Topo

Desvendando 4 mitos de quem não acredita em mudanças climáticas

Búfalos fogem de incêndio provocado pelo calor em Nova Déli, capital da Índia - Anindito Mukherjee/Reuters
Búfalos fogem de incêndio provocado pelo calor em Nova Déli, capital da Índia Imagem: Anindito Mukherjee/Reuters

Ines Eisele

24/04/2017 11h19

Muitos dizem que as mudanças climáticas são uma mentira. Mas seus argumentos são pseudocientíficos e sem fundamento. A DW elenca algumas das principais alegações e mostra por quê elas são falsas.

A mudança climática não é apenas uma questão de acreditar ou não: sobre o tema, há pesquisas e fatos. Portanto, é hora de examinar as afirmações dos céticos - e mostra por que elas estão erradas.

Céticos 1 - Yana Paskova/Getty Images/AFP - Yana Paskova/Getty Images/AFP
Bibicleta coberta pela neve em Nova York
Imagem: Yana Paskova/Getty Images/AFP

1 – Se o aquecimento global é real, por que estamos vivendo invernos com recorde de frio? Por que 1998 foi muito mais quente do que a maioria dos anos seguintes. Por que a superfície congelada no Hemisfério Sul está aumentando? O planeta não deveria estar ficando mais quente?

Sim, os fenômenos são reais. É errado, porém, considerá-los uma prova contra o aquecimento global. Isso porque as temperaturas globais não aumentam de forma linear e uniforme: alguns invernos no hemisfério norte, como no ano 2009/2010, foram particularmente frios, e outros mais quentes. Muitos fatores influenciam o clima: extraterrestres e terrestres, naturais ou antropogênicos (causados pelas atividades humanas), que interagem uns com os outros.

Por exemplo, há o El Niño, um fenômeno climático que, nos últimos anos, causou frequentemente altas temperaturas. Além de causar inundações em certas partes do mundo e secas em outras, o El Niño acarreta também temperaturas recordes temporárias – como no ano de 1998.

A extensão da cobertura de gelo na Antártida aumenta, enquanto no Ártico acontece exatamente o oposto. A principal razão é que a Antártida é afetada de forma diferente, em comparação com o Ártico, por ventos e correntes marítimas que protegem a região contra muitas influências climáticas. Portanto, o caso especial da Antártida não coloca em xeque o aquecimento global.

Apesar de todas as variações, observa-se, desde o início das medições sistemáticas, em 1880, um aumento das temperaturas médias da atmosfera terrestre e do mar. O ano de 2016 foi o mais quente desde 1880, sendo que o segundo e o terceiro mais quentes foram 2015 e 2014. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a temperatura global média aumentou em 0,85 graus Celsius de 1880 a 2012. Cada uma das últimas três décadas foi mais quente do que todas as anteriores desde 1850.

Céticos 2 - Julian Stratenschulte/EFE - Julian Stratenschulte/EFE
Usina a carvão em Hohenhameln, na Alemanha
Imagem: Julian Stratenschulte/EFE

2 – A mudança climática é um processo natural e não causado pelo homem. As emissões de CO2 pelos humanos são pequenas demais para influenciar o clima.

Sim, é verdade. O clima está mudando desde que a Terra existe. No decurso de milhões de anos, os períodos frios e quentes sempre se alternam – um processo natural. A natureza tem também sua parcela nas mudanças climáticas desde a industrialização, ou seja, no aumento da temperatura global, aquecimento dos oceanos e aumento dos gases de efeito estufa na atmosfera.

Mas a mudança climática dos últimos 50 a 150 anos ocorre muito mais rápido do que quaisquer outras fases de aquecimentos conhecidas na história recente do nosso planeta. Em seu último relatório de 2013, o IPCC considera como "muito provável" que a influência humana é a principal causa do aquecimento desde a metade do século 20.

O aumento da liberação de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono e metano pelo homem levou a uma concentração de gases na atmosfera que não ocorria desde 800 mil anos atrás. Segundo o IPCC, desde 1750, a concentração de CO2 aumentou 40% e, de metano, 150%. É verdade que o CO2 também é liberado por vulcões e está contido no mar, no ar, em plantas e em regiões permafrost (solo encontrado na região do Ártico). Mas a natureza absorve o CO2 que ela também libera, gerando, assim, um equilíbrio. No entanto, as emissões adicionais dos seres humanos não podem ser totalmente absorvidas: elas são "em excesso" e acabam na atmosfera terrestre. Este processo se torna ainda mais significativo, por exemplo, devido ao desmatamento de florestas e o degelo das regiões permafrost.

Cerca de 97% de todos os pesquisadores sobre o clima estão certos de que as atividades humanas influenciam a mudança climática. Portanto, pode-se falar de um consenso científico. De acordo com estudos, os 3% dos cientistas que negam o aquecimento global antropogênico – quer dizer, causados pelo homem – são, muitas vezes, menos especializados na área. Eles vêm geralmente de observatórios conservadores como o Instituto Cato, que é financiado, entre outros, pela Volkswagen e empresas de energia.

Céticos 3 - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Nuvens de tempestade, evento cuja formação é influenciado por muitos fatores
Imagem: Getty Images/iStockphoto

3 – Se não conseguimos prever com exatidão como será o tempo amanhã, como podemos antever o clima daqui a 100 anos?

Quem não conhece essa situação: a previsão era de um fim de semana com muito sol, mas, no final das contas, ele foi chuvoso. Em princípio, as previsões meteorológicas são diferentes dos modelos climáticos. O tempo é referente a um período mais curto, caótico e influenciado por muitos fatores. Por outro lado, o clima é referente a um prazo mais longo, e eventos caóticos são estatisticamente equilibrados.

Portanto, reconhecer uma tendência climática ao longo de várias décadas – no caso de um aumento de temperatura causada por gases de efeito estufa – é mais fácil do que prever o tempo com precisão de horas. Segundo o IPCC, a confiabilidade das previsões climáticas nos últimos anos melhorou significativamente. Muitos modelos climáticos foram desenvolvidos e são capazes de fazer uma simulação mais completa.

Céticos 4 - Farooq Khan/EFE - Farooq Khan/EFE
Menino se refresca em cascata na cidade de Srinagar, na Índia
Imagem: Farooq Khan/EFE

4 – Ok, então a temperatura está aumentando em todo o mundo em apenas alguns graus Celsius. Isso é realmente tão ruim? Afinal, a Terra já lidou com muitas mudanças. Dois ou três graus a mais não parece muito.

Algumas pessoas acham até melhor ter mais verão e menos inverno. Mas esses graus Celsius de diferença podem ter consequências extremas para o clima global. De acordo com o IPCC, sem uma proteção ambiciosa do clima, a temperatura média global poderia subir 5,4 graus até o final do século 21 em comparação ao período pré-industrial. Isso significaria mais eventos climáticos extremos, como secas e precipitações intensas.

Assim, as geleiras continuariam a derreter, o nível do mar subiria e muitas regiões habitadas pelos humanos seriam inundadas. Os oceanos se tornariam mais quentes e ácidos, e a flora e fauna sofreriam. A Terra é um sistema flexível. No passado, ela e seus habitantes já tiveram que se adaptar a notórias mudanças. Mas a capacidade de mudar também tem seus limites: a mudança climática antropogênica é muito mais rápida do que a capacidade de adaptação da natureza a essas alterações causadas pelos homens.