Para biólogos, Nordeste levará décadas para repor danos do óleo derramado
Resumo da notícia
- Há um mês, manchas negras chegam ao litoral do Nordeste
- Material é petróleo cru, segundo análises
- Biólogos estimam que natureza precisará de décadas para se recuperar
- Além do prejuízo ambiental, economia, turismo e alimentação devem ser afetados
O derramamento de petróleo cru no Nordeste preocupa autoridades e ambientalistas, que ainda não conseguem medir o impacto do desastre ambiental, mas já projetam que serão necessárias décadas para que fauna e flora atingidas se recuperem.
O material tóxico chegou em Áreas de Proteção Ambiental (APAs) como a de Santa Isabel, em Pirambu (SE), Piaçabuçu (AL) e Delta do Parnaíba (PI), além dos parques nacionais de Jijoca de Jericoacoara (CE) e Lençóis Maranhenses (MA).
Segundo último boletim do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), até agora foram atingidas 133 praias em 61 municípios dos nove estados do nordeste,
O biólogo Cláudio Sampaio, professor dos cursos de biologia e engenharia de pesca, diz que foram afetadas áreas já degradadas pela ação humana, o que potencializará os efeitos do derramamento.
"Esses ambientes já estão fragilizados por conta de uma série de impactos, como poluição, aquecimento global, introdução de espécies exóticas, turismo desordenado e a sobre pesca, gente pescando além da capacidade dos ambientes para eles se recomporem", diz Sampaio.
Ele afirma que "o ambiente se refaz, mas uma vez contaminado pode demorar décadas para se recuperar".
Impactos socioeconômicos
Além do desastre ambiental, especialistas alertam para as consequências no turismo, na economia e até na alimentação.
Isso porque foram afetadas "áreas de manguezal, as gramas marinhas, que são importantes áreas de reprodução para diversas espécies de valor comercial, ecológico e turístico, como peixes, lagostas, camarões, peixe-boi, tartarugas", diz Sampaio.
Segundo a Adema (Administração Estadual do Meio Ambiente), em Sergipe, caranguejos, guaiamuns, aratus, morreram ao ter o habitat invadido pelo óleo. "A substância é densa e já atinge diretamente a sobrevivência dos animais marinhos", explica a Adema,.
A bióloga Natali Ristau, fundadora e presidente do Instituto Amares, que monitora a vida marinha no Maranhão, também afirma que passado um mês do surgimento das manchas até agora "estamos vendo uma pequena fração do problema". Ela diz que o petróleo chegou a toda costa do Maranhão e está presente tanto em mar aberto quanto nas areias das praias.
"Sabemos que mesmo pequenas partículas podem ser letais se ingeridos pelos animais. O material é tóxico e se tratamento da veiculação pelo mar, podemos esperar uma diluição e dissipação de alguns compostos químicos, e uma consequente absorção por organismos filtradores, como ostra e outros mariscos. Esse é apenas um dos problemas. Pensando nisso, é possível imaginar o efeito em cadeia para os animais e para o homem que utiliza os recursos pesqueiros para a sobrevivência", observa a bióloga.
Proteção dos rios
O governo de Sergipe anunciou que está adotando medidas para proteger as águas fluviais, pois manchas oleosas foram encontras próximos à foz de rios importantes, como São Francisco e do Jacaré. Em breve serão instaladas boias absorventes para que o óleo não invada os rios."Acionamos os órgãos e empresas que possuem maior expertise no assunto para a contenção e não contaminação dos nossos rios, uma vez que envolve o abastecimento humano", afirma o secretário Estadual do Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade, Ubirajara Barreto.
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