Carta de parlamentares do PT sobre Lula é reação à fala de governadores

Bernardo Barbosa e Gustavo Maia

Do UOL, em São Paulo e Brasília

  • Cláudio Kbene- 16.abr.2018/Divulgação/Facebook Lula

    Pimenta, líder do PT na Câmara, e Lindbergh, líder do PT no Senado, em Curitiba

    Pimenta, líder do PT na Câmara, e Lindbergh, líder do PT no Senado, em Curitiba

As recentes declarações de governadores petistas sobre possíveis alternativas à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) motivaram as bancadas do partido no Congresso a publicarem uma nota nesta quinta-feira (17) reafirmando o nome do ex-presidente para as eleições deste ano, apurou o UOL.

Na nota, os deputados federais e senadores do PT dizem que não podem "fazer concessões na luta em defesa da inocência e da manutenção dos direitos políticos de Lula" e que, "nesse cenário, a candidatura Lula se impõe ao partido e é a melhor alternativa à nação".

Segundo eles, "num momento em que o país se encontra atolado numa crise econômica, política e institucional sem precedentes, o ex-presidente é o nome com amplo apoio popular capaz de criar as condições para a superação da atual turbulência e garantir melhores dias para todos os brasileiros." 

Preso desde abril e potencialmente inelegível pelos critérios da Lei da Ficha Limpa, Lula é líder nas pesquisas de intenção de voto. Em carta enviada recentemente de dentro da cadeia, o ex-presidente deixou claro que, para ele, abrir mão da candidatura seria o mesmo que assumir que cometeu um crime.

"Não adianta se enganar", disse governador

Dois parlamentares confirmaram à reportagem, sob condição de anonimato, que a nota das bancadas é uma reação a entrevistas concedidas por governadores como Camilo Santana (Ceará), Wellington Dias (Piauí), e Rui Costa (Bahia), além do ex-governador baiano Jaques Wagner, em que o apoio a Ciro Gomes (PDT) como cabeça de chapa foi apoiado abertamente ou ao menos considerado uma possibilidade.

Santana foi o mais incisivo deles. Disse estar convicto de que "não vão deixar" Lula ser candidato e que, neste cenário, o PT deveria apoiar Ciro. "Não adianta a gente se enganar", afirmou em entrevista ao "Estadão/Broadcast". 

Wellington Dias, por sua vez, declarou em entrevista ao UOL que Ciro é um nome do campo de esquerda e não pode ser descartado, mas afirmou que a estratégia de manter Lula como candidato está correta.

Jaques Wagner também não abriu mão de defender a candidatura de Lula, mas disse que, se o ex-presidente não puder disputar a eleição, o PT poderia ocupar a vice-presidência em uma chapa liderada por um nome de outro partido --inclusive Ciro Gomes.

Já em março, Rui Costa defendia que o PT considerasse apoiar um nome de outra sigla caso Lula não possa se candidatar.

Defensores do eventual apoio a candidaturas de outro partido no campo nacional demonstram resistência ao possível isolamento dos petistas no plano estadual.

Camilo Santana, por exemplo, disse que o momento é de "desprendimento" e que "quem pensa de verdade no partido, na sua história de luta, de conquista, não pode apostar no isolamento suicida".

Governadores teriam "queimado largada"

Segundo um auxiliar petista ouvido pela reportagem sob condição de não ter seu nome revelado, Wellington Dias falou de forma bastante equilibrada, mas Jaques Wagner, Rui Costa e Camilo Santana "queimaram a largada".

Assim, de acordo com esta mesma fonte, os parlamentares petistas entendem que se fez necessário puxar "um freio de arrumação" e que "é hora de manter Lula, e não de desconstruí-lo".

O deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP), que liderou a bancada do partido no ano passado, disse por sua vez que o comunicado "não exatamente" é uma reação às falas dos governadores. "Foi a reafirmação da posição da bancada", declarou.

A nota dos parlamentares vem a público no momento em que governadores petistas estavam reunidos em Belo Horizonte para discutir o cenário político após a prisão de Lula. Boa parte da inquietação deles com a candidatura de Lula tem a ver com o risco de não terem um palanque presidencial forte para buscar a reeleição.

O PT nega que haja qualquer discussão sobre um "plano B" para as eleições presidenciais, mas os nomes de Wagner e do ex-ministro Fernando Haddad, que coordena o programa de governo do partido, já foram ventilados na imprensa como alternativas.

No entanto, o desempenho de Wagner e Haddad em pesquisas é ínfimo se comparado ao de Lula: nos cenários em que foram testados, não passam de 2% das intenções de voto.

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