Controles aeroportuários na África permitem evitar exportação de 3 casos de ebola por mês
Paul Benkimoun
Os controles implementados há meses nos aeroportos de três países particularmente afetados pela epidemia de ebola --Guiné, Libéria e Serra Leoa-- têm evitado, em média, a cada mês, que viajem para o exterior três pessoas infectadas pelo vírus responsável por essa doença, que já fez mais de 4.500 mortos. Esse número foi o resultado de um estudo de modelização publicado na terça-feira (21) pela revista médica semanal "The Lancet".
O Dr. Kamra Kahn (St. Michaels Hospital, Toronto, Canadá) e seus colegas, na verdade, calcularam o número de casos que seriam exportados a partir dos três países na ausência de tais controles. Eles se basearam nos voos previstos em escala mundial em 2014 e nos itinerários de voos que os viajantes aéreos fizeram em 2013 para determinar os fluxos de passageiros que deixam Guiné, Libéria e Serra Leoa.
O segundo parâmetro a se determinar é o número de casos exportados de infecção pelo vírus ebola pelo qual se deve esperar. Para isso, os pesquisadores canadenses se basearam nos dados de monitoramento da OMS sobre o estado da epidemia nesses países. Dessa forma, eles puderam avaliar a utilidade das medidas de restrição do tráfego aéreo e dos controles, na partida e na chegada dos aeroportos das três capitais, Conacri, Monróvia e Freetown, para conter a propagação do vírus.
Mais de 50% das viagens dos 3 países afetados têm 5 países como destino
Concluiu-se que, na ausência de controles, que na prática consistem em um questionário e medição de temperatura para cada passageiro, em média pouco menos de três viajantes (2,8, mais exatamente) infectados pelo vírus ebola tomariam um voo internacional a cada mês.
Em 2013, quase 500 mil viajantes de um dos três países atualmente afetados tomaram um voo internacional. Cinco países foram o destino de mais da metade deles: Gana (17,5%), Senegal (14,4%), Reino Unido (8,7%), França (7,1%) e Gâmbia (6,8%). Além disso, em 2014, 64% dos viajantes a saírem dos três países devem ir a um país de renda baixa ou intermediária, que pode ter problemas para identificar rapidamente um caso de infecção por ebola e para ter uma resposta adequada.
O Dr. Kahn e seus colegas ressaltam que é bem mais eficaz e prático efetuar controles na saída dos três países da África Ocidental do que realizar controles dos viajantes que partiram deles uma vez que eles cheguem a seus destinos. Eles também acreditam que quando os controles na partida dos três países são bem feitos, o valor adicional dos controles praticados no aeroporto de chegada --como é o caso atualmente na França para os voos diretos provenientes da Guiné-- é muito pequeno, ou até secundário, pois a velocidade de incubação do vírus ebola é nitidamente mais longa do que as poucas horas de duração do voo a partir desses países.
Preferência aos controles na fonte
"Os tomadores de decisão devem pesar com precaução os danos em potencial das restrições de viagem impostas aos países onde o vírus ebola está ativo em relação à potencial redução do risco de importação do vírus ebola. Os controles dos viajantes na partida nos aeroportos de Guiné, Libéria e Serra Leoa seriam a melhor fronteira onde avaliar o estado de saúde dos viajantes que apresentem um risco de terem sido expostos ao vírus ebola. No entanto, essa intervenção pode necessitar de um apoio internacional para ser implementada eficazmente", escrevem os autores do estudo.
Então, esses pesquisadores dão preferência aos controles feitos na fonte, em vez da restrição aos voos entre os três países e o resto do mundo, que mais prejudicariam do que ajudariam. A pertinência dessa modelização poderá ser avaliada considerando os inúmeros casos reconhecidos e suspeitos que tenham sido detectados na vida real na partida dos três aeroportos de Conacri, Monróvia e Freetown, dados que os pesquisadores certamente explorarão quando estiverem disponíveis.
Tradutor: UOL