Morri, mas passo bem; entre mortos e feridos seguimos ao 2º turno
Mais candidatos e menos votos. Recorde de candidaturas e de abstenções traz muitas surpresas nestas eleições.
Foi uma apuração de muita emoção. Por conta de uma falha que manteve apenas 0,39% das urnas apuradas por quatro horas e por conta de dois fatores que estavam subestimados: fim da coligação proporcional e abstenção.
O segundo fator foi agravado com a pandemia, mas vem crescendo e levou João Doria (PSDB), que teve menos votos do que os brancos, nulos e abstenções somados, a ganhar de forma inédita no primeiro turno como prefeito de São Paulo. Neste ano, batemos novo recorde desde 2000.
Mas o que realmente fez a diferença foi o fim da coligação na eleição proporcional. Os partidos puderam se coligar para prefeito, mas a chapa de vereadores permaneceu pura, a comum junção de diversos partidos para disputarem juntos o quociente de aproximadamente 100 mil votos não aconteceu.
Agora, para garantir esses votos, as siglas correram em meio à pandemia para montar chapas competitivas e o mais perto possível do limite de 83 candidatos por partido. O resultado foi um crescimento de 52% em relação a 2016.
Esse fenômeno deixou políticos como Police Neto (quatro mandatos) e Soninha Francine (dois mandatos), considerados bons vereadores e do diálogo, de fora da composição da Câmara em 2021. E surpreendeu impedindo a entrada de nomes como o de Malu Molina, conhecida como a "candidata da Tabata Amaral", cinco dos seis membros da Bancada Ativista e tantas outras lideranças da renovação política.
A esquerda tradicional também sentiu. O PT e PSDB têm as maiores bancadas, Eduardo Suplicy continua sendo o vereador mais votado, mas perdeu quase metade do eleitorado. Apostas ficaram de fora, como Carmen Silva, líder do MSTC, Luna Zaratini e Nabil Bonduki, ex-vereador e relator do atual Plano Diretor.
As candidaturas coletivas ganharam espaço. PSOL elegeu a Bancada Feminista e o Quilombo Periférico. O partido triplicou o número de cadeiras e passa a ser a terceira maior bancada.
Erika Hilton chegou como a mulher mais votada e irá dividir a pauta de pessoas transgêneras com Thammy Miranda (filho da Gretchen), que entrou pelo PL. É inédito qualquer Casa Legislativa do país ter duas pessoas transgêneras.
Arthur do Val Mamãe Falei fez o papel de puxador. Fernando Holiday, também do MBL, eleito em 2016 pelo DEM, neste ano foi com Patriota e cresceu no número de votos. O Patriota, que não passou a cláusula de barreira em 2018, agora se recupera e conquista três cadeiras.
O PSB de Márcio França encolheu, Camilo Christófaro e Eliseu Gabriel entraram, mas tiveram menos votos do que em 2016. A candidatura de Joice Hasselmann também repercutiu muito pouco, mas conseguiu passar de zero para uma cadeira para o PSL.
O Novo, apesar de toda confusão com Filipe Sabará, teve uma excelente votação para o tamanho da chapa de apenas 35 candidatos, fechando na reeleição de Janaína Lima e na eleição de Cris Monteiro.
O número de mulheres mudou muito pouco, foi de 11 para 13 eleitas. A renovação no geral também foi bem menos do que a esperada. Em 2018, a onda de novas candidaturas representou quase 50% do Congresso. A Câmara da maior capital do Brasil ficou abaixo dos 38%. PDT, PCdoB e Rede continuaram de fora.
O centrão se consolida com o crescimento do DEM, Podemos e MDB e, com os partidos que representam esse campo no Congresso —Republicanos, PL, PP, PTB e PSD—, soma 23 das 55 cadeiras.
São Paulo aguarda 11 dias para o segundo turno mais curto da história. Bruno Covas e Guilherme Boulos disputam os apoios. O que Márcio França vai fazer? Apoios como os de Alessandro Molon, do PSB-RJ, e de Ciro Gomes, do PDT, já foram declarados a Boulos.
Bruno Covas, que já contava com 11 partidos em sua aliança, tem lideranças que vão do PSC ao PV, passando pelo DEM, Podemos, MDB, Progressistas, PL, PROS e Cidadania. Ele aposta em trazer o Republicanos e os votos de Russomanno.
O PSOL fez uma coligação menor para o primeiro turno, com PCB e UP, mas já nas primeiras 24 horas teve apoio do PT por meio de Fernando Haddad, Suplicy e Jilmar Tatto, além do PCdoB de Orlando Silva e Leci Brandão.
Independentemente das alianças, a boa notícia é que a democracia e o bom senso prevaleceu e Jair Bolsonaro está fora do segundo turno em São Paulo. Covas e Boulos dispensam seu apoio. A disputa continua num campo agora republicano, dentro dos valores democráticos e com diálogo. São Paulo ganha neste ponto.
A Rede, após importantes discussões programáticas, escolheu apoiar o projeto de Boulos e Luiza Erundina, que resgata o compromisso com quem mais precisa, garante oportunidades iguais para paulistanos e paulistanas e permite avançarmos para um futuro mais justo e sustentável. Acreditamos que esta é a alternativa que melhor proporciona uma possibilidade de conectarmos a política com as pessoas pela esperança.
* Duda Alcantara é presidente municipal da Rede Sustentabilidade, cofundadora do Vote Nelas, da Mandato Ativo e membro de diferentes movimentos de renovação política.
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