Após fama por repúdio a jihadistas, blogueiro de Lyon revela "outra faceta"
Richard Schittly
Em Lyon
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Reprodução/Vídeo/YouTube
Braiki publicou vídeo criticando jihadistas e convocando comunidade muçulmana a "rastrear impostores"
Bassem Braiki mal havia acordado e estava sentado em sua cama, na sexta-feira (20), às 10h, quando chegou um SMS avisando-lhe que o prestigioso "New York Times" estava falando dele. Em seu quartinho de Vénissieux, na cidade de Lyon, não entrava em sua cabeça que ele havia ficado famoso mundialmente. "Achei que isso fosse ficar dentro dos círculos que frequento. Não ligo para hype", afirmou o rapaz de voz rouca, sem admitir que está completamente perplexo com o alcance internacional do vídeo que ele postou em sua página do Facebook, na quarta-feira (18).
Em dois minutos e 54 segundos, Bassem Braiki se expressou sobre os atentados de Paris do seu jeito, bruto. "Dirijo-me a todos os muçulmanos. Vamos rastrear esses impostores", declarou ele a respeito dos terroristas, "vamos quebrar a cara deles."
Sentado em um carro, ele segura seu smartphone apontado para si. Dá um grito de raiva com palavras duras, e fala sobre as dificuldades dos muçulmanos. "Querendo ou não, haverá generalizações", declarou, em referência aos efeitos em relação à comunidade muçulmana. E uma conscientização, bem diferente da apatia das periferias observada após os atentados de janeiro. "A solução só pode vir de dentro", ele explica, enquanto faz um apelo pela denúncia de islamitas que ele chama de "jihadistas de m...".
Em meio à comoção geral, a repercussão foi considerável. Em poucas horas, o vídeo atingiu mais de um milhão de visualizações e centenas de milhares de compartilhamentos, como se, sob o pseudônimo de "Chronic 2 Bass", Bassem encarnasse sozinho a revolta dos muçulmanos que a sociedade francesa esperava.
Ao contrário do que relatavam os primeiros artigos sobre ele, ele não estava esperando seus filhos na saída da escola quando teve a ideia de fazer um vídeo. Ele estava procurando "um colega em alguma parte de Lyon" por um motivo que ele não faz questão de revelar. Sobre sua profissão, ele diz ser "temporário" de alguma coisa, sem dar mais detalhes.
Bassem, 35, é solteiro, não tem filhos e ainda vive com seus pais. Em seu quarto mobiliado com uma cafeteira de cápsulas e um cinzeiro bem cheio, uma tela plana convive lado a lado com um versículo do Corão.
Ele fala muito pouco de seu pai, um eletricista que chegou da Tunísia, em 1967, e não diz nada sobre suas cinco irmãs e irmãos, um deles conselheiro municipal e secretário da cultura na prefeitura comunista de Vénissieux.
Sua mãe, atrás da porta, está aflita com o telefone que não para de tocar. "Falei como alguém que sente ódio por tudo aquilo que aconteceu", ressalta aquele que curiosamente faz questão de se desculpar junto "às TVs e rádios francesas". Como se ele soubesse que uma faceta menos brilhante fosse vir à tona.
Na sexta-feira à noite, o site "Metronews" revelou um outro perfil seu no Facebook, o "Chronique De Bass", que foi apagado desde então. O mesmo Bassem Braiki criticava jovens mulheres usando termos quase criminosos, e fazia diatribes sobre as "beurettes" (mulheres árabes) e os "blacks" (negros) em termos absurdos e ofensivos.
No domingo (22), após tentarmos sem sucesso contatá-lo por telefone, ele postou um longo vídeo para tentar justificar essas declarações, onde ele fala de "rixa de moleques", dando a entender que teriam sido disputas verbais em círculos fechados. "De qualquer forma, não sou um líder", ele afirma, como se quisesse ser esquecido.
Tradutor: UOL
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