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Esquartejadas para venda: morte de 19 onças para tráfico causa choque

Envolvidos na operação ficaram espantados com material achado - Divulgação
Envolvidos na operação ficaram espantados com material achado Imagem: Divulgação

Gabriel Francisco Ribeiro

Do UOL, em São Paulo

03/09/2016 06h00

A descoberta de 19 onças mortas e esquartejadas em um freezer na cidade de Curionópolis, no Pará, causou choque até para quem está acostumado a apreensões do tipo. Os animais foram encontrados na semana passada, mas a gravidade do caso só foi percebida na última terça (30), após perícia. Segundo o Ibama, é a maior quantidade de felinos caçados no Brasil achados em uma operação desde que o órgão foi criado, em 1989.

A apreensão ocorreu na sexta da última semana (26), em uma operação da polícia local para apurar a venda de armas após uma denúncia. No local, além da fabricação e venda de armas, se depararam com animais abatidos, carcaças e aves em gaiolas. O número de animais, segundo investigadores, é maior do que o esperado para uma apreensão de onças abatidas para proteção por fazendeiros.

No total, foram 27 os animais encontrados: sete aves vivas (três bicudos, um curió, um azulão-da-Amazônia e dois canários-da-terra), um crânio de jacaré e no mínimo 19 felinos (uma jaguatirica, duas onças-pardas e 16 onças-pintadas). O número pode ser até maior, já que foram encontradas diversas partes dos felinos - cinco cabeças de onças-pintadas e uma de onça-preta, 25 patas de felinos e outras carcaças.

"Até para nós que estamos acostumados foi muito chocante. Esquartejar o animal, conservar a cabeça, tem todo um sentimento de crueldade. Extrapola muito o que a gente está acostumado. É uma situação de violência bárbara", disse ao UOL Frederico Drumond, analista ambiental do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversiade) e chefe da floresta nacional dos Carajás.

Três presos; dois já liberados

Junto ao material encontrado, três pessoas foram presas em flagrante. Segundo o ICMBio, duas pagaram fiança e foram liberadas na segunda-feira (29), apesar do choque causado pelo crime. Há o temor, contudo, de que o responsável não seja condenado. A esperança é que o fato de armas terem sido encontrados no local sejam suficientes para a prisão.

"O que a gente tem é uma expectativa de que pelo menos um dos envolvidos fique preso. Porque além da questão dos animais existe a questão das armas. Por causa dos animais é difícil manter a prisão. A lei ambiental neste aspecto é muito frágil. Na prática é difícil de sustentar a prisão por crime contra a fauna, por mais estarrecedor e chocante que seja a situação", afirmou Drumond.

Segundo o Ibama, o caçador apontado como responsável pelo local recebeu R$ 494 mil de multa. Três autos de infração totalizam R$ 460 mil por matar, mutilar e manter animais silvestres em depósito. A apreensão de sete aves silvestres no local resultou na aplicação de mais uma multa no valor de R$ 34 mil.

Pelo número e pela forma como foram encontrados, a investigação aponta para tráfico ilegal de animais. O UOL tentou, sem sucesso, contato com a delegacia de Curionópolis e de Parauapebas, onde o crime foi lavrado, com a Polícia Civil do Pará e com a Secretaria de Segurança Pública do Estado durante a noite da última sexta. A assessoria da Polícia Militar afirmou que a acusação é de responsabilidade a partir de agora da Civil.

O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, soltou nota à imprensa em que se disse "chocado" com o crime.

"Estou chocado com as imagens divulgadas. O tráfico de animais silvestres é um crime que atinge a cada um de nós, pois fere nosso direito a um meio ambiente equilibrado. O perigo de extinção da onça pintada aponta, de forma dramática, para a necessidade urgente de aumentarmos, em quantidade e qualidade, a proteção de nossa biodiversidade. O Ministério do Meio Ambiente entende que essa proteção passa, necessariamente, pelo fortalecimento da estrutura de fiscalização do Ibama e do ICMbio, e pela conscientização, através da educação ambiental."