Sonho italiano de nigerianos naufraga e termina na Tunísia
Frédéric Bobin
Ben Gardane (Tunísia)
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Fethi Nasri/AFP
Imigrantes chegam à Tunísia após naufrágio; travessia sai caro e pode custar a vida
Ibrahim Eigbefoh tem somente 18 anos e um passado já atormentado por muitos desafios. Desengonçado e magro demais para sua camisa de futebol vermelha, o jovem nigeriano está cansado de esperar, deitado em sua cama de ferro. Mas esperar o quê, exatamente? Ele não sabe mais, desde que seu sonho de chegar à Itália ruiu. Mas pelo menos sua vida foi salva.
Ibrahim Eigbefoh faz parte de um grupo de 124 nigerianos (cristãos, em sua grande maioria) cujo bote inflável que partiu do litoral líbio foi socorrido no dia 23 de agosto pela guarda-costeira tunisiana durante patrulha entre Zarzis e Ben Gardane, cidade que faz fronteira com a Líbia. Desde então, Ibrahim vem passando ociosamente seus dias em um abrigo na entrada de Ben Gardane, afastado do centro da cidade, um prédio caiado que já foi uma granja. O Crescente Vermelho tunisiano distribui no local três refeições por dia.
Sentado em sua cama que não para de ranger, Ibrahim conta sua história e fala sobre a miséria de seu país e a desastrosa tentativa de atravessar o Mediterrâneo. O maior suplício para ele foi a Líbia. Todos seus colegas ao redor opinam: sim, a Líbia foi um "verdadeiro inferno". Ao se aproximarem desse Mediterrâneo tão sonhado, eles pensavam ter chegado ao fim dos infortúnios, da pobreza, da corrupção generalizada e do temor do Boko Haram. Ledo engano.
Em Sebha, principal cidade do sul da Líbia, onde convergem as rotas migratórias provenientes da África subsaariana, os migrantes são extorquidos, presos e brutalizados. "Eles me trancaram em um quarto e me mandaram ligar para minha família", ele lembra. "Tive de implorar para meu tio me enviar dinheiro. Só que ele não tinha esse dinheiro. Ele teve de vender suas terras para que eu pudesse continuar minha viagem para a Itália."
Três dias à deriva no mar
Ao seu lado, Sunday Henry, um rapaz corpulento de 36 anos, conta que não conseguiu convencer ninguém a pagar. A punição veio, implacável: um ano de trabalho forçado em uma fazenda para pagar sua passagem. "Eles nos trataram como escravos," diz aflito Prince Fabulous (nome pelo qual pede para ser chamado), com seu rosto redondo e seu corpo atarracado. "Lá eles odeiam os negros!"
Passando Sebha, a rota enfim se abriu para o litoral líbio. Os coiotes orientavam os migrantes para Zuwara, cidade berbere em pleno despertar étnico e base preferida para as partidas para a Itália. O trunfo de Zuwara, situada não longe da fronteira tunisiana, é oferecer a distância mais curta (290 km) entre a Líbia e Lampedusa, a tão cobiçada ilha italiana. Confinado em um armazém, o jovem Ibraham Eigbefoh esperou ali por cerca de três semanas, até que a chegada de outros grupos permitisse encher um barco. No caso, o "quórum" estabelecido pelos coiotes era de 125 passageiros, ou seja, quatro vezes mais que a capacidade oficial do bote.
A grande partida ocorreu no meio da noite. No início da manhã, o motor quebrou. Foram três dias à deriva no mar, às vezes sacudidos por ondas perigosas. Um passageiro morreu e seu corpo caiu de costas sobre as ondas. As correntes acabaram jogando para oeste o bote perdido, na direção do litoral da Tunísia. A guarda-costeira de Ben Gardane resgatou os nigerianos esgotados, que viram a morte passar bem de perto.
Mas terem a vida salva não bastou para aplacar suas angústias. Agora eles precisam prestar contas para suas famílias. Quando Ibrahim ligou para seu tio para contar sobre a notícia de seu naufrágio na Tunísia, a conversa foi dolorosa. Pelo telefone, esse tio que vendeu seu terreno para pagar sua passagem para Sebha, foi tomado por incredulidade. "Ele estava me esperando na Itália. Ele chorou, pensando no seu dinheiro que evaporou."
Fracassar na travessia do Mediterrâneo é também o fracasso de toda uma estratégia familiar de investimentos no jovem migrante. Entre o preço da viagem entre Nigéria e Líbia (cerca de 2.000 euros ou quase R$ 9.000), as centenas de euros de extorsão em torno de Sebha e a dívida da travessia do Mediterrâneo (de 1.500 a 2.000 euros), a conta final pode chegar ou até ultrapassar os 5.000 euros, uma fortuna para as famílias pobres da Nigéria. No entanto, a soma continua sendo aceitável caso ela permita instalar na Europa um futuro trabalhador que depois envie dinheiro para casa.
Para Ibrahim e seus companheiros de infortúnio, foi uma derrota. Eles estão arrependidos e com um sentimento de culpa em relação às famílias que tiveram de fazer grandes sacrifícios. "Agora quero voltar para minha casa na Nigéria, mas preciso de uma ajuda financeira para pagar meu tio e começar uma vida nova", suspira Ibrahim. "É muito difícil voltar de mãos vazias."
Tradutor: UOL