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Ação frustrada contra Maduro levanta perguntas sobre o papel dos EUA na Venezuela

Mark Landler e Julian E. Barnes

Em Washington (EUA)

03/05/2019 10h49

Ninguém disse que a mudança de regime seria fácil. Os principais assessores do presidente americano, Donald Trump, acordaram na terça-feira (30) acreditando que uma rebelião dos militares venezuelanos naquele dia galvanizaria um levante popular e derrubaria um líder que eles descreveram como um déspota aviltante que tem de ser substituído. Mas no final do dia o presidente Nicolás Maduro continuava no poder, e os assessores de Trump tiveram de culpar Cuba, a Rússia e três importantes autoridades venezuelanas, que não trocaram de lado, por frustrar seus planos.

A decisão dos venezuelanos de manter Maduro --porque foram intimidados, ou sentiram medo, ou nunca pretenderam desertar-- levantou perguntas sobre se os Estados Unidos tinham informações erradas sobre a capacidade da oposição de atrair membros de seu governo.

Também levantou perguntas sobre se os assessores de Trump foram vítimas de uma leitura errada dos acontecimentos no país, ou se Trump, que segundo autoridades às vezes supera seus assessores no entusiasmo para forçar a queda de Maduro, poderia perder a fé na iniciativa conforme ela se desgasta.

Maduro foi enfraquecido em casa e desacreditado no exterior, mas continua sendo um adversário teimoso que não dá espaço ao líder de oposição, Juan Guaidó, reconhecido pelos Estados Unidos como líder de fato do país. Enquanto o governo americano começou com firmeza, reunindo dezenas de países contra o presidente venezuelano, críticos dizem que sua reação se tornou aleatória e caótica conforme a crise se estendeu.

Assessores de Trump apoiaram o apelo de Guaidó aos protestos em massa e a deserção de oficiais venezuelanos na terça-feira como ponto de inflexão na campanha de três meses para depor Maduro. O vice-presidente americano, Mike Pence, e o secretário de Estado, Mike Pompeo, tuitaram seu apoio à "Operação Liberdade", enquanto o assessor de segurança nacional, John Bolton, chamou-a de "um momento potencialmente positivo".

Trump não mencionou a operação, mas mais tarde na terça-feira ele atacou Cuba por apoiar Maduro, ameaçando atacá-la com um embargo e novas sanções. Autoridades atuais e passadas disseram que ele estava extremamente interessado em desbancar o líder venezuelano, até levantando a perspectiva em reuniões privadas de um envolvimento limitado dos Estados Unidos para apressar esse resultado.

Mas Trump chegou ao cargo rejeitando as tendências intervencionistas de seus antecessores, e disse menos em público sobre a Venezuela que seus assessores, que transformaram a troca de regime em uma cruzada nas redes sociais. Bolton tuitou centenas de vezes sobre a crise, gravou vídeos para a população venezuelana e apareceu quase diariamente em programas da TV a cabo para falar a respeito.

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Para servir como enviado especial à Venezuela, Pompeo recrutou Elliott Abrams, apesar de a Casa Branca tê-lo vetado para outros cargos por causa de suas críticas a Trump durante a campanha presidencial de 2016.

Abrams é conhecido por suas opiniões neoconservadoras e experiência sob o presidente Ronald Reagan, quando se envolveu no plano secreto de fornecer armas aos contras que combatiam os sandinistas na Nicarágua, e no governo de George W. Bush, quando foi um proponente da guerra do Iraque.

Enquanto Trump usou linguagem carregada com adversários, especialmente o Irã, ele geralmente evitou forçar a saída de seus líderes em favor de seu candidato preferido, acreditando que isso provoca envolvimento militar caro e inútil. Abrams teve conversas com Kim Jong-un, da Coreia do Norte, e se ofereceu para falar com líderes iranianos.

Bolton e Pompeo, em comparação, falaram frequentemente sobre a necessidade de Maduro sair e levantaram esperanças de que Guaidó estivesse prestes a derrubá-lo.

"Eu temo que esse tipo de aumento de expectativas quase regular para níveis muito altos desgaste e torne mais difícil o tipo de pressão interna necessária", disse Daniel Restrepo, ex-assessor para a América Latina no Conselho de Segurança Nacional durante o governo Barack Obama.

Enquanto os dois lados na Venezuela se reforçavam, autoridades do governo punham a culpa em pessoas diferentes. Pompeo acusou os russos, afirmando que eles dissuadiram Maduro de pegar um avião e fugir do país na manhã de terça, antes do início dos protestos.

