Agência de viagens oferece tour inspirado em Pablo Escobar

Felipe Sánchez

Em Madrid

  • Getty Images/BBC

A fazenda Nápoles, que foi de Pablo Escobar, é um parque temático. A propriedade foi restaurada depois da morte do narcotraficante colombiano: os animais que havia trazido da África integram o zoológico, as figuras dos dinossauros em tamanho real enfeitam as cocheiras e os automóveis de coleção do chefão estão expostos, queimados por seus inimigos, como peças de coleção.

O turismo associado ao mítico criminoso funciona há anos. A agência de viagens Despegar.com, uma das maiores da América Latina, com US$ 4 bilhões em vendas líquidas em 2013, segundo a CNN Expansión, oferece a partir deste ano um tour para visitar na Colômbia os locais emblemáticos da vida do traficante.

"El ruído de las coisas al caer", a novela de Juan Gabriel Vázquez premiada com o prêmio Alfaguara em 2011, começa narrando a caçada dos hipopótamos de Escobar há seis anos, quando os animais estavam abandonados e haviam escapado da Nápoles. Os visitantes podem se hospedar na fazenda e ver os hipopótamos que retornaram ao lago.

O trajeto da Pablo Escobar Tour começa em Medellín, a três horas desse lugar: passa pela casa onde a polícia matou o traficante, os edifícios que lhe pertenceram, sua tumba e a casa-museu que sua família administra. Roberto, o irmão mais velho, conversa com os turistas. Não há registro do número de clientes que fizeram o tour, segundo a empresa. O plano custa US$ 51 e não inclui passagens aéreas.

O avião em que Escobar enviou seu primeiro carregamento de cocaína aos EUA decorou o portal da Nápoles até que seus perseguidores, o cartel de Cali, o governo e a DEA (agência antidrogas dos EUA) estreitaram o cerco para apanhá-lo no início dos anos 1990. Agora um aparelho pintado com listras de zebra o substitui.

O traficante tomou de assalto a cultura pop latino-americana nos últimos anos. A Netflix estreia este mês "Narcos", uma série sobre sua vida. O seriado colombiano "Escobar, el patrón del mal", foi transmitido com sucesso na Colômbia, na Argentina, no México, Chile e Equador.

"La parábola de Pablo", o livro em que se baseia o programa, chegou a vender no ano passado 300 exemplares por dia na Argentina durante a época da transmissão, segundo o jornal "Clarín".

"Se sentirmos rejeição por parte de nossos usuários, vamos suspender a presença do mesmo em nosso site. Até o momento não recebemos queixas", indicam fontes da agência. Usuários de redes sociais expressaram sua contrariedade pela oferta.

"Lamentavelmente me parece que empresas de turismo e guias em Medellín incluíram em seus pacotes o túmulo de Pablo Escobar. Por que viver do passado?", tuitou neste fim de semana o internauta Félix Armando Osorio. "Não sei quem é pior, se o que oferece o tour de Pablo Escobar ou o que o compra", escreveu há três meses na mesma rede Elisa Cadavid Vélez.

Escobar se caracterizou por assassinar políticos e praticar atentados com bombas, como o que cometeu em 1989 contra o edifício do serviço de inteligência colombiano, que deixou 70 mortos e cerca de 600 feridos, segundo números oficiais. Calcula-se que haja cerca de 20 mil vítimas do narcotráfico no país.

"Os tours ao Gueto de Varsóvia e a campos de concentração alemães são exemplos de que existe um grupo de gente interessada em conhecer de perto parte da história", opina Francisco Stengel, coordenador de comunicação da Despegar.com. "Comprar ou participar desses passeios não implica uma adesão à violência e ao crime, mas ajudam a tomar consciência de diversos momentos históricos", conclui. Pablo Escobar continuará de férias na Colômbia.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

 

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