Na prisão há 3 meses, Lula ainda dá ordens na movimentação política do PT

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

  • Marcelo Justo/UOL

    7.abr.2018 - O ex-presidente Lula discursa para a militância em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC horas antes de se entregar à PF

    7.abr.2018 - O ex-presidente Lula discursa para a militância em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC horas antes de se entregar à PF

Preso há três meses na sede da PF (Polícia Federal) em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca se manter como liderança do partido e do campo da esquerda apesar das limitações.

Condenado em segunda instância no caso do tríplex no Guarujá (SP), Lula está, em tese, inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Mas nem o imbróglio jurídico em torno de sua eventual candidatura e o fato de estar preso o impedem de ainda dar ordens na movimentação política do partido –que insiste que irá registrar a candidatura de Lula à Presidência no dia 15 de agosto no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Na última terça-feira (3) --mesmo dia em que, por meio de carta, Lula reafirmou sua candidatura e criticou o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), acusando-o de "manobra" por remeter ao plenário da Corte um recurso contra sua condenação --, o PT informou que o ex-presidente indicou cinco nomes para coordenar sua campanha para as eleições deste ano. Entre eles, José Sergio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, o ex-ministro Ricardo Berzoini e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.

O anúncio dos nomes indicados por Lula foi feito à Executiva Nacional do PT pela presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann. Designada por Lula como sua porta-voz horas antes de ser preso, no dia 7 de abril, a senadora é a principal responsável por repassar as orientações dadas por ele de dentro da PF. 

Gleisi tem repudiado qualquer insinuação a respeito de um plano B do PT para a disputa presidencial em outubro. A senadora, que faz parte do chamado núcleo duro do PT, já repreendeu declarações de correligionários como o ex-governador da Bahia Jaques Wagner e o atual governador do estado, Rui Costa, que abordaram, em entrevistas à imprensa, a possibilidade de o ex-presidente Lula não poder concorrer nas eleições.

"Mas ele não sabe que o Ciro [Gomes] não passa no PT nem com reza brava?", disse ao saber de uma declaração de Wagner de que o PT poderia indicar um vice para uma chapa com o pré-candidato do PDT.

O próprio Lula enviou, em maio, uma carta para a senadora validando sua postura combativa aos debates sobre plano B ou um apoio do PT a Ciro. No documento, Lula diz saber o quanto Gleisi tem sido "atacada" por se manter fiel à candidatura do ex-presidente.

Haddad: advogado e coordenador

Também nesta semana, Lula e o PT deram mais um importante passo de olho na eleição com a entrada do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad na defesa jurídica do ex-presidente.

Coordenador-geral do programa de governo de Lula, Haddad agora terá acesso livre ao petista na prisão. Isso porque, após pedido feito por Lula, o ex-prefeito de São Paulo se inscreveu como seu advogado de defesa. Não há expectativa, no entanto, para que ele atue nas ações penais que o petista responde na Justiça, mas sim em questões políticas e de campanha.

"Ele disse: 'Haddad, você tem que estar aqui todos os dias, venha para cá para a gente conversar, entra aí como advogado. Nós temos que fechar esse plano de governo para mostrar para o Brasil o que estamos apresentando", relatou Gleisi, que visitou o ex-presidente junto a Haddad no dia 28.

Nesta sexta (6), o ex-prefeito visitou Lula pela primeira vez como seu advogado.

Visitas na PF

No ranking de encontros com Lula, quem lidera o placar de visitas ao ex-presidente na sede da PF em Curitiba, além de parentes e advogados, é Gleisi Hoffmann. Desde o dia 3 de maio, quando Lula ganhou autorização para receber, às quintas-feiras, duas pessoas que não sejam de sua família, a senadora e presidente do partido foi a seu encontro quatro vezes.

Em seguida aparecem Haddad, com três visitas - duas como amigo e uma como advogado -, e o Jaques Wagner, com duas.

Ao sair de uma das visitas, no dia 21 de junho, Gleisi disse ter ido para "despachar para a campanha" com Lula. "Ele pediu e deu orientações sobre várias questões da campanha", disse. Ela também afirmou que Lula deu orientações de como montar um calendário de lançamento nos estados.

"Vamos começar os lançamentos da pré-candidatura dele pelos estados, a gente vai fazer um calendário para ele aprovar. Enfim, ele está cheio de ideias, deu um monte de orientações", afirmou.

Ao todo, 40 pessoas já visitaram Lula na PF: sete líderes religiosos, que podem vê-lo às segundas-feiras, 11 parlamentares da Comissão de Direitos Humanos do Senado, outros oito membros da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara e 14 pessoas ligadas a Lula ou ao PT. Entre elas, a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente uruguaio José "Pepe" Mujica. Segundo o PT, é o próprio Lula que escolhe quem irá visitá-lo a cada semana.

Nenhum pré-candidato, nem mesmo os que defendem que Lula possa disputar a eleição, como Manuela D'Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (PSOL) e Ciro Gomes (PDT), encontraram-se com o petista, embora os três tenham estado em Curitiba nas primeiras semanas de prisão.

Quem visita Lula afirma que ele está acompanhando as notícias –o ex-presidente obteve autorização para ter uma televisão em sua cela-- e se diz "preocupado" com a situação do país. Além de narrar comentários de Lula sobre os últimos acontecimentos, os visitantes afirmam que o petista diz ser "candidatíssimo".

Além disso, começam a partir da carceragem da PF as primeiras orientações ao PT sobre como proceder a respeito de apoios e alianças nas eleições. Na última quinta (5), Lula enviou um recado à militância petista de Pernambuco através de João Pedro Stédile, diretor do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra): "Se eu estivesse no PT de Pernambuco, eu já estaria em campanha pela Marília Arraes", teria dito o petista sobre a disputa regional do partido entre o apoio à candidatura da vereadora ou à aliança entre PT e PSB.

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