Bolton falou sobre o papel de três autoridades: Vladimir Padrino López, o ministro da Defesa; o juiz Maikel Moreno, presidente da Suprema Corte; e Rafael Hernández Dala, comandante da guarda presidencial de Maduro. Ele disse que perderiam a chance de ter as sanções do Departamento do Tesouro levantadas se não honrassem o que ele chamou de sua promessa de unir-se às forças de Juan Guaidó.

Autoridades do Departamento de Estado admitiram que poderá levar semanas ou até meses para que Maduro caia. Os Estados Unidos não definiram prazos, nem foram além da advertência do presidente de que a força militar é uma opção. Mas a enxurrada de declarações de assessores de Trump sugere que a Casa Branca está menos paciente.

Trump está sendo instigado a adotar uma posição agressiva contra a Venezuela pelo senador republicano Marco Rubio, da Flórida. Depor Maduro seria extremamente popular entre a comunidade cubana exilada no sul da Flórida, que vê o governo socialista da Venezuela como um representante de Cuba.

O Conselho de Segurança Nacional realizou uma reunião de diretores na quarta-feira (1º) para discutir "que passos adicionais devem ser dados para acelerar e garantir uma transição de poder pacífica", disse Bolton. Pompeo procurou o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, para advertir que Moscou não deve interferir na Venezuela.

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"A intervenção pela Rússia e Cuba é desestabilizadora para a Venezuela e para a relação bilateral Estados Unidos-Rússia", disse Pompeo a Lavrov, segundo o Departamento de Estado.

A oposição venezuelana pode ter sido a fonte da informação de que três oficiais graduados estavam considerando apoiar Guaidó. Mas a diatribe de Bolton na terça, em que ele repetidamente chamou os três pelo nome, foi provavelmente uma medida calculada, segundo um ex-membro do governo Trump.

Bolton prefere uma estratégia de "piscadelas e acenos" destinada a enfraquecer Maduro, segundo a ex-autoridade, referindo-se a um episódio recente em que ele rabiscou um bilhete sobre mobilizar tropas americanas para a Colômbia num bloco onde os repórteres pudessem vê-lo com facilidade.

A autoridade disse acreditar que era menos provável que Bolton tivesse sido levado por más informações, e mais provável que ele estivesse usando essa informação para conduzir sua própria operação de contrainteligência. Ao denunciar os oficiais venezuelanos, Bolton ou forçaria os três a tomar medidas se pretendessem apoiar Guaidó ou, se tivessem mudado de opinião, minar a confiança de Maduro neles.

O governo americano geralmente desconfia de informações da oposição venezuelana, embora Trump receba alguma informação diretamente de Rubio ou do senador Rick Scott, também da Flórida.

Uma área onde a Casa Branca se desentendeu com a CIA é a avaliação da agência sobre a participação de Cuba e o apoio ao governo Maduro.

Bolton e Pompeo constantemente criticaram Cuba por seu apoio ao governo venezuelano. Mas a CIA concluiu que Cuba é muito menos envolvida e seu apoio foi muito menos importante do que acreditam membros destacados do governo, segundo uma ex-autoridade.

As opções militares não parecem ter sido expostas em detalhe na Casa Branca, e na quarta-feira autoridades do Pentágono minimizaram a perspectiva de intervenção. Mas os acontecimentos recentes poderiam levar o governo americano a prever possíveis rumos de ação.

Ninguém saiu fortalecido dos eventos caóticos de terça, segundo analistas. Guaidó deixou de obter o apoio militar para derrubar o governo, mas os militares pareciam em cima do muro, o que enfraqueceu a posição de Maduro. E os Estados Unidos pareciam decididos a uma transferência de poder forçada, só para vê-la evaporar.

Alguns analistas disseram que em sua frustração Pompeo e Bolton revelaram informações potencialmente delicadas, queimando esses canais. Os comentários de Pompeo sobre as mensagens russas a Maduro poderiam forçar o líder venezuelano a usar um canal de comunicações mais seguro. E a citação por Bolton dos três venezuelanos poderá afastar futuras discussões sobre eles mudarem de lado.

"A pergunta é: com que objetivo?", disse Fernando Cutz, ex-diretor para assuntos do hemisfério ocidental no Conselho de Segurança Nacional, no governo Trump. "Haveria um benefício significativo em manter esses canais abertos para que pudéssemos tentar de novo ou apenas obter inteligência deles."