Odebrecht entrega e-mails que confirmariam reformas em sítio usado por Lula
Bernardo Barbosa
Do UOL, em São Paulo
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5.fev.2016 - Jorge Araujo/Folhapress
Vista do sítio supostamente reformado por empreiteiras para Lula
O empresário Marcelo Odebrecht entregou à Justiça nesta quarta-feira (28) uma série de e-mails que, segundo sua defesa, mostram que a empreiteira fez obras em um sítio de Atibaia (SP) em benefício do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As reformas são assunto de um processo da Operação Lava Jato no qual Lula é acusado pelo MPF (Ministério Público Federal) de ter recebido propina de R$ 1,02 milhão por meio das obras, pagas pelas construtoras Odebrecht, OAS e Schahin. A vantagem indevida seria oriunda da participação dessas empresas no esquema de corrupção na Petrobras desvendado pela Lava Jato.
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Segundo o advogado de Odebrecht, Eduardo Sanz, os e-mails estavam em um laptop apreendido pela Polícia Federal em junho de 2015, quando o empresário foi preso. Odebrecht só teria acessado novamente o conteúdo a partir do fim do ano passado, quando passou para prisão domiciliar e recebeu uma cópia dos arquivos.
O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse em nota que "os supostos e-mails juntados hoje por Marcelo Odebrecht em nada abalam o fato de que o ex-presidente jamais solicitou ou recebeu da Odebrecht ou de qualquer outra empresa algum benefício ou favorecimento."
Zanin informou que pedirá a verificação da "autenticidade e veracidade de todo material apresentado", que seria contraditório com o depoimento de Marcelo Odebrecht na delação premiada, "bem como em seu depoimento pessoal em outra ação."
"O cliente está satisfeito"
Em uma das mensagens, datada de 14 de janeiro de 2011, os ex-funcionários da Odebrecht Emyr Diniz Costa Júnior e Carlos Armando Paschoal, também réus no processo sobre o sítio, conversam sobre o andamento das obras em um e-mail cujo assunto é "Reforma Atibaia". Costa diz a Paschoal que "o Cliente está satisfeito com tudo que foi feito no exíguo prazo e fortemente atrapalhado pelas últimas chuvas".
"O mais importante [é] que estamos tirando nosso pessoal de lá amanhã", relata Costa.
Em seguida, Paschoal encaminha a mensagem para Marcelo Odebrecht e outros dois executivos da empresa, Alexandrino Alencar e Benedicto Barbosa da Silva Júnior. Em nenhum momento o nome do "Cliente" é mencionado. Todos os integrantes da companhia que participaram desta conversa fecharam acordo de delação premiada.
Dias antes, em 30 de dezembro de 2010, Paschoal escreveu a Marcelo Odebrecht um e-mail com o assunto "Encontro hoje com PR", dizendo: "A reforma/ampliação de Atibaia está no cronograma. A partir da próxima semana trabalharemos em 2 turnos e dia 15 será entregue."
Em interrogatório em outro processo da Lava Jato, Lula confirmou que se reuniu em 30 de dezembro de 2010 com Emílio Odebrecht, pai de Marcelo, e a ex-presidente Dilma Rousseff --que tomaria posse dois dias depois. Segundo Lula, Emílio pediu a conversa apenas para avisar que estava passando o comando dos negócios da família para Marcelo.
Já segundo o ex-ministro Antonio Palocci, foi nesta ocasião que o PT e a Odebrecht firmaram um "pacto de sangue" envolvendo um "pacote de propinas" de R$ 300 milhões para o partido e Lula. O sítio em Atibaia faria parte do "pacote", disse Palocci.
Datas das reformas
As datas dos e-mails e o conteúdo das conversas têm relação com informações prestadas pelo engenheiro Frederico Barbosa, ex-funcionário da Odebrecht, que ficou encarregado de comandar as reformas no sítio.
Em depoimento à Justiça no começo do mês como testemunha da acusação, Barbosa disse que as obras da Odebrecht em Atibaia começaram no fim de dezembro de 2010 --último mês do segundo mandato de Lula-- e se estenderam por quatro semanas, até meados de janeiro do ano seguinte. O engenheiro estimou que a empresa gastou cerca de R$ 500 mil com os trabalhos no sítio e afirmou não ter informações sobre se a Odebrecht seria paga pelas reformas.
Barbosa também deu detalhes sobre os cuidados tomados para que não ficasse claro que a Odebrecht estava tocando obras no local. Ele disse ter sido orientado por Emyr Diniz Costa Júnior a não formalizar contratos ou pagamentos, que eram quase sempre feitos sem nota fiscal e em dinheiro vivo. Operários da Odebrecht no local usavam uniformes sem o logotipo da empresa.
Quando o engenheiro depôs, a defesa de Lula disse que Barbosa "já apresentou diversas versões sobre o tema" e reconheceu nunca ter recebido 'qualquer orientação" do ex-presidente "a respeito das supostas obras realizadas em Atibaia".
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