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Empresas americanas podem sugerir aos funcionários para votarem em Obama ou Romney

 Scott D. Farmer (e), presidente-executivo da Cintas, enviou uma carta aos 30 mil funcionários de sua empresa em 19 de outubro, condenando a Lei de Atendimento de Saúde a Preço Acessível - Tom Uhlman/The New York Times
Scott D. Farmer (e), presidente-executivo da Cintas, enviou uma carta aos 30 mil funcionários de sua empresa em 19 de outubro, condenando a Lei de Atendimento de Saúde a Preço Acessível Imagem: Tom Uhlman/The New York Times

Steven Greenhouse

27/10/2012 15h44

Imagine receber uma carta do chefe, lhe dizendo com votar.

Até 2010, a lei federal proibia as empresas de usarem dinheiro corporativo para campanha e endosso de candidatos políticos --e isso incluía pedir aos funcionários para apoiarem políticos específicos.

A economia atualmente não representa uma ameaça ao seu emprego. Mas a ameaça ao seu emprego é a perspectiva de mais quatro anos da mesma administração presidencial”, escreveu Siegel. “Se novos impostos foram aplicados a mim ou à minha empresa, como nosso atual presidente planeja, eu não terei escolha a não ser reduzir o tamanho desta empresa.”

Em uma entrevista, Siegel disse que não estava ordenando seus funcionários a votarem como ele deseja.

“Eu não tenho como exercer pressão sobre ninguém”, ele disse. “Eu não estou na cabine eleitoral com eles.”

Siegel acrescentou: “Eu queria que eles realmente soubessem como sinto que mais quatro anos sob o presidente Obama os afetaria. Não difere de dizer aos seus filhos: ‘Coma o espinafre. Faz bem para você’”.

Dave Robertson, o presidente da Koch Industries, enviou um pacote informativo e uma carta neste mês para mais de 30 mil funcionários de uma subsidiária, a Georgia-Pacific, uma empresa de papel e celulose. A carta atacava os subsídios do governo a “uns poucos comparsas preferidos”, assim como “fardos regulatórios sem precedentes sobre as empresas”.

A carta acrescentou: “Muitos de nossos mais de 50 mil funcionários americanos e prestadores de serviço sofrem as consequências, incluindo preços mais altos da gasolina, inflação descontrolada e outros males”.

 A carta da Georgia-Pacific, noticiada inicialmente pelo “In These Times”, incluía um panfleto listando vários candidatos apoiados pelos irmãos Koch, os bilionários conservadores, começando por Mitt Romney, assim como artigos de opinião escritos pelos irmãos.

Travis McKinney, um operador de empilhadeira da George-Pacific em Portland, Oregon, disse que o pacote político da empresa provocou grande discussão.

“Ele deixa um gosto ruim”, disse McKinney. “Eu nem mesmo ouso usar meu bottom do Obama no trabalho por causa dele.”

Em uma declaração, a Koch Industries disse que sua correspondência interna continha informação “que acreditamos ser importante nossos funcionários saberem”. A empresa disse que a carta não representava uma intimidação. “Nós deixamos claro que qualquer decisão sobre em quais candidatos votar cabe apenas aos nossos funcionários.”

Outras empresas cujos altos executivos enviaram cartas anti-Obama incluem a Rite-Hite, uma fabricante de equipamento industrial com sede em Milwaukee, e a ASG Software Solutions, com sede em Naples, Flórida.

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    Entenda o processo eleitoral dos Estados Unidos

Muitos executivos dizem que aumentaram suas atividades políticas para combater os esforços dos sindicatos em prol de Obama e de outros democratas. Antes mesmo da “Cidadãos Unidos”, os sindicatos eram autorizados a promover candidatos junto aos seus membros. Tanto democratas quanto republicanos reconhecem a eficácia dos esforços políticos dos sindicatos.

