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Inundada por refugiados no ano passado, Alemanha agora luta para integrá-los

Voluntários direcionam refugiados que chegam à estação de trem de Dortmund, na Alemanha - Gordon Welters/The New York Times
Voluntários direcionam refugiados que chegam à estação de trem de Dortmund, na Alemanha Imagem: Gordon Welters/The New York Times

Alison Smale

Em Nuremberg (Alemanha)

29/04/2016 06h01

Se o desafio mais urgente para a Alemanha no ano passado era abrigar as centenas de milhares de pessoas que chegaram quase simultaneamente ao país em busca de asilo, a tarefa neste ano é integrá-las. Mas antes que isso possa acontecer é preciso fazer sua triagem. O trabalho é grande.

Mais de 1 milhão de migrantes chegaram à Alemanha, mas o governo enfatiza que muito menos ficarão. Até agora, só 660 mil têm autorização para permanecer, segundo as autoridades. E o governo federal pediu que os 16 Estados alemães dupliquem as deportações realizadas no ano passado, que chegaram a 60 mil.

Para reduzir os números, as autoridades estão suspendendo a reunificação de famílias durante dois anos e rejeitando dezenas de milhares de solicitantes dos Bálcãs, da Argélia e do Marrocos, afirmando que esses países não estão em guerra.

A tarefa de decidir quem ficará e quem terá de partir cabe a autoridades como Frank-Juergen Weise, 64, que lidera a extensa agência federal de empregos, sediada aqui em Nuremberg, desde 2004.

Quando o número de pedidos de asilo chegou a 300 mil no ano passado, Weise, um coronel da reserva, também foi chamado a liderar a agência federal de migração, convenientemente sediada na mesma cidade da Baviera.

Ele disse que o número de pedidos de asilo é "um embaraço para a Alemanha". E acrescentou: "Dá a impressão de que o país não tem um plano do que fazer com os refugiados".

O enérgico Weise envolveu milhares de autoridades e iniciou uma centralização digital de registros para acelerar o processo de solicitações de asilo e manter o controle dos recém-chegados.

Houve disputas entre autoridades intransigentes que afirmam que novos recrutas treinados às pressas não têm experiência para avaliar os que pedem asilo. As forças de segurança querem evitar a entrada de possíveis terroristas e radicais islâmicos e desviar novas chegadas para locais específicos de residência, para evitar a formação de novos guetos de imigrantes nas cidades.

Weise compartilha essas preocupações, mas pede um processo mais rápido para colocar os imigrantes em cursos de alemão e aulas de integração, e depois no mercado de trabalho. O governo anunciou neste mês que pretende subsidiar até 100 mil empregos para trabalhadores não qualificados.

Mas a dificuldade para atender às preocupações de segurança e acelerar a integração fica clara quando se observam as audiências individuais de asilo exigidas por lei e por acordo internacional.
Mesmo um caso simples, como o de um sírio entrevistado neste mês perto de Nuremberg, levou bem mais de uma hora, com a tradução de cada pergunta e resposta.

A autoridade que o entrevistou teve de fazer o mesmo com a mulher do homem. Nesse ritmo, as autoridades terão sorte se puderem tratar de quatro casos por dia, mesmo trabalhando 50 horas por semana, como Weise pediu.

Mas no entender dele essa é a única maneira de realizar o mantra da chanceler Angela Merkel: "Vamos resolver isso".

"Não posso dizer 'vamos tentar'", disse ele.

Assim, o destino de oito homens, na maioria jovens, da Argélia e do Marrocos reunidos em uma sala de reunião improvisada em Colônia agora está nas mãos de autoridades como Weise.

Com um mapa da Alemanha e declinações dos verbos alemães pregados à parede, esses imigrantes, cuja maioria chegou no final do ano passado, disseram que só querem aprender alemão, sair dessa instalação para refugiados com cerca de 600 pessoas, trabalhar, pagar impostos e construir o futuro que lhes foi negado em seus países.

"Estamos rezando para que as pessoas nos aceitem e não nos discriminem", disse Younis, 23, de Argel. "Nem toda pessoa morena é criminosa. Queremos ser tratados como gente. Somos todos iguais."

Mas depois de uma boa recepção no último outono as atitudes endureceram, especialmente depois das centenas de ataques sexuais cometidos por jovens em Colônia no Ano Novo --noite que se tornou um símbolo da integração conturbada e do choque de valores culturais.

Em contraste, Younis e seus amigos falaram com ressentimento da maior presença policial nos cafés e nas ruas. Eles comentaram que os atacantes muçulmanos em Paris e na Bélgica eram nascidos e educados na Europa.

"Os líderes europeus devem diferenciar entre eles e as pessoas que vieram garantir seu futuro e melhorar sua situação econômica", disse Abdul Rahim, um argelino de 27 anos. Ele insistiu que "os recém-chegados não cometem o tipo de atos que vocês viram aqui no Ano Novo".

O grupo estava ressentido porque as aulas de língua e integração são oferecidas apenas aos sírios e outros com probabilidade de conseguir autorização para ficar.

Mas as autoridades agora advertem que, mesmo com cursos e atenção especiais, muitos dos que ficarem não terão qualificação profissional --diferentemente das previsões otimistas iniciais da indústria, que precisa de trabalhadores.

A maioria dos refugiados veio de países onde a escolaridade dura anos menos que na Alemanha, disse Karl Brenke, um especial em mão-de-obra e migração no Instituto Alemão de Pesquisas Econômicas. As qualificações são difíceis de comparar. Já há 14 pessoas competindo por um emprego básico não qualificado, disse Brenke.

Ele deu números que mostram que o número de pessoas empregáveis que estão sem emprego e vivem da assistência social inchou de 116 mil no início de 2011 para 280 mil em dezembro. A metade delas é síria.

Brenke disse que vê o perigo de os migrantes ficarem desempregados durante anos. Até mesmo Weise admitiu que poderá ser difícil empregá-los. Setenta por cento dos solicitantes de asilo em 2015, segundo ele, tinham menos de 30 anos; 10% conseguiram encontrar trabalho dentro de um ano e 50% em cinco anos.

Mesmo sem acomodar os norte-africanos, disse ele, já está claro que "os refugiados não são a força de trabalho de que a economia alemã necessita".