Vale admite presença de arsênico, chumbo e outros metais no rio Doce
A mineradora Vale afirmou nesta sexta-feira (27) que as águas do rio Doce contêm em certos pontos chumbo, arsênico e níquel, encontrados às margens do leito do rio, e anunciou um fundo para fazer a recuperação ambiental.
A administração da Vale, maior exportadora do Brasil, nega que a torrente de lama e resíduos da exploração mineira que em 5 de novembro engoliu um povoado e contaminou o do rio Doce seja tóxica, como denuncia a ONU.
Vania Somaville, diretora de Recursos Humanos, Saúde e Segurança da Vale, disse em coletiva de imprensa que em certos pontos do rio as análises do governo de Minas Gerais identificou chumbo, arsênico, níquel e cromo. Segundo Somaville, esses metais tóxicos já estavam nas margens ou no leito do rio, onde estão assentadas 228 cidades, e foram removidos pela corrente de lama.
"A boa notícia é que estes materiais não são dissolvidos na água", não modificaram a acidez da água (pH) e estão diminuindo com o passar dos dias, acrescentou.
Especialistas da ONU relataram esta semana que a massa viscosa de 50 milhões de m3 de lamas e resíduos provenientes da extração de minério de ferro "mostrou altos níveis de metais pesados tóxicos e outros produtos químicos tóxicos no rio Doce".
O reservatório pertencia à empresa brasileira de mineração Samarco, detida em partes iguais pela Vale e pela anglo-australiana BHP Billiton.
Fundo "voluntário"
O presidente da Vale, Murilo Ferreira, anunciou nesta sexta-feira a criação de um grande fundo voluntário para recuperar o rio, no qual participarão as três mineradoras. Seu valor total ainda não foi estabelecido.
"Será um fundo voluntário, um fundo de longo prazo (...) auditado por empresas internacionais", em que também participam entidades governamentais e não-governamentais, do setor público e privado, disse Ferreira.
O presidente da Vale foi criticado por responder tarde à tragédia assim. A primeira declaração após o desastre havia relatado que a Vale era apenas acionista da Samarco.
"O desastre foi extremamente doloroso para mim e todo o diretório" da Vale, argumentou Ferreira nesta sexta-feira.
"Estou com a alma triste e consternada" pelas vítimas e "estamos muito preocupados porque existem 5.200 pessoas que não sabem o que esperar do futuro", afirmou em referência aos empregados diretos e indiretos da Samarco na região. As operações da mineradora foram suspensas até que a investigação sobre as causas da tragédia sejam seja concluídas.
Competidoras
Ferreira e outros diretores da Vale disseram que as leis anti-monopólio da União Europeia - um dos destinos das exportações da Vale e da Samarco - pedem que eles se mantenham afastados da gestão dessa joint-venture, já que ambas produzem minério de ferro e o bloco as considera competidoras.
"Em quatro anos nunca fui aos escritórios da Samarco em Mariana, não os conhecia (...) Não sabemos que são seus clientes, nem seus preços. Não temos uma interferência direta na Samarco porque não podemos", argumentou, se eximindo de toda responsabilidade direta no desastre.
O número um da Vale lembrou que dois dias após o rompimento da barragem viajou para os arredores da cidade de Mariana e decidiu que a empresa deveria ajudar a Samarco no atendimento humanitário às vítimas, como maneira de mostrar "solidariedade".
A Vale tem apenas uma "responsabilidade subsidiária" com a Samarco, o que implica que caso a décima exportadora do Brasil não possa pagar suas dívidas, seus acionistas (Vale e BHP) deverão assumi-las, explicou Clóvis Torres, diretor jurídico da Vale.
"A Samarco é uma empresa grande, tem recursos para pagar eventuais danos. Nós como acionistas tentamos entender o que ocorreu", agregou.
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