Defesa de Lula critica "vontade popular"; PGR cita decisão do STF de 2016

Felipe Amorim e Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

O advogado José Roberto Batochio, um dos defensores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou na sessão desta quinta-feira (22) no STF (Supremo Tribunal Federal) que não cabe ao Judiciário ir contra o que dizem as leis brasileiras para determinar a prisão após a segunda instância com base numa suposta vontade popular.

"Não é dado ao Poder Judiciário, nem daqui e nem de nenhum lugar do mundo, entrar a legislar para atender a este ou aquele pragmatismo, a esta ou àquela conveniência social de ocasião", disse.

Segundo Batochio, a Constituição Federal e o Código de Processo Penal determinam que um condenado só pode ser preso após esgotados todos os recursos judiciais.

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"O presidente não está acima da lei. Não pode estar. Ninguém está acima da lei. Ninguém pode estar acima da lei, mas ninguém pode ser subtraído à sua proteção. Ninguém pode ser retirado da proteção do ordenamento jurídico", afirmou.

"Essa maré montante de autoritarismo que se hospeda em determinados setores da burocracia do Estado não é um fenômeno que ocorre apenas no Estado brasileiro. Preocupantemente, isso está a suceder em todo o planeta", disse.

O advogado pediu que, caso o Supremo não atenda a íntegra do pedido da defesa, determine que uma eventual prisão do petista ocorra somente após o julgamento em definitivo pelo STF da questão sobre prisão após segunda instância, o que deve ocorrer quando forem julgadas duas ações relatadas pelo ministro Marco Aurélio.

As ações, duas ADCs (Ações Declaratórias de Constitucionalidade), já estão prontas para julgamento, mas a presidente do STF, Cármen Lúcia, tem resistido em incluir o tema na pauta de julgamentos.

"E se este plenário declarar a constitucionalidade do artigo 383 do Código de Processo Penal (alvo das duas ADCs), como é que nós vamos justificar a prisão de um ex-presidente da República? Por um descuido, por uma vacilação? Porque este açodamento em prender? Por que esta volúpia em encarcerar? O que justifica isso?", questionou Batochio.

Contra "impunidade", PGR defende prisão após 2ª instância

Decisão de 2016 sustenta prisão, diz PGR

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu que a Corte negue o pedido da defesa, defendendo a fixação do entendimento em prol prisão após condenação em 2ª instância pelo STF, em 2016, como uma "decisão memorável" que marca a história do Supremo. Para ela, a decisão do Supremo foi "um marco importante para fazer cessar a impunidade no país".

"A decisão é recente, tem dado segurança jurídica, tem contribuído para dar efetividade à persecução penal que tem se estabelecido no país, com todas as garantias de ampla defesa e contraditório."

Ela afirmou ainda que a decisão de hoje invoca princípios e valores constitucionais da mais alta relevância "numa democracia que, ainda que jovem, precisa resistir para continuar sobrevivendo".

"Estamos arguindo a necessidade de respeitar nesse habeas corpus esse precioso precedente", acrescentou, que rebateu o argumento da defesa de Lula dizendo que a decisão do TRF-4 de determinar a execução provisória da pena não compromete o princípio constitucional da presunção de inocência.

No início do julgamento desta quinta, o ministro Luiz Edson Fachin, relator do caso no Supremo, leu o relatório do processo, apontando que a defesa de Lula apresentou o pedido em 2 de fevereiro. O ministro lembrou que negou o habeas corpus em caráter liminar (temporário) sete dias depois.

O relator da ação explicou ainda que os advogados do petista apresentaram aditamento ao pedido após a rejeição de habeas corpus semelhante pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) no último dia 6.

Entenda o julgamento

O STF julga hoje recurso da defesa de Lula contra a possibilidade de o ex-presidente ser preso com o fim do julgamento do processo contra ele pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região).

O TRF-4 anunciou que julgará os recursos do petista na próxima segunda-feira (26), em Porto Alegre.

Caso Lula seja derrotado no novo julgamento do TRF-4, ele pode ter uma ordem de prisão expedida contra ele. Isso porque não há mais possibilidade de a defesa apresentar recursos que modifiquem a decisão do tribunal.

Os três desembargadores da 8ª Turma do TRF-4 condenaram Lula por unanimidade ao julgar recurso do ex-presidente contra a condenação que lhe foi imposta pelo juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, no processo sobre o apartamento tríplex do Guarujá (SP).

Ao confirmar a condenação de Moro, o TRF-4 decidiu que o cumprimento da pena poderia ter início tão logo fosse julgado o último recurso da defesa, o que deve acontecer nesta segunda-feira (26).

Por ter tido a condenação confirmada em um tribunal de segunda instância, o TRF-4, Lula se enquadra no entendimento atual do STF de que condenados em segunda instância já podem começar a cumprir pena de prisão. Resta apenas o julgamento do recurso na segunda-feira para que o TRF-4 encerre a análise do processo de Lula.

O que pode acontecer

Caso a defesa de Lula saia vitoriosa do STF hoje, isso garante que o petista poderá recorrer em liberdade da condenação pelo TRF-4.

Ou seja, o ex-presidente só poderá ser preso após serem julgados recursos a todas as instâncias da Justiça, o que pode empurrar o desfecho do caso para o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e para o próprio STF.

Se a defesa de Lula não tiver sucesso no recurso julgado hoje, ele poderá ter a prisão decretada poucos dias depois de concluído pelo TRF-4 o julgamento de seu recurso.

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