Operação Lava Jato

Testemunho de Youssef é coluna vertebral do caso Petrobras

Pedro Cifuentes

Em Londrina (Paraná)

Corrupção no Brasil: de cambista a delator

"Ele sempre foi um contrabandista. Todos sabíamos", disse um morador de Londrina --cidade vaidosa do Paraná, com 500 mil habitantes-- sobre Alberto Youssef, seu cambista mais famoso, que passou de vendedor ambulante de empadas a manipulador de bilhões de reais e acabou na prisão de Curitiba por causa da operação Lava-Jato (porque utilizava lavanderias e postos de gasolina para seus negócios).

"Está destruído", dizem seus advogados.

Com 47 anos e doente do coração, ele perdeu 20 quilos desde que foi preso e ingressou quatro vezes no hospital.

Youssef é um reincidente. Suspensa a condenação de um caso anterior por colaborar com a Justiça --embora, no final, tenha sido condenado a quatro anos e dois meses de prisão--, Youssef se transformou em delator, convertendo o caso Petrobras em um barril de pólvora contra o establishment brasileiro. Foi sua família quem o convenceu a fazer um acordo de colaboração com a Justiça.

Com seus bens bloqueados, alguns de seus sócios detidos e seus parentes assediados, ele tinha essa opção ou a de passar os próximos 20 anos na prisão. Braço-direito do poderoso ex-deputado de Londrina José Janene, acusado no caso do mensalão, a morte deste o levou ao topo de uma gigantesca trama de desvio e lavagem de dinheiro.

Depois de décadas de experiência em pequenas operações à frente de sua agência de câmbio em sua cidade natal, se transfigurou em um lobista consumado. Era a engrenagem do sistema: fazia os telefonemas, entregava os malotes, ordenava as transferências, projetava a criação de empresas de fachada, negociava com as empreiteiras, cuidava dos agentes públicos, resolvia discrepâncias e, se necessário, pegava um avião particular para transferir somas elevadas ao outro extremo do país. Estima-se que a quantia desviada na Lava-Jato seja de US$ 4 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões).

Youssef explicou o funcionamento da trama de lavagem e revelou a existência de um clube de diretores de grandes empresas que dividiam uma porcentagem de cada obra da Petrobras com políticos importantes. Youssef intermediava o pagamento de propinas e doações ilegais para os partidos: a Polícia Federal descobriu em seu escritório 750 contratos redigidos sob sua supervisão.

Incomunicável desde março, seu depoimento é a coluna vertebral do maior caso de corrupção do Brasil. Não parece exagero que seus advogados se preocupem com a segurança de seu cliente: em outubro, quando foi internado devido a uma crise cardíaca, a polícia teve de desmentir que tivesse sido envenenado.

Em seu escritório no centro de Londrina, fechado há dois anos, sorriem diante da menção de seu nome. "A cobiça estoura o saco", diz Sérgio. "Não podia imaginar o poder que ele tinha. E agora veja... para quê?"

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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