ONG do ator Sean Penn tem trabalho questionado na demolição do palácio nacional do Haiti

Sylvain Cypel

  • Joe Shalmoni/AP Photo

    Sean Penn cumprimenta sobrevivente do terremoto durante visita a Porto Príncipe, em janeiro de 2010; ator foi nomeado embaixador itinerante pelo presidente haitiano

    Sean Penn cumprimenta sobrevivente do terremoto durante visita a Porto Príncipe, em janeiro de 2010; ator foi nomeado embaixador itinerante pelo presidente haitiano

Severamente danificado pelo terremoto de janeiro de 2010, o palácio nacional haitiano é alvo de escavadeiras que terminarão de demoli-lo nos próximos três meses. O presidente Michel Martelly deu o pontapé inicial às obras no dia 6 de setembro. Ele as confiou à J/P Haitian Relief Organization, a ONG do astro hollywoodiano Sean Penn.

Nomeado embaixador itinerante pelo presidente haitiano, o ator realizou diversas iniciativas humanitárias após o terremoto que matou quase 250 mil pessoas. Segundo a comitiva do presidente, Sean Penn se ofereceu para cuidar "voluntariamente" das obras de "desconstrução" do palácio.

As opiniões são divididas, nas redes sociais e entre os transeuntes que se acotovelam diante das grades que cercam o terreno de 40 mil metros quadrados, no centro de Porto Príncipe, onde as máquinas pesadas prosseguem com a demolição do imenso edifício branco em forma de E.

Há quem lamente a falta de transparência e de informações sobre a reconstrução do palácio. "Entregar o palácio nacional a uma ONG é totalmente simbólico: 221 anos após o levante geral dos escravos, somos incapazes de remover as ruínas da casa nacional", lamenta o jornal "Le Nouvelliste".

"Orgulho"

Quando assumiu o cargo, em maio de 2011, Michel Martelly excluiu a reconstrução do palácio de suas prioridades. Ele dizia que a urgência era realojar as vítimas do terremoto. Mais de 390 mil desabrigados ainda se encontram amontoados em acampamentos temporários, em condições que as últimas chuvas agravaram ainda mais. Mas, para Michel Martelly, é hora de assumir a reconstrução dos edifícios públicos.

"A nova construção reproduzirá de forma idêntica essas linhas, formas e volumes que mantinham e justificavam nosso orgulho", prometeu o chefe do Estado. Depois de consultar o Instituto de Preservação do Patrimônio Nacional, ele explicou que o único acréscimo seria "a consideração das normas parasísmicas". Nem o custo do projeto de reconstrução, nem a origem das verbas foram anunciados.

Quinze dias após o terremoto, o presidente na época, René Préval, mencionou uma proposta francesa para a reconstrução do palácio, transmitida pelo embaixador da França, Didier Le Bret. Essa oferta foi rapidamente abandonada diante da extensão das necessidades humanitárias.

Assim como a do Haiti, a história do palácio foi turbulenta. Em 1869, ele foi incendiado em uma rebelião que derrubou o presidente na época, Sylvain Salnave. Em 1912, uma explosão no palácio destruiu o edifício e matou o presidente Cincinnatus Leconte e quase duzentos soldados.

No ano seguinte, Georges Baussan, arquiteto haitiano formado em Paris, venceu o concurso para a reconstrução do palácio. A edificação do imponente prédio de estilo neoclássico, encimado por três domos, foi concluída em 1921, sob supervisão de engenheiros que acompanhavam as tropas de ocupação americanas.

Tradutor: Lana Lim

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