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Opinião: Taiwan é crucial para a luta global contra o crime cibernético

Golpes cibernéticos cresceram desde o início da pandemia - iStock
Golpes cibernéticos cresceram desde o início da pandemia Imagem: iStock

Ming-Chao Huang*

Especial para o UOL

08/01/2021 19h18Atualizada em 08/01/2021 19h18

Desde quando surgiu, no final de 2019, a covid-19 evoluiu para uma pandemia global. De acordo com estatísticas da Organização Mundial da Saúde, até o último dia 7 de janeiro, havia mais de 85,9 milhões de casos confirmados da doença e mais de 1,8 milhão de mortes relacionadas ao novo coronavírus em todo o mundo.

Tendo experimentado e combatido a epidemia de Sars em 2003, Taiwan fez preparativos antecipados para enfrentar a covid-19, realizando uma triagem inicial de estrangeiros que chegavam, fazendo inventário dos estoques de suprimentos antipandêmicos e formando uma equipe nacional de produção de máscaras. A resposta rápida do governo e a cooperação do povo taiwanês ajudaram a conter, de maneira eficaz, a propagação da doença.

A comunidade internacional tem investido seus recursos na luta contra a covid-19 no mundo físico, mas o mundo cibernético também está sob ataque e enfrenta grandes desafios.

Dentre as tendências de ataques cibernéticos, está o "Relatório Semestral de 2020", publicado em agosto de 2020 pela Check Point Software Technologies, uma conhecida empresa de segurança de TI, apontando que os ataques de phishing e malware relacionados à covid-19 aumentaram, drasticamente, de menos de 5 mil por semana, em fevereiro, para mais de 200 mil, no final de abril.

Ao mesmo tempo que a covid-19 afetou, seriamente, a vida e a segurança das pessoas, o crime cibernético está minando a segurança nacional, as operações comerciais e a segurança de informações pessoais e propriedade, causando danos e perdas significativas.

O sucesso de Taiwan em conter a covid-19 ganhou aclamação mundial. Diante de ameaças cibernéticas e desafios relacionados, Taiwan promoveu, ativamente, políticas construídas em torno do conceito de que a segurança da informação é segurança nacional. Aprimorou os esforços no treinamento de especialistas em segurança de TI e desenvolveu indústrias de segurança e tecnologias inovadoras. As equipes nacionais de Taiwan estão sempre presentes quando se trata de prevenção de doenças ou crimes cibernéticos.

O crime cibernético não conhece fronteiras

Nações em todo o mundo estão lutando contra a disseminação amplamente condenada de pornografia infantil, as violações dos direitos de propriedade intelectual e o roubo de segredos comerciais. A fraude e o ransomware de emails comerciais também geraram grandes perdas financeiras entre as empresas, enquanto as criptomoedas tornaram-se uma via para transações criminosas e lavagem de dinheiro. Uma vez que qualquer pessoa com acesso online pode se conectar a qualquer dispositivo habilitado para internet no mundo, os sindicatos do crime estão explorando o anonimato e a liberdade que isso proporciona para ocultar suas identidades e se envolverem em atividades ilegais.

A força policial taiwanesa tem uma unidade especial para investigar crimes de tecnologia, composta por investigadores profissionais em crimes cibernéticos e também criou um laboratório forense digital que atende aos requisitos da ISO 17025. O crime cibernético não conhece fronteiras; então, Taiwan espera trabalhar com o resto do mundo, na luta conjunta contra o problema.

Compartilhamento de inteligência é essencial para Taiwan

Em agosto de 2020, o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, o Federal Bureau of Investigation e o Departamento de Defesa divulgaram o Malware Analysis Report, identificando uma organização de hackers patrocinada pelo estado que, recentemente, usou uma variante de malware de 2008 conhecida como Taidoor para lançar ataques.

Numerosas agências governamentais e empresas de Taiwan já foram alvos de tais ataques. Em um relatório de 2012 sobre esse malware, a Trend Micro Inc. observou que todas as vítimas eram de Taiwan e que a maioria era de organizações governamentais.

Todos os meses, o setor público de Taiwan enfrenta um número extremamente alto de ataques cibernéticos para além das fronteiras de Taiwan, entre 20 e 40 milhões de ocorrências. Sendo o alvo prioritário de ataques patrocinados pelo estado, Taiwan conseguiu rastrear suas fontes e métodos e o malware usado.

Na luta contra o crime cibernético, Taiwan pode ajudar

Ao compartilhar inteligência, Taiwan poderia ajudar outros países a evitar ameaças potenciais e facilitar o estabelecimento de um mecanismo de segurança conjunto para combater os agentes estatais das ameaças cibernéticas.

Além disso, como os hackers costumam usar servidores de comando e controle para definir pontos de interrupção e, assim, evitar investigações, a cooperação internacional é essencial para reunir um quadro abrangente das cadeias de ataque.

Em julho de 2016, um ataque de hackers sem precedentes ocorreu em Taiwan, quando NT$ 83,27 milhões foram retirados, ilegalmente, dos caixas eletrônicos do First Commercial Bank. Em uma semana, a polícia recuperou NT$ 77,48 milhões dos fundos roubados e prendeu três membros de um sindicato de hackers: Andrejs Peregudovs, letão; Mihail Colibaba, romeno; e Niklae Penkov, moldavo, que, até então, permaneciam intocados pela lei.

O incidente chamou a atenção internacional. Em setembro do mesmo ano, um assalto semelhante a um caixa eletrônico ocorreu na Romênia. Acredita-se que o suspeito Evgenii Babii esteja envolvido em ambos os casos, levando os investigadores a concluir que os roubos foram cometidos pelo mesmo sindicato.

A convite da Agência da União Europeia para a Cooperação Policial (Europol), o Criminal Investigation Bureau (CIB) de Taiwan visitou seu escritório três vezes para trocar informações e provas. Posteriormente, as duas entidades estabeleceram a Operação Taiex.

De acordo com este plano, o CIB forneceu provas importantes recuperadas dos telefones celulares dos suspeitos para a Europol, que analisou as provas e identificou o suposto mentor dos ataques, conhecido como Dennys, que então estava baseado na Espanha. Isso levou a sua prisão pela Europol e pela polícia espanhola, pondo fim ao sindicato dos hackers.

A luta contra o crime cibernético requer cooperação internacional e Taiwan deve trabalhar em conjunto com outros países. Taiwan pode ajudar esses outros países e está disposta a compartilhar suas experiências para tornar o ciberespaço mais seguro e realizar uma Internet verdadeiramente sem fronteiras.

Peço que apoie a participação de Taiwan na Assembleia-Geral anual da Interpol como Observador, bem como nas reuniões, mecanismos e atividades de treinamento da Interpol. Ao expressar seu apoio a Taiwan em fóruns internacionais, você pode desempenhar um papel crítico no avanço do objetivo de Taiwan participar de organizações internacionais, de maneira pragmática e significativa. Na luta contra o crime cibernético, Taiwan pode ajudar!

*Ming-Chao Huang é comissário do Departamento de Investigação Criminal, Agência Nacional de Polícia, Ministério do Interior de Taiwan