres
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Patrick Semansky/AP
29.jul.213 - O soldado Bradley Manning é escoltado para um veículo de segurança, que o espera do lado de fora do tribunal, em Fort Meade, Maryland
Para o Pentágono, o processo contra Bradley Manning é muito mais que um ajuste de contas pessoal com o soldado que decidiu vazar para o WikiLeaks material sigiloso muito comprometedor para os EUA: trata-se de abrir um precedente para dissuadir os que sonham em seguir seus passos e transformar-se em heróis da transparência. Ao absolvê-lo da acusação de ajudar o inimigo, a sentença deixa o Pentágono a meio caminho de seu objetivo.
Nessa lista de heróis há outros dois nomes, embora por razões muito diferentes: Edward Snowden e Julian Assange. O primeiro está há cinco semanas no limbo da zona de trânsito do aeroporto de Moscou, esperando que a Rússia lhe dê asilo ou que possa voar para algum país disposto a recebê-lo, como Venezuela, Bolívia ou Nicarágua. O segundo está há mais de 13 meses na embaixada do Equador em Londres, para não ser deportado à Suécia, o primeiro passo, segundo ele, de sua entrega às autoridades dos EUA.
O que os une é seu acesso a material secreto dos EUA. Manning, como soldado destacado em Bagdá. Snowden, como subcontratado pela Agência Nacional de Segurança (NSA na sigla em inglês) para explorar suas qualidades como hacker informático. Assange, como fundador e ideólogo da maior máquina de divulgação de segredos, o WikiLeaks. Os três representam um fenômeno novo que deixa clara a fragilidade dos serviços secretos, sobretudo os americanos, incapazes de controlar quem tem acesso à crescente quantidade de informação que processam. E o mais difícil é evitar que as pessoas continuem roubando informação sigilosa.
Snowden é reclamado pelos EUA, que o acusam de roubar propriedade pública, divulgar sem autorização informação sobre a defesa nacional e entregar a outra pessoa sem autorização informação classificada da inteligência. Tudo isso como conseqüência de que, graças a ele, o jornal londrino "The Guardian" publicou várias informações sobre as atividades de espionagem dos EUA e do Reino Unido, incluindo a espionagem a governos europeus e à Comissão Europeia, e a colaboração mais ou menos forçosa dos grandes da internet, como Microsoft, Google ou Facebook.
Estava em Hong Kong quando "The Guardian" publicou suas primeiras remessas, voou para Moscou em 23 de junho e está em seu aeroporto desde então. Na semana passada se anunciou que a Rússia havia aceitado lhe dar asilo, mas isso ainda não ocorreu. A opção de voar para outro país não é fácil. Washington demonstrou até onde é capaz de chegar quando conseguiu que França e Portugal negassem a passagem por seu espaço aéreo do avião do presidente da Bolívia, Evo Morales, porque vinha de Moscou e pensavam que Snowden se encontrasse nele. Morales teve de aterrissar em Viena antes de poder seguir caminho para a Bolívia.
O de Assange é outra coisa. Os EUA não o reclamam, mas sim a Suécia, para esclarecer as acusações de violação e assédio sexual que duas suecas apresentaram contra ele. Assange partiu de Estocolmo para Londres horas antes que fosse emitida uma ordem de detenção, e desde junho do ano passado está refugiado na embaixada do Equador. Afirma que se o extraditarem para Estocolmo será sua primeira escala a caminho de Washington. Seus seguidores têm nele uma fé cega, e não param para pensar que se há um governo que o entregaria aos EUA de olhos fechados é o britânico, e não o sueco.
Assange reaparece de vez em quando no balcão da embaixada para que não nos esqueçamos dele, e se associou ao máximo ao caso de Snowden. Sua última estratégia foi apresentar-se para as próximas eleições na Austrália com um novo partido, o WikiLeaks.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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