O próprio Romney pediu aos empresários que fizessem um apelo aos seus funcionários. Em uma teleconferência em junho, organizada pela Federação Nacional das Empresas Independentes, ele disse: “Eu espero que vocês deixem claro aos seus funcionários aquilo que vocês acreditam ser do melhor interesse para sua empresa, e consequentemente para o emprego deles e seu futuro, nas próximas eleições”.

Larry Gold, um consultor jurídico do sindicato AFL-CIO, disse que algumas das recentes cartas de empregadores, ao insinuarem a possibilidade dos funcionários perderem o emprego, parecem ingressar no território da coerção indevida. A lei federal e as leis de vários Estados proíbem qualquer um de coagir ou intimidar os eleitores a votarem de certa forma.

Mas Bradley A. Smith, um republicano ex-membro da Comissão Eleitoral Federal e um professor da Capital University Law School, discordou, dizendo que cartas como as enviadas pelas empresas não são ameaças de demitir alguém em caso de vitória de Obama.

Segundo a decisão “Cidadãos Unidos”, as empresas podem recomendar candidatos aos funcionários, disse Eugene Volokh, um professor de direito da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

“Se o empregador quiser dizer: ‘Este candidato é bom ou ruim para nossa empresa e, portanto, bom ou ruim para você, o funcionário, isso é permitido --isso é protegido pela Primeira Emenda”, disse Volokh. “Mas se o empregador ameaçar demitir você com base em como você votou, isso não é protegido.”

 Mas muitos especialistas liberais temem que os funcionários possam ser desencorajados de exercerem seu direito de liberdade de expressão.

 

“A preocupação aqui é uma disparidade inevitável de poder entre a direção da empresa e os funcionários”, disse Adam Skaggs, um consultor jurídico do liberal Centro Brennan para Justiça. “Coloque-se no lugar do funcionário em qualquer uma dessas empresas. Você ficaria à vontade em colocar um adesivo de Obama no seu carro e estacioná-lo no estacionamento da empresa? Se você estiver em uma pequena comunidade com um grande empregador, como você se sentiria fazendo campanha por um candidato ao qual seu chefe é contrário?”

Richard Lacks, presidente-executivo da Lacks Enterprises, uma empresa de autopeças com sede em Grand Rapids, Michigan, escreveu para seus 2.300 funcionários neste mês, alertando que uma vitória de Obama poderia significar despesas mais altas com planos de saúde e impostos mais altos em seus contracheques.

“É importante que, em novembro, você vote para melhorar seu padrão de vida, o que será possível por meio de um governo menor e menos interferência do governo”, ele escreveu.

Scott D. Farmer, presidente-executivo da Cintas, a empresa fornecedora de uniformes, enviou uma carta aos 30 mil funcionários de sua empresa em 19 de outubro, condenando a Lei de Atendimento de Saúde a Preço Acessível e dizendo que ela “representa o maior imposto individual aplicado aos americanos e às empresas na história”. Ele alertou os funcionários que “o excesso de regulamentação que a empresa enfrenta hoje por várias agências governamentais, como a Agência de Proteção Ambiental” e o Conselho Nacional de Relações do Trabalho “está sufocando muitas empresas”.

Farmer acrescentou: “Essa incerteza sentida por muitos de nossos clientes sobre a capacidade de administrarem seus negócios e o crescimento deles os impede de contratarem, o que prejudica nossa capacidade de crescimento e aumento de vagas de trabalho”.

Ao ser perguntado sobre a carta de Farmer, Greg Hart, o vice-presidente da Cintas para assuntos de governo, respondeu: “A comunicação não foi uma tentativa de sugerir aos funcionários como votar, mas sim para ajudar nossos parceiros a tomar uma decisão informada”.

Especialistas em lei eleitoral não apontaram nenhum esforço empresarial neste ano junto aos funcionários em prol de Obama, apesar das empresas às vezes terem apoiado candidatos democratas. Em 2010, a Harrah’s, a empresa de cassinos, pediu aos seus funcionários que fossem às urnas reeleger o senador por Nevada, argumentando que “uma derrota do senador Harry Reid em 3 de novembro seria devastadora”.