Como e por que ocorreu a explosão em Tianjin ainda é uma incógnita

Macarena Vidal Liy

Em Tianjin (China)

O que havia nos contêineres no porto de Tianjin que causou a gigantesca explosão de quarta-feira à noite, e por que ela aconteceu? Dois dias depois da detonação equivalente a 21 toneladas de TNT, que deixou mais de 50 mortos e 700 feridos, ainda não há respostas precisas. Mas começa a ficar cada vez mais claro que houve enormes falhas na segurança.

A explosão ocorreu cerca de 40 minutos depois que os bombeiros da área de Binhai, no porto, responderam a um aviso de incêndio no armazém da empresa Ruihai International Logistics. Uma das possibilidades indica que foram exatamente os trabalhos desses bombeiros, na maioria muito jovens, que involuntariamente causaram a detonação. Segundo a polícia chinesa, citada pela agência Reuters, nesses contêineres, dedicados a guardar "produtos perigosos", acumulavam-se principalmente nitrato de amônia, nitrato de potássio e carbureto de cálcio. A organização ecologista Greenpeace lembra que o carbureto de cálcio, entre outros elementos, pode reagir violentamente quando misturado com água.

Um responsável por propaganda no corpo de bombeiros chinês - integrado ao Ministério de Segurança Pública -, Lei Jinde, declarou ao site estatal ThePaper.cn que os primeiros bombeiros que chegaram ao incêndio utilizaram água. "Sabíamos que havia carbureto de cálcio lá dentro, mas não sabíamos se já havia explodido", nem a localização exata desse produto dentro de um armazém de grandes dimensões", explicou. "Nesse momento ninguém sabia, não é que os bombeiros tenham sido idiotas."

Em uma entrevista coletiva, as autoridades locais de Tianjin indicaram que ainda não se pode confirmar a composição ou a quantidade dos produtos que havia no armazém, mas se determinou que havia alguns inflamáveis. "Ainda há produtos químicos indeterminados que podem explodir ou queimar, e por isso é difícil limpar e controlar" a área, afirmou o diretor do corpo de bombeiros de Tianjin, Zhou Tian.

O diretor da Ruihai International está sob custódia policial para ser interrogado. A Administração de Segurança Marítima de Tianjin revelou que há dois anos essa empresa mostrou falhas de segurança em uma inspeção. A embalagem de produtos em cinco contêineres, entre mais de 4.300, não cumpria as normas necessárias.

O "Diário do Povo", jornal oficial do Partido Comunista da China, afirma nesta sexta-feira que as instalações da Ruihai "violavam claramente" as normas de segurança. A legislação chinesa estipula que os armazéns de substâncias perigosas devem ficar a pelo menos 1 km de áreas públicas. Nas imediações da companhia havia dois condomínios. A pouca distância também se situam mais residências, um centro de convenções e um campo de futebol.

Explosão vista por satélites

A explosão foi tão intensa que foi detectada pelas equipes sismográficas e inclusive por satélites. Milhares de pessoas foram evacuadas e cerca de 6.000, segundo a prefeitura de Tianjin, passaram a noite nas dez escolas habilitadas para receber os refugiados.

A prefeitura de Tianjin afirmou que supervisiona muito de perto os níveis de elementos tóxicos no ar e na água da região, mas explicou que por ora não são prejudiciais. "Por enquanto a qualidade do ar perto da zona da explosão se mantém normal, e não terá um efeito prejudicial nos moradores", afirmou o especialista ambiental Feng Yinchang em uma entrevista coletiva reproduzida pela agência Xinhua nesta sexta-feira (14). O diário "Beijing News" havia denunciado que na área havia 700 toneladas de cianureto de sódio e se havia detectado a presença dessa substância em amostras de águas residuais.

Desde a última noite se encontra no terreno uma equipe militar especializada em produtos químicos, biológicos e nucleares para inspecionar a situação. Um dos 19 bombeiros que continuavam desaparecidos depois da explosão, Zhou Ti, 19 anos, foi encontrado vivo nesta sexta-feira, segundo informou o Departamento de Segurança Pública de Tianjin.

Como ocorre habitualmente em casos de desastre natural ou industrial, as autoridades chinesas tentam controlar a informação que circula em torno do acidente no principal porto do nordeste da China. Não se trata só das pressões contra os repórteres praticadas por valentões sem filiação clara que surgem onde possa haver vítimas da detonação. Segundo afirma o site Digital China Times, especializado em supervisionar a censura no país, a mídia chinesa recebeu instruções para utilizar unicamente as notícias provenientes da agência Xinhua ou de outros canais oficiais. Também segundo essa página da web, o Departamento de Propaganda de Tianjin proibiu os jornalistas de divulgar informações próprias sobre as explosões através de suas contas em redes sociais.

O jornal "Global Times", propriedade do "Diário do Povo", publica em um editorial que "não é nobre nem moralmente correto criticar" as operações de resgate, e insiste em que os artigos que forem escritos "devem se basear na informação fornecida pelas autoridades oficiais".

